Juiz de Fora tem, ao menos, sete casos de mordida de cachorro por dia. De acordo com a Secretaria de Saúde, até outubro deste ano, foram registrados 2.126 atendimentos com este perfil, alta de 10,6% em relação ao apurado no mesmo período do ano anterior (1.922 casos).
O médico infectologista Mário Novaes destaca a importância de buscar avaliação e acompanhamento médico imediatos após uma mordida, independentemente de o animal ser vacinado contra raiva. “Vacinado ou não, é sempre uma situação que requer cuidados. A vacina impede que o cachorro tenha doença, mas não impede que a transmita”, alerta o especialista.
Segundo o médico, a gravidade e o risco associados à mordida dependem do local do ferimento, sendo as extremidades, como mãos, pés, pernas e pescoço, mais preocupantes. Além disso, a quantidade e a profundidade das mordidas também são fatores determinantes para o risco de transmissão de doenças, como a raiva.
O infectologista enfatiza, ainda, a necessidade de, após o acidente, lavar a ferida com água e sabão e, logo após, procurar uma unidade de saúde, para receber os devidos cuidados. Em Juiz de Fora, o Hospital de Pronto Socorro (HPS) possui uma área especializada para esse tipo de atendimento, o setor de Soroterapia e Profilaxia da Raiva Humana. “Lá, será feita uma avaliação profissional para determinar a necessidade de vacinação, geralmente contra raiva e tétano, além de fornecer orientações sobre a observação do cão”, explica.
Fernando Gonçalves, 35 anos, possui cinco cães e, ao oferecer, como de costume, pé de galinha para eles, duas de suas cachorras, Nina e Pretinha, de médio porte, acabaram brigando pelo alimento. Ao tentar separá-las, acabou sendo mordido, não intencionalmente, o que resultou na perda de uma unha do dedo da mão e uma ferida na panturrilha.
A quantidade significativa de sangue e a dor intensa chamaram sua atenção para a gravidade da situação e ele optou por ir ao HPS. Lá, recebeu os cuidados necessários, incluindo uma dose de antitetânica e orientações do médico. Mesmo sendo cães de sua própria casa, foi recomendado que ele observasse atentamente as reações da lesão e o comportamento das cachorras, considerando a possibilidade de vacinação contra raiva.
Observação do animal por dez dias
Mário Novaes explica que, em casos de mordida de cachorro, é recomendada a observação do animal por cerca de dez dias. Caso ele apresente alguma doença, comportamentos diferentes ou acabe morrendo, deve-se ficar atento e procurar, imediatamente, a unidade de saúde.
“No hospital, junto com meu atendimento, havia mais duas pessoas vítimas de mordidas, e o médico disse que, em um curto espaço de tempo, seis pessoas tinham sido atendidas, também por causa de mordidas”, ressalta Fernando.
Com o aumento dos casos em Juiz de Fora, é importante a conscientização sobre os riscos e a busca por atendimento adequado para prevenir a transmissão de doenças graves como a raiva, que tem letalidade de quase 100% em humanos. O médico infectologista acredita que esse aumento pode estar relacionado às altas temperaturas enfrentadas este ano, contribuindo para o estresse e a desidratação dos animais. Ele alerta para o cuidado em relação aos cães, especialmente de rua, em que o estado vacinal é desconhecido e a observação pós-mordida pode ser mais complicada.
* Andreza Araújo, estagiária sob supervisão da editora Fabíola Costa