O cuidado em fazer as avaliações rotineiras talvez tenha sido a sorte de Edil, que descobriu o tumor em estágio inicial e pôde ser submetido à cirurgia. “Minha sorte foi que, por conta da doença do meu pai que não morreu em decorrência dela, eu nunca tive problemas em fazer os acompanhamentos. Para mim, isso seria um tragédia anunciada. Então, tinha quase a certeza que teria este câncer. Outra sorte foi as células cancerígenas estarem concentradas dentro da cápsula prostática, evitando a proliferação e, assim, não necessitei fazer quimioterapia e radioterapia, o que causaria impacto enorme caso fosse submetido a inúmeras sessões deste tratamento”, afirma o militar.
Apesar de acreditar estar psicologicamente preparado para receber o diagnóstico, saber da doença foi um baque.
” É um choque, principalmente por entender das consequências que a cirurgia traz. Causa desequilíbrio na gente e uma série de questionamentos: vou ficar impotente? Vou usar fraldas? Eu sempre li muito sobre o assunto e sabia de tudo o que eu passaria e isso foi assustador”.
Ele, que é casado há 29 anos e tem dois filhos, tinha preocupação com a disfunção erétil, com as modificações na atividade sexual, como a impotência e a incontinência urinária comuns para pacientes operados em virtude do tal diagnóstico. Entretanto, encontrou apoio na família. “Fiquei três dias internado depois de retirar de forma total a próstata. É uma cirurgia invasiva, num local sensível. Mas meu maior medo era os seis meses posteriores, quando esses efeitos colaterais ficam muito latentes. Depois a vida vai voltando ao normal, e comigo não foi diferente. O apoio da minha esposa e dos filhos foi primordial.”
Apesar de tantos avanços e quebras de preconceitos, ainda em 2019, a doença é rodeada de tabus, principalmente num ambiente militar, em sua maioria composto por homens, do qual Edil fazia parte. Estudos mostram que é flagrante como o preconceito associado ao exame de toque constitui premissa para que os homens não busquem atendimento e, consequentemente, a detecção precoce do câncer de próstata fica prejudicada. “É uma doença silenciosa e que, nós, homens, temos que largar de lado esse preconceito. Mas, no meu trabalho isso nunca aconteceu, inclusive, encontrava apoio nos colegas. É a segunda doença que mais mata homens no Brasil. As pessoas precisam se conscientizar sobre isso. Falou em toque, eles já correm, e isso salva vidas”, orienta Edil, que, há treze anos, segue fazendo acompanhamento a fim de monitorar o câncer e constatar sua erradicação. O militar, que tem dois filhos jovens, de 25 e 28 anos, já sabe que eles terão que iniciar as exames também aos 40 anos. Dessa forma, a Tribuna apresenta os tratamentos para o câncer na terceira reportagem da série “Existe Esperança!”
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Para cada tipo de câncer há um tipo de tratamento
“Existem diferenças de tumores no que diz respeito ao câncer de próstata e é preciso que um tratamento combine a diversidade de pacientes com as respostas diferentes que cada um tem. Esse é grande desafio da urologia, pois nem sempre um tumor vai ser um câncer de próstata, o que é feito para um paciente não será o mesmo para um outro. Cabe ao médico indicar um tratamento a cada tipo de paciente, detectando qual tipo de tratamento terá mais aderência. O câncer de próstata, às vezes, tem o mesmo tipo de tumor, mas tem diferença no seu grau”, explica o urologista Fernando Henrique Ribeiro, coordenador do Serviço de Urologia da Ascomcer e diretor técnico do hospital.
O especialista aponta que, quando pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o tratamento é completo, uma vez que contempla desde a cirurgia até a radioterapia e quimioterapia. “Logicamente, existem modalidades cirúrgicas, como a cirurgia robótica feita com o auxílio de um robô, isso nem mesmo na rede privada é oferecido de maneira rotineira. Então, existem essas modalidades, mas o objetivo final o SUS consegue contemplar”.
Apesar disso, o profissional lembra que há tumores mais agressivos que não respondem à principal medicação administrada, tanto na rede pública quanto na rede privada. Por esta razão, muitas pessoas recorrem à Justiça, que acaba obrigando o SUS a disponibilizar tais medicamentos”.
Fernando Henrique lembra que, depois do diagnóstico, às vezes, o mais difícil é a realização de um exame como biópsia para ver qual o grau de estadiamento da doença. “Às vezes, isso é mais demorado do que a própria cirurgia, que, pela consciência dos profissionais, realizam a operação do paciente o mais breve possível. É difícil conseguir a primeira consulta, mas, a partir do momento do diagnóstico, a resposta é bem efetiva tendo como maior dificuldade os exames para definir qual a estratégia de tratamento”, esclarece.
Tratamentos para o câncer que podem afetar a fertilidade masculina
Homens preferem ter menores chances de sobrevivência do que enfrentar possíveis efeitos colaterais do tratamento que podem alterar sua vida sexual. A conclusão alarmante é de um estudo apresentado na conferência do Instituto de Pesquisa Nacional do Câncer em Glasgow, no Reino Unido, publicada em 2018. O tratamento do câncer de próstata inclui alguns efeitos colaterais, muitas vezes, difíceis de serem administrados por eles, como a disfunção sexual e a possibilidade de não poder ter mais filhos, por exemplo. Todavia, quando descoberto em sua fase inicial, há chances de uma vida normal.
“Nas fases iniciais, quando há a cirurgia, é completamente possível preservar os nervos responsáveis pela ereção, e o paciente permanece com sua função sexual normal. Na parte de reter a urina, ele também não terá os músculos afetados. Então, quando mais avançado, mais efeitos colaterais vão atingir o paciente”.
O câncer e seus tratamentos podem interferir em algumas partes do processo reprodutivo e afetar a capacidade de um homem ter filhos. “Porém, para conseguir fecundar a sua parceira de maneira natural é mais difícil, uma vez que retira-se a glândula que é a responsável por produzir o esperma para que o espermatozoide sobreviva. Então, quando ela é retirada é como se fosse feita uma ‘vasectomia’. Antes do início do tratamento, o paciente que ainda não constituiu a sua prole pode lançar mão do congelamento do sêmen e também há a possibilidade de se pegar o espermatozoide no testículo e fazer uma reprodução in vitro”, explica o especialista.
Casa Bethânia acolhe pacientes que buscam tratamento
Dignidade para passar pelo tratamento de câncer é o que encontra quem procura pela Casa de Passagem Bethânia. Em um imóvel bem estruturado, localizado na Rua Santos Dumont, no Bairro Granbery, o espaço existe há 11 anos, com o objetivo de abrigar pacientes cuja permanência, em Juiz de Fora, se prolongue devido a sessões regulares de quimio e radioterapia e também aqueles que precisam passar o dia.
A casa atende a população de toda a Zona da Mata mineira e também de outros estados e, entre dezembro de 2018 e novembro deste ano, já hospedou seis mil pessoas. Já passou pela entidade gente de mais de 160 municípios. São 26 camas para os pacientes e seus acompanhantes, além de mais quatro destinadas ao descanso dos motoristas que fazem o transporte dessas pessoas. E existe a possibilidade, caso houver necessidade, de mais disponibilidade. “São atendidos os pacientes e um acompanhante que pode ser um familiar ou não. Esse atendimento é para pessoas em tratamento de qualquer tipo de câncer, que não sejam convalescentes, pois, nesse caso, há necessidade de internação no hospital”, explica o coordenador da Casa Bethânia, Eduardo Nassif.
Ele conta que a entidade começou com o trabalho do padre David José Reis, que era pároco da Igreja do Rosário, no Granbery, e hoje é padre no Hospital Oncológico. “Naquela época, ele via que as pessoas que vinham para fazer o tratamento, na cidade, ficavam na rua esperando pelos procedimentos e consultas ou mesmo depois de atendidas não tinham como se alimentar de forma adequada, não tinham banheiro para usar. Ele percebeu que podia fazer mais por essas pessoas e assim teve a ideia de criar esse lugar com a ajuda da comunidade”.
A entidade é mantida por meio de doações e, para quem se hospeda, todos os serviços são gratuitos. Os hóspedes são indicados pelos hospitais onde fazem o tratamento por intermédio de assistentes sociais. No local, eles contam com café da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar e ceia. “Temos atividades durante a semana. Na segunda-feira, tem bate-papo e oração. Na terça, tem os palhaços da alegria. Na quarta, bingo e roda de conversa com psicólogos e, na quinta, tem artesanato. Todos esses trabalhos são oferecidos por cerca de 65 voluntários e quatro funcionários”, ressalta.
Eduardo atua na casa desde 2015 e, para ele, trabalhar lá faz muito sentido na sua vida.
“É uma falta que sentimos e que aqui é preenchida, pois nos faz crescer. Só no olhar da outra pessoa, sinta a satisfação de poder ajudar o próximo”, afirma ele, que é bancário aposentado. “São pessoas que não têm nada e vêm muitas vezes com a roupa do corpo e é muito gratificante poder ajudá-las. Poder doar nosso tempo para elas.”
Para Vânia Márcia de Freitas Pinto, que é vice-presidente administrativa da casa, a importância da Bethânia para as pessoas em tratamento é contribuir para evitar o traslado. “Percebemos que isso colabora muito no tratamento, pois, no período que eles permanecem aqui, às vezes até de 40 dias dependendo o tratamento, se sentem mais confortáveis, e isso é importante para esse momento de terapia”, destaca, lembrando que a casa é um porto seguro e de tranquilidade para pessoas que já estão fragilizadas.
As doações para a Casa Bethânia são realizadas em diferentes modalidades. Podem ser em depósito em conta (Branco do Brasil: agência 0024-8/conta 95000-9); carnê de contribuição mensal, no qual o doador pode pagar na sede da entidade ou por meio de um cobrador que busca na sua própria residência e ainda débito em conta. A casa também recebe doações de alimento e material de limpeza. Informações pelos telefones 3213-5268 e 3029-0440.