Os moradores do entorno da ponte Arthur Bernardes, no cruzamento da Rua Halfeld com a Avenida Brasil, na região central de Juiz de Fora, têm denunciado casos de violência no local. Além de furtos e roubos, a população se preocupa com o intenso tráfico de drogas que tem ocorrido na própria ponte, na Avenida Brasil e na Avenida Sete de Setembro, em seu entroncamento com a Rua Halfeld. A presença de pessoas em situação de rua, devido ao Centro Pop, também tem sido alvo de reclamação, considerando que, de acordo com os moradores da região, ocorrem muitas brigas e confusões envolvendo aqueles cidadãos.
Dados da Polícia Militar (PM) mostram que, desde o início de 2023 até 30 de setembro, 88 pessoas foram presas ou apreendidas na região do entorno da ponte, que, além das vias mencionadas pelos moradores, inclui também o terminal rodoviário da Praça Doutor João Penido (Praça da Estação). O número representa o dobro do que foi registrado no mesmo período em 2022, quando houve 43 prisões e apreensões.
Em relação às principais ocorrências registradas na região, enquanto as relacionadas ao tráfico e uso de drogas tiveram um aumento entre 2022 e 2023, as de furtos e roubos demonstram uma redução. No ano passado, até 30 de setembro, foram nove ocorrências envolvendo drogas e, em 2023, o número subiu para 38 no mesmo período. Já o número de furtos tentados e consumados caiu de 71 para 68 ocorrências em 2022 e 2023, respectivamente, enquanto as de roubos tentados e consumados foi de cinco para três no período.
Grupo de segurança preventiva
Há nove anos trabalhando na região, uma comerciante relatou que seu estabelecimento já sofreu oito assaltos, sendo três deles à mão armada. O último ocorreu há cerca de um ano e meio. Conforme relatado, o tráfico de drogas que estaria ocorrendo na região, juntamente com brigas envolvendo transeuntes, estaria prejudicando o comércio local. Recentemente, a câmera do estabelecimento da empreendedora flagrou o furto de hidrômetros na região.
“Sou obrigada a pagar segurança particular para conseguir trabalhar”, conta. “Não posso fazer benfeitorias no meu estabelecimento, porque arrancam e destroem nosso patrimônio. Fico revoltada, porque estou com os impostos em dia, mas não tenho como fazer melhoria na minha loja e isso prejudica demais o atendimento.”
Diante da situação de insegurança, a comunidade buscou se mobilizar por conta própria para se prevenir contra os riscos. Uma moradora que também terá a identidade preservada relatou que o tráfico de drogas é intenso na região, sendo que, algumas vezes, chegou a observar, inclusive, comércio de armas de fogo nas redondezas. A população criou um grupo em rede social para os moradores compartilharem quando há alguma situação de perigo. “Nosso grupo de segurança preventiva já vai fazer cinco anos e ele nos ajudou muito, mas está chegando a um ponto em que não estamos dando conta, e [os problemas] estão cada dia aumentando mais.”
Solução conjunta
Outra moradora da região demonstra preocupação com seus familiares, que precisam transitar pelas ruas em horário noturno por conta de trabalho e estudos, e acabam sendo expostos aos riscos de violência no entorno. Como também relatado por ela, muitas pessoas fazem uso de drogas de forma explícita, além de todas as brigas que acabam ocorrendo por conta do uso dos entorpecentes. Outro problema está relacionado aos assaltos e furtos, sendo que ela mesma teve sua residência furtada duas vezes.
“Entraram no terraço da minha casa e roubaram todas as ferramentas do meu marido. Nós fizemos o boletim de ocorrência. Uma coisa que é muito ruim é que muitas pessoas não fazem o boletim de ocorrência, o que acaba não dando elementos suficientes para a PM ter embasamento para poder mandar mais policiamento”, opina.
Com a invasão de sua residência, a moradora relatou que precisaram reforçar a segurança de sua casa com concertinas. Com as discussões sobre a relação das ocorrências com os equipamentos voltados às pessoas em situação de rua nas proximidades, ela acredita que uma solução eficiente deveria envolver diferentes órgãos públicos, de forma a atender tanto os moradores da região quanto as pessoas em situação de rua.
“Teria que ser um trabalho em conjunto, com o Estado e com a Prefeitura. Seria muito importante que eles fizessem alguma coisa efetiva para poder tirar ou dar locais possíveis para essas pessoas ficarem, porque eu, pelo menos, acho que não adianta nada tirar daqui e passar o problema para outro local, vamos dizer assim. O importante é que criem uma solução mais plausível que possa atender tanto a nós, como moradores, quanto à comunidade que está vivendo ali na rua.”
Caso de agressão
Recentemente, a Tribuna noticiou que o proprietário de uma padaria que funciona na Avenida Sete de Setembro foi jogado ao chão e agredido com socos e chutes por possíveis usuários do Centro Pop. A Prefeitura alegou à época que, segundo relatos dos funcionários do espaço, a agressão teria partido do proprietário da padaria. O ataque ao comerciante foi gravado por câmeras de segurança do entorno. No mesmo dia, antes dessa ocorrência, o sistema de vigilância também havia flagrado um homem com pedaço de pau indo em direção a outra pessoa, que lhe atirou pedras e acabou acertando o carro de um pedreiro, que estava estacionado na via pública, próximo ao local.
Reforço nas operações na região da ponte
De acordo com o tenente Leonardo Costa Tranin, da 30ª Companhia da Polícia Militar, a corporação tem conhecimento da situação de insegurança na região e das demandas dos moradores, por isso tem buscado efetuar frequentemente operações pelo local. “Temos conseguido concretizar várias prisões ali no local, ou seja, dando uma resposta positiva à população. Mas, de fato, conhecemos as demandas, sabemos da peculiaridade do local, por isso que, diariamente, estamos executando operações e efetuando prisões para contribuir para melhorar a segurança da comunidade”, aponta. “Houve redução de furtos e redução de roubos, e o número de pessoas presas e apreendidas aumentou significativamente, então temos executado o nosso trabalho da melhor forma possível.”
Como destacado pelo militar e demonstrado pelos dados da PM, o tráfico de drogas é acentuado na região. Isso, somado à presença de pessoas em situação de rua, contribui para a sensação de insegurança, conforme Tranin. Além da atuação da corporação, o tenente aponta algumas medidas que a população pode tomar para seu resguardo, como evitar transitar com o celular à mostra para evitar assaltos. “Qualquer situação de anormalidade que o morador vislumbrar, ele pode fazer contato com 190 ou com 181 [disque denúncia], que vamos atender a demanda.”
A Tribuna também solicitou um posicionamento da Prefeitura de Juiz de Fora sobre a situação na região, considerando que a população também associa a sensação de insegurança à instalação do Centro Pop, situado na Avenida Sete de Setembro. Entretanto, não teve um retorno até o fechamento desta edição.