
Ideia é trocar a insegurança na Menelick de Carvalho pelo uso frequente, com atividades culturais (Olavo Prazeres/17-12-15)
Tarde de sol, mas a Praça Doutor José de Castro Barbosa, na Vila Ideal, Zona Sudeste, estava deserta. No último dia 12, a Tribuna visitou o local e ouviu de moradores que o espaço, há muito tempo, deixou de ser usufruído pela comunidade. Os canteiros estão tomados pelo mato, assim como o parquinho das crianças. Entretanto, é depois do cair da noite, quando o local fica quase na escuridão, que começam a surgir os primeiros frequentadores daquela área. Quem mora nas proximidades diz que a praça está perdendo terreno para quem vende, compra e consome drogas. “As copas das árvores estão densas, o que impede a visibilidade no interior da praça, que vem servindo também para prostituição”, afirma uma dona de casa, de 38 anos, que prefere não ser identificada. Na visão dos moradores, o espaço precisa de melhor conservação, além de projetos de ocupação. “Se aqui tivessem atividades esportivas e culturais, talvez a realidade fosse outra”, argumenta uma estudante de 19 anos.
A situação desta praça não é isolada. Nos últimos meses, atendendo a solicitação de leitores, a Tribuna percorreu praças dos bairros Linhares, Aracy, Vitorino Braga, Grama, Santa Cruz e São Mateus e constatou várias deficiências nestes espaços, como buracos, falta de iluminação, acúmulo de lixo, insegurança, água empoçada, quadras abandonadas e casos de vandalismo. Em julho, quando o jornal divulgou a reportagem sobre o problema, a Prefeitura informou que todas as situações seriam verificadas e sanadas. Sobre a situação da praça da Vila Ideal, observada esta semana, a informação é de que já está na programação da Empav uma ação de limpeza e vistoria a respeito da necessidade de poda na última semana deste mês.
Uma alternativa para tentar mudar esta realidade é a Lei complementar 34, sancionada no último dia 11. Esta legislação coloca Prefeitura e comunidade como parceiros em ações em prol desses espaços por meio de adoção, que será possível para entidades da sociedade civil, associações de moradores e pessoas jurídicas, sem resultar em prejuízo para a Administração Municipal, que terá o direito de instalar equipamentos de interesse do Município.
Aos adotantes caberá a execução de projetos, preservação e manutenção e desenvolvimento de programas de uso. O convênio ainda estabelece a concessão ou permissão para exploração de lanchonete padronizada pelo Poder Público. “Quem adotar o espaço tem que conservá-lo, contribuindo para que a praça tenha condições de ser utilizada pela população”, enfatizou o vereador Chico Evangelista (Pros), autor do projeto.
Diretor-presidente da Empav, Darci Ferreira, destaca que a lei, além de interessante, já é adotada em outros lugares do país, como no Rio de Janeiro, colhendo bons resultados. “Sua implementação deverá ser realizada juntamente com a Empav, que é responsável pela área verde da cidade, de modo a dar todo o amparo técnico possível. Enquanto empresa, estamos de acordo com a iniciativa e caminhando para uma linha na qual os interessados possam trabalhar questões sócio-ambientais nessas áreas verdes”.
Arte e cultura na Menelick de Carvalho
Moradores do entorno da Praça Menelick de Carvalho, na Rua São Sebastião, no Centro, também enfrentam problemas parecidos com os vivenciados na praça da Vila Ideal. Há anos, o espaço, que já foi alvo de diversas reportagens da Tribuna, perdeu sua tranquilidade. São frequentes ocorrências de uso e venda de drogas na praça. Os moradores, que já deixaram de usar a área, também reclamam de assaltos. Quanto à manutenção, a Empav informou que ela é feita mensalmente na Menelick de Carvalho.
Com a intenção de mudar este cenário, ocupando-o com arte e cultura, a Associação Cultural Estação Palco vislumbra a tomada da praça em 2016. O projeto ainda não está incluído no que prevê a lei sancionada este mês, mas é uma iniciativa que busca chamar atenção para o espaço público e mostrar que a ocupação é possível com ideias interessantes. O objetivo da associação é reformar uma casa nas imediações da praça e instalar sua sede no local, ampliando as atividades culturais realizadas. Além disso, a instituição pretende promover uma programação gratuita para a conquista do território. A fim de chamar a atenção da população, amanhã, os artistas da Estação Palco vão ocupar a Menelick de Carvalho, com ações que serão realizadas das 9h às 13h. Estão previstas atividades como contação de história, oficina de street dance e de tecido circense, apresentação de canto e serviço de bar com venda de petiscos e bebidas.
De acordo com a atriz e diretora teatral, Cristina Braga, que integra o elenco, a intenção é aproximar a comunidade daquele espaço. “Queremos devolver a praça para as pessoas, revitalizando e ocupando-a com arte e cultura. Esta é a melhor forma de devolver ao local a sua real finalidade”, ressalta.
O imóvel, cuja pretensão da Estação Palco é reformá-lo, estará aberto para visitação durante a programação. A casa deverá abrigar todas as atividades ministradas pela associação. Para a reforma, a expectativa é conseguir cerca de R$ 300 mil. O projeto ainda prevê a instalação de um café e de uma livraria e, devido ao tamanho da edificação, também seria possível alugar salas para a reunião de outros grupos teatrais.
Na visão da atriz Cristina Braga, a política de ocupação das praças abre uma janela para que a população possa enxergar estes locais de uma forma mais ativa. “Quando há um sentimento de pertencimento, as pessoas tendem a ser mais zelosas. E cuidar com arte e cultura deixa tudo mais feliz”, defende.