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‘Quem ensina’: ‘Foi uma alegria abrir os portões e ver as crianças chegando’

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“Educação é esperança e liberta”. Com essa frase a pedagoga Cláudia Ferreira Rezende sintetiza tudo aquilo que ela acredita ser a educação. Diretora da Escola Municipal Professor Afonso Maria de Paiva, a maior instituição de educação infantil de Juiz de Fora, sediada no Bairro Santa Cruz, na Zona Norte, ela tem sob sua responsabilidade 20 turmas, totalizando 428 alunos, na faixa etária de 3 a 5 anos de idade. Cláudia é uma das profissionais que integra a série “Quem ensina”, uma homenagem que a Tribuna faz aos professores e demais trabalhadores da educação, na semana em que se comemora o Dia do Professor.

Sob a visão dela, o jornal abre espaço para contar um pouco de como foi (e ainda está sendo), para quem trabalha nas escolas, a retomada das atividades presenciais, que começaram, primeiramente, nas instituições de educação infantil. “Para nós foi uma alegria abrir os portões e ver as crianças chegando”, conta ela com tom de felicidade na voz. “Tinha criança que nunca tinha entrado na escola e só conhecia pelo lado de fora ou a parte externa, fora das salas de aula, quando vinham buscar o material para estudo, assim era possível perceber o encantamento. Elas nunca tinham ficado sem os pais, e, todos os anos, tem muito choro devido à questão da adaptação, mas está ocorrendo tudo da melhor forma possível”, avalia Cláudia.

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“Era choro de saudade”

Segundo a diretora, a cada dia após o retorno, é possível perceber a felicidade nos olhos dos alunos. “Isso se dá pela questão do contato com o coleguinha, porque na educação infantil esse processo de interação é riquíssimo. A aprendizagem será recuperada ao longo do tempo, mas esse período que deixaram de conviver não será resgatado. Então, ficamos felizes com a volta. As crianças do segundo período estão no último ano na escola, e proporcionar esse tempo antes do fim do semestre para elas é muito importante e gratificante para nós educadores.”

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Como o retorno das atividades presenciais sempre foi algo que rondava os profissionais de educação, segundo Cláudia, a preparação do ambiente escolar começou, em 2020. “Como aqui na escola a gente sempre trabalhou a questão de rotinas, de organização dos espaços, quando a Prefeitura, a partir deste ano, começou a sinalizar sobre a volta, nós já tínhamos uma preparação, já estávamos vindo para a escola para realizar essa organização, como os espaços das salas, retirar o que não era necessário para que as salas pudessem ficar mais livres, a fim de preservar o distanciamento. Quando houve o retorno de fato foi um misto de emoção, porque pensávamos: Será que já é hora mesmo? Será que vai ser seguro? Mas, ao mesmo tempo, a gente queria muito voltar, porque nosso lugar é na escola, e o trabalho remoto estava nos fazendo mal emocionalmente. O contato com as crianças é muito importante.”

Conforme a diretora, houve casos de professoras que choravam quando assistiam mensagens gravadas pelas crianças. “Era choro de saudade, de vontade de voltar para a escola. Temos aqui uma equipe muito unida, e forte e a pandemia nos uniu mais ainda.”

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A escola está trabalhando uma semana no presencial e duas no remoto. “Essa semana no presencial, inicialmente, estamos desenvolvendo o trabalho de escuta, de oralidade, raciocínio lógico, construção de pensamento e, para o ano que vem, sabemos que teremos que fazer um resgate, algo que será tranquilo, uma vez que na educação infantil o foco está na brincadeira e na curiosidade. Tudo isso sempre atravessado pelo afeto, pela interação, elementos fundamentais para a educação infantil.”

Para a pedagoga Cláudia Ferreira Rezende, diretora da Escola Municipal Professor Afonso Maria de Paiva, a pandemia deixou claro como é o trabalho do professor. “Só espero que a sociedade não se esqueça e lute pelo valor da educação e de seus profissionais” (Foto: Fernando Priamo)

Escola sem criança é escola sem vida

A diretora da Escola Municipal Professor Afonso Maria de Paiva também compartilha do sentimento de que o período pandêmico e de aulas remotas foram de aprendizagem. “Tinha muita dificuldade com a tecnologia, sabia só o básico. Tive que aprender a gravar vídeo, editar, formar grupos no WhatsApp, postar para os alunos três vezes por semana propostas voltadas para os conteúdos trabalhados na escola, como contação de história, brincadeiras, músicas e, sempre quando tinha alguma orientação, alguma informação para passar, eu era a responsável por gravar o vídeo enquanto representante da administração da escola”, lembra Cláudia, acrescentando que foi atrás de conhecimento para aprender a gravar, editar, buscar ferramentas sobre como poderia trabalhar determinados temas e quais dessas ferramentas seriam importantes para a utilização dos professores.

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Na visão dela, muito do utilizado nesse período será incorporado na nova rotina após o retorno. “O grupo de WhatsApp, por exemplo, porque, antes, nossos bilhetes eram todos pelo caderno, pela agenda, agora o aplicativo veio para ficar e acho que a produção de vídeos por parte das professoras também. A internet tem que ficar acessível para os alunos nas salas de aula, com a finalidade de pesquisas. Então, isso veio realmente para enriquecer a docência, não há como ficar mais sem essa tecnologia nas aulas presenciais. As crianças são muito tecnológicas, e a incorporação dessas ferramentas nas atividades presenciais deixa o aprendizado melhor.”

Mas ao longo desse período, ela teve que lidar também com questões de manutenção e de obras na escola. “Tudo acabou sendo um grande aprendizado, porque a escola estava vazia, sem as crianças, e elas são a vida da escola. Eu tive, inclusive, que aprender a lidar com esse vazio. Estar na escola e não ter crianças, não ter professor, ou seja, isso é a escola sem vida. Quando surgiu a pandemia, a gente achava que era coisa de um ou dois meses e que a vida voltaria logo em seguida à sua normalidade, mas não foi assim que aconteceu.”

De acordo com a diretora, a instituição precisou realizar obras para ampliação do número de pias para os estudantes. “Já era algo previsto antes da pandemia, porque a gente trabalha com as crianças a questão da autonomia, e elas também trabalham muito com tintas, aqui tem parquinho de areia. Desenvolvemos ações para despertar a autonomia e a higienização dos pequenos. Chegou a pandemia, que também cobrou das escolas essas obras e outras adaptações que foram necessárias para o retorno dos alunos.”

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Educação que transforma

Cláudia tem 45 anos, sendo 22 deles dedicados à educação. Ela é formada em pedagogia e pós-graduada em educação infantil. Só na educação infantil ela trabalha há 15 anos e está na Escola Municipal Professor Afonso Maria de Paiva desde 2008. “Eu sempre gostei muito de criança e, quando resolvi fazer vestibular, a área da educação foi a que me chamou a atenção. Assim que entrei, confirmei que era aquilo que eu queria fazer, me descobri e me realizei. Acredito muito nessa nova geração, porque acho que são eles que vão fazer o Brasil mudar para melhor”.

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Sobre a baixa procura pelos cursos de licenciatura e acerca da carreira que, cada vez mais, tem ficado menos atrativa para novos candidatos a professor, ela defende: “Tem que abraçar a causa, pois sabemos que tem muitos obstáculos no caminho dos professores, mas tem muita coisa boa. Quando recebemos o sorriso ou abraço de uma criança, sentimos satisfação. É gratificante quando encontramos um aluno que ainda lembra da gente, ainda chama a gente de tia, porque somos a primeira referência na escola, essa é uma marca e é de grande valor. Como qualquer outra profissão, há os pontos negativos, e temos que batalhar por melhores salários e estruturas dignas para continuar nosso trabalho.”

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Para concluir, Cláudia arremata afirmando que a educação é transformadora. “Acho que essa transformação está começando, e a pandemia pode ter contribuído para isso, porque deixou claro como é o trabalho do professor. Só espero que a sociedade não se esqueça e lute pelo valor da educação e de seus profissionais”.

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