Aproximadamente 60% dos juiz-foranos estão acima do peso – percentual superior à média nacional, de 53,8%. O dado, obtido por meio de pesquisas do Programa de Pós-graduação em Saúde da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), aponta para a necessidade de estratégias capazes de enfrentar a situação, que pode ser fator de risco para a saúde. Os dados do estudo foram levantados a partir de um inquérito populacional efetuado com 1.032 pessoas. A amostra representa um universo de cerca de 80% dos juiz-foranos – aqueles que residem em áreas de referência de uma Unidade Básica de Saúde (UBS). Foram entrevistados homens e mulheres, entre 18 e 64 anos de idade, no período de junho de 2014 a abril de 2016. O resultado da avaliação de cada participante foi estratificado de acordo com as Diretrizes Brasileiras de Obesidade (Abeso) (ver quadro).
A pesquisadora pontua que estar acima do peso não significa, necessariamente, que a pessoa tem ou terá problemas relacionados à saúde. Por outro lado, ela chama atenção para o fato de a obesidade ser uma doença crônica e de alto risco para a saúde. “Nós passamos por um processo de transição epidemiológica: antes tínhamos as doenças infecciosas. Com o passar do tempo, estas doenças infecciosas foram reduzindo, e hoje há um predomínio das doenças crônicas. E a obesidade pode levar ao diabetes, à hipertensão, às doenças cardiovasculares, a doença renal etc”.
Layla ainda explica que embora o sobrepeso e a obesidade sejam riscos, deve-se levar em conta a questão multifatorial que envolve a aparição destas doenças. “São vários fatores envolvidos. A predisposição genética, por exemplo, é muito importante, assim como o estilo de vida desta pessoa. Tudo isso vai influenciar. Não vai ser uma causa específica. Com o passar do tempo a gente tende a ter mais uma predisposição a estas doenças, e a própria idade é um fator de risco. São várias causas que estão associadas. Mas o excesso de peso, hoje, é um dos fatores mais importantes, principalmente porque ele está muito associado ao nosso estilo de vida moderno: um estilo de vida sedentário com uma alimentação inadequada para a maioria das pessoas”, destaca.
Alternativas
A média nacional de sobrepeso, de 53,8% da população, foi levantada pela Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), e indica que a maior parte dos brasileiros está convivendo com o sobrepeso.
“A pesquisa não permite concluir uma avaliação de causalidade ou de associação. Ela se propôs a fazer uma análise da população juiz-forana naquele momento e naquela situação. Nosso estudo focou no público da atenção básica, mas o Vigitel, por exemplo, leva em consideração pacientes de todas as áreas da saúde, assim como da saúde suplementar, que são as pessoas que têm plano de saúde, e estes percentuais também são muito altos. Então, não é um problema específico. É preciso práticas educativas em saúde, de um processo educativo, mas não de uma educação com base apenas na informação. É preciso uma educação que nos faça refletir sobre nossos hábitos, autocuidado e promoção da saúde”, propõe.
Projeto de Extensão da UFJF oferece atendimento e conscientização sobre obesidade
Há dez anos, o projeto de extensão Atendimento Multidisciplinar de Pacientes com Obesidade e Síndrome Metabólica recebe pacientes obesos e com sobrepeso no Hospital Universitário (HU/UFJF). O atendimento ambulatorial é biopsicossocial, realizado individualmente a partir do encaminhamento pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS) ou pelo próprio HU.
Dados destes atendimentos foram transformados em conteúdos educativos. A cartilha didática Prevenindo e Tratando o Excesso de Peso e a edição temática do HU Revista ‘Obesidade: da fisiopatologia ao tratamento pretendem conscientizar a população’, serão lançadas na próxima quarta-feira (24), na Faculdade de Medicina da UFJF, com o intuito de conscientizar a população, os pesquisadores e os profissionais de saúde sobre o tema.
A cartilha propõe um estilo de vida saudável, sem a exigência de uma alimentação cara ou de atividades intensas. Resgatar uma alimentação natural e caseira, criar receitas com ingredientes baratos, planejar as refeições dentro do contexto familiar e atividades físicas rotineiras são algumas das orientações. “É importante ver cada paciente como um multiplicador, ou seja, levar essas informações para a família e as divulgar no seu meio de convívio. Isso traz um benefício para a população. Essa média dos juiz-foranos acima do peso é maior do que a nacional. Por isso, nos preocupamos em divulgar a prevenção e tratamento do excesso de peso, realizando um atendimento humanizado, individualizado, multidisciplinar, e criamos esses conteúdos para pesquisadores, profissionais de saúde e comunidade”, explica a coordenadora do projeto, Danielle Ezequiel.
O programa de atendimento engloba uma equipe multiprofissional composta por médicos, residentes em endocrinologia, clínica médica, nutrição, fisioterapia, educação física, serviço social, enfermagem, farmácia e ainda por bolsistas de extensão e pelos alunos do internato da Faculdade de Medicina. O ambulatório acontece todas as sextas-feiras, a partir das 9h.
Para participar do projeto, é necessário ser constatado que o indivíduo está acima do peso, com índice de massa corpórea maior ou igual a 25, com consequente encaminhamento da unidade de saúde onde o paciente é atendido. Juiz-foranos e moradores de cidades da região podem participar.