Na Sexta-feira Santa, dia em que se recorda a paixão e a morte de Cristo, os cristãos se aprofundam na reflexão sobre a trajetória de sofrimento de Jesus em sua vida terrena. É quando seu caminho até o calvário é relembrado, após a condenação, até o momento da crucificação. Nesse dia, não acontecem missas, ou celebrações eucarísticas. “É o único dia em que não se celebra a eucaristia em lugar nenhum do mundo”, salienta o padre Tarcísio Marcelino Ferreira Monay. Toda a centralidade se volta para a cruz, onde estão representados os sentimentos de Cristo, em sua morte humana. “Jesus foi considerado um malfeitor. Ele desceu à mansão dos mortos, como nós declamamos ao fazer a nossa profissão de fé.”
Segundo o padre Tarcísio, há dois momentos que chamam muito a atenção durante o ato litúrgico da sexta-feira. “Primeiro, rezamos para todos aqueles que não creem em Deus e em Jesus. Rezamos pelo Poder Público, pelas lideranças, pelos enfermos, há um contexto de oração pela humanidade inteira. No segundo momento, quando Jesus está na cruz, quase entregando seu espírito, reconhece a nossa fragilidade e fraqueza e, por isso, pede a Deus que perdoe a humanidade, porque ela não sabe o que faz.” Desse modo, a sexta-feira é um convite para que as pessoas possam ter uma compreensão sobre suas próprias atitudes e que deixem de crucificar a Cristo, na pessoa de um irmão, ou em outros eventos, como guerras e violências, entre outros exemplos. “O texto chama a atenção para a necessidade de orar e corrigir os erros que ainda nos habitam. Para que a gente olhe para a morte de Jesus e possa corrigir os nossos próprios pecados.”
De acordo com o padre, ainda há uma dificuldade muito grande de vivenciar este momento, porque o prazer é o alvo a todo o momento e a dor não é dita. “As gerações mais novas, principalmente, têm muita dificuldade de vivenciar a Paixão. Por outro lado, há uma geração mais velha, que vive esse ponto do sofrimento de maneira muito mais intensa, e que se esquece, muitas vezes, da vida que se segue a esse momento. Ou seja, temos uma geração que não entende e não vivencia a morte de Cristo no sentido da salvação e da nossa modificação e a outra, que está tão imersa no sofrimento, que não vive a alegria da vida”, reflete. O desafio, segundo ele, é equilibrar o pensamento do sentido verdadeiro da Páscoa, que não se restringe à mesa farta no domingo e, ao mesmo tempo, lembrar que o sofrimento é passageiro e dá força para que se viva o eterno.