Com a deflagração de greve no transporte coletivo por tempo indeterminado, a partir de 0h01 desta terça-feira (18), os juiz-foranos devem enfrentar dificuldades para se locomover pela cidade. A expectativa, até a noite desta segunda (17), era de que 70% dos ônibus parassem de rodar. Motoristas e cobradores decidiram cruzar os braços após a realização de duas assembleias nesta segunda. A decisão foi oficializada no início da tarde, após reunião que resultou em confusão entre a categoria, realizada no Largo do Riachuelo. Por volta das 18h, alguns ônibus da Gil foram retirados de circulação. Os trabalhadores argumentam que não houve pagamento do valor acordado junto à empresa.
Depois de semanas de discussão em razão do imbróglio sobre a propostas de redução do tíquete-alimentação e do valor dos salários, a categoria voltou a se reunir na manhã e na tarde desta segunda. O último encontro, porém, foi marcado por ânimos exaltados. Na ocasião, o sindicato voltou a expor e debater o andamento das negociações com os trabalhadores que não puderam comparecer na assembleia da manhã, por estarem em horário de serviço. Assim como na primeira reunião, a oferta patronal foi rejeitada.
A Tribuna esteve no Largo do Riachuelo no Centro, onde dezenas de profissionais participavam da assembleia. Depois de expostas as contrapartidas patronais, motoristas e cobradores se revoltaram, e os ânimos se exaltaram quando os trabalhadores afirmaram que profissionais do setor administrativo – que não costumam fazer coro em votação – foram enviados para aumentar o número de votos favoráveis à proposta patronal. Após a reunião, parte do grupo dispersou, e outra parte seguiu em passeata com destino à Câmara Municipal de Juiz de Fora, já anunciando a paralisação das atividades.
“Eles não querem aumento de salário, entendem o momento de pandemia. Apenas reivindicam seus direitos”, disse o vice-presidente do Sinttro, Claudinei Janeiro, à Tribuna.
‘Ameaças’
Procurada pela Tribuna para se manifestar, a Ansal, que representa o consórcio Via JF, informou que as duas assembleias desta segunda eram exclusivas para seus funcionários, uma vez que a categoria já havia deliberado sobre a contraproposta, mas é necessário aval do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário de Juiz de Fora (Sinttro). Conforme a Ansal, a confusão teria tido início quando profissionais de outras empresas teriam chegado na tentativa de terem aceitas suas reivindicações. Mas, segundo a assessoria da Ansal, a assembleia foi marcada por ameaças, sendo considerada uma ação “inadmissível”.
Ainda por meio de nota, a Ansal repudiou esse tipo de atitude. “Foram liberados o pessoal do administrativo e do setor de manutenção que queriam participar da assembleia. Repudiamos veementemente esse tipo de atitude (as ameaças), ainda mais que nossos colaboradores estavam em assembleia somente para definir pela Ansal, em nenhum momento por outras empresas”. A assessoria informou ainda que por ser a única empresa que apresentou contraproposta, já considera, desde a semana passada, que seus funcionários não deverão integrar o movimento grevista, “a não ser que sejam forçados a isso”.
Já a Astransp, que representa o Consórcio Manchester e parte do Via JF, foi procurada, e, sobre a suposta ocorrência de ameaças entre os profissionais, disse “não ter conhecimento”. Sobre outras questões grevistas, até por volta das 20h, a assessoria não havia respondido os questionamentos feitos pela reportagem. Anteriormente, a Astransp havia informado que não iria se manifestar enquanto não fossem esgotadas as tentativas de negociação com o sindicato.
Imbróglio
A categoria já havia sinalizado o movimento paredista em julho e desde então tem se manifestado contra as propostas dos patrões, recusando a redução do tíquete-alimentação e da cesta básica e de corte de 50% das horas trabalhadas feitas pelos consórcios do transporte coletivo urbano. Os profissionais porém, reivindicam a manutenção da integralidade destes benefícios, bem como a garantia de cumprimento de, no mínimo, 70% da jornada de trabalho e salários atuais.
Até então, apenas a Ansal apresentou contraproposta, já aceita pelos trabalhadores desde a semana passada. Sendo assim, a empresa firmou o compromisso de manter, na sua integralidade, o tíquete; irá voltar a fornecer a cesta básica, de forma reduzida, mas completa; e vai garantir o pagamento do salário de acordo com a jornada de trabalho, garantindo o mínimo de 50% deste pagamento.
As negociações entre patrões e empregados já vinham dando sinais de fragilidade desde o mês passado. Entre 21 e 23 de julho, os rodoviários paralisaram as atividades do transporte coletivo urbano por mais de 50 horas diante das discordâncias entre as classes. Em edital publicado na Tribuna no último dia 14, o Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário de Juiz de Fora (Sinttro/JF) informou a respeito da deflagração de greve por tempo indeterminado a partir de 18 de agosto.
Carros recolhidos
Por volta das 18h desta segunda, ônibus pertencentes à Goretti Irmãos Ltda (Gil) começaram a ser levados para a garagem da empresa pelos próprios motoristas. O movimento seria em protesto pela quantia depositada nesta segunda-feira referente aos salários dos profissionais. “Isso foi por iniciativa própria, pois depositaram um valor muito pequeno na conta de cada trabalhador como pagamento. Isso não representa a divisão de um terço do salário como combinaram anteriormente”, disse Claudinei Janeiro, vice-presidente do Sinttro.
Conforme o representante sindical, os trabalhadores da empresa estão sob os efeitos da MP 936, que garante redução de jornada e pagamento de acordo com o período trabalhado. Neste cenário, eles estão ainda com redução de 70%, o que influi sobre os salários, mas têm como contrapartida o pagamento por parte do Governo Federal. “Os outros 30% devem ser pagos pelas empresa, cujo valor seria dividido em três vezes, uma dia 6, outra 17 e a última, dia 29.” No entanto, nesta segunda, profissionais que prestam serviços à Gil garantiram ter recebido quantias que variam de R$ 50 a R$ 120. Os valores, porém, não estariam de acordo com o combinado. “Teve motorista que recebeu R$ 114, e cobrador que teve depositado a metade disso. Não dividiram em partes iguais, e sim do jeito que eles querem, por isso, a revolta”, completou. Sobre isso, a Astransp, que representa a empresa Gil, ainda não tinha se manifestado até por volta das 20h desta segunda.