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Radioembolização: Juiz de Fora oferece tratamento pioneiro para câncer de fígado 

monte sinai byfernando
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Juiz de Fora é pioneira em Minas Gerais na realização de um tratamento de câncer de fígado chamado radioembolização. Essa técnica possibilita a injeção de microesferas radioativas para combater o hepatocarcinoma, fazendo com que as células cancerígenas sejam destruídas enquanto os tecidos saudáveis ao redor são preservados. A técnica é minimamente invasiva e permite recuperação fácil do paciente, além de ser o único tratamento possível para alguns casos. A cidade foi a primeira do estado a conseguir oferecer esse tratamento, que exige diversos cuidados e o empenho de uma equipe inteira.

A radioembolização é feita através de um cateterismo do fígado e tem indicações específicas. Como explica Rafael Gomide, radiologista intervencionista do hospital Monte Sinai, a técnica usa uma partícula radioativa para exercer atividade no tumor do fígado. “Com essa radioembolização, é possível conseguir um resultado bem melhor, porque ela permite um cálculo muito preciso da dose que vai ser entregue”, explica.

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Sendo assim, o paciente é tratado em duas etapas: na primeira, é feito um cateterismo do fígado e um estudo para que os médicos possam entender  quais são as principais artérias que vão nutrir esse tumor. “Na semana seguinte, a gente faz vários cálculos do volume do fígado, das características da lesão, e das características dos outros exames que a gente solicita, para chegar a uma dose ideal para o paciente que vamos tratar. É um procedimento muito minucioso”, explica.

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Técnica é opção para quem não pode realizar procedimentos convencionais

A principal indicação da radioembolização é para os casos em que há tumor primário no fígado, chamado hepatocarcinoma. O paciente que é diagnosticado com esse tipo de tumor tem várias perspectivas de tratamento, como o procedimento cirúrgico, o transplante hepático e os procedimentos da radiologia intervencionista. A radioembolização surge como mais uma alternativa, para aqueles que não podem realizar os procedimentos citados anteriormente.

“Até então, esses pacientes iriam para um tratamento paliativo, mas são, na maioria das vezes, pacientes que têm um estado geral muito bom e uma capacidade vital muito boa, mas que ficam com um tratamento sem perspectiva de cura”, explica. Outra vantagem do procedimento é que, diferentemente de outros métodos, torna-se possível compreender a resposta que o corpo do paciente vai ter. “Quando localizamos a lesão e todos os ramos, temos subsídio para conseguir entregar uma dose muito boa dessa radiação. Assim, temos uma expectativa de resposta”, afirma Rafael.

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Como explica o especialista, o tratamento já é considerado inclusive mais vantajoso comparado à quimioembolização e à imunoterapia.  “A radioembolização tem um potencial de resposta completo, inclusive com cura. Em longo prazo, tem um resultado comparável ao de uma cirurgia no fígado para esse mesmo tipo de tumor”, explica. Além disso, deixa claro que os resultados para a qualidade de vida do paciente e sua sobrevida são impressionantes. “Como também é um procedimento minimamente invasivo, sendo um cateterismo com acesso na artéria na perna e na virilha, o impacto na vida do paciente é muito pequeno. A recuperação também é rápida”, diz. O encaminhamento para esse tipo de tratamento, como ele explica, vem através do tratamento e da análise de cada caso feita por diversos especialistas. 

Rafael Gomide, radiologista intervencionista do hospital Monte Sinai (Foto: Divulgação)

Juiz de Fora vira centro de referência

A radioembolização começou a ser realizada no Brasil em 2015, e já em 2018, o especialista começou o tratamento para os primeiros casos. No final de 2022, ele foi listado no rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde (ANS), o que significa que todos os usuários dos planos de saúde no Brasil têm acesso à radioembolização para tratar o hepatocarcinoma.”Começaram a aumentar as indicações para o hepatocarcinoma. E nesse período, o próprio procedimento amadureceu muito. Os estudos que saíram ao longo desses anos mudaram e melhoraram a abordagem do tratamento”, explica o especialista.

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A cidade foi a primeira do estado a oferecer o tratamento, que em 2024 passou também a ser oferecido em Belo Horizonte. Foram 13 pacientes que realizaram esse tratamento na cidade, e para o radiologista, a importância está justamente em pensar no que seria o melhor para cada um deles. “Se o melhor é algo complexo, temos que buscar e lutar para que a tecnologia esteja presente aqui.  Tem muita gente que pensa que é algo só de centros grandes, como Rio e SP, ou que não daria certo, mas não é assim. Foi algo muito árduo, porque envolve várias equipes, mas a implementação pode mudar vidas”, explica. Para isso ser possível, ele ressalta que há um empenho enorme da equipe envolvida, já que a medicação vem dos Estados Unidos e chega no Brasil no dia certo do procedimento, com necessidade de muita precisão em seu uso.

Os pacientes que precisam desse tratamento, portanto, não precisam se locomover para grandes centros, tendo uma economia grande e que muitas vezes pode, inclusive, ser a diferença entre conseguir ou não o acesso. Além disso, como ressalta o especialista, a cidade se consolida como um centro de referência médica. “É inclusive um centro de turismo médico. Temos várias especialidades com qualidade comparável aos grandes centros. Juiz de Fora sempre foi pioneira em trazer novas tecnologias e procedimentos”, afirma.

Radioembolização ainda não é oferecida pelo SUS

Apesar de já estar listado no rol da ANS, o procedimento ainda não é oferecido pelo SUS. Em Juiz de Fora, a Secretaria de Saúde informa que são oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no município, para o tratamento do câncer no fígado, a quimioembolização; a ablação por radiofrequência; a embolização pura, sem a quimioterapia, para metástases de alguns tumores; e a ablação para hepatocarcinoma e metástase de intestino. Ainda não há previsão para a entrada da radioembolização no SUS.

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Prevenção do câncer de fígado

O câncer de fígado acomete cerca de meio milhão de pessoas no mundo, todos os anos. Em 2020, no Brasil, foram registrados 10.764 óbitos por câncer de fígado, de acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer. Como ressalta o médico, há uma importância enorme em hábitos de vida saudáveis, manter um estado físico adequado e prevenir a doença. Para isso, é importante não ter gordura no fígado, manter uma boa dieta e controlar a bebida alcoólica. “Muita gente associa esse tumor à cirrose hepática. Existe uma percepção do público de que a cirrose está relacionada apenas à bebida alcoólica, por exemplo, ou a hepatites virais. Mas hoje vivemos uma epidemia de obesidade, e a gordura no fígado também está associada ao hepatocarcinoma”, destaca.

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