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JF registra 163 atropelamentos em seis meses

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A Polícia Militar registra, em média, um atropelamento por dia em Juiz de Fora. Entre 1º de janeiro e 22 de junho foram 163 ocorrências atendidas, duas a mais se comparado ao mesmo período em 2018. O número de vítimas fatais também se mantém próximo, com oito óbitos por atropelamentos ano passado e sete este ano. Os dois mais recentes, que engrossam esta estatística, ocorreram em junho, em intervalo inferior a 24 horas, e fizeram como vítimas um idoso de 77 anos, atropelado na Avenida Getúlio Vargas, dia 19, e um homem, ainda não indentificado, conforme a Polícia Civil, atingido por um caminhão no Bairro Manoel Honório, dia 20.

Em alguns pontos de Juiz de Fora, como no cruzamento entre a Rua Floriano Peixoto e a Avenida Rio Branco, é comum ver pessoas se arriscando ao atravessar as ruas, seja fora da faixa ou com o semáforo para pedestres fechado. Um flagrante feito pela reportagem da Tribuna apontou um senhor andando exatamente no centro do cruzamento entre as vias. De acordo com o comerciante Gustavo de Oliveira, proprietário de uma lanchonete na área, o erro vem de todas as partes. “Muito abuso de pedestre, e os condutores também não respeitam. Os pedestres passam no sinal vermelho para eles, e aí acontece muita tragédia. Acontece bastante coisa nesse cruzamento”, conta.

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Idoso se arrisca ao atravessar fora da faixa de pedestres na Av. Rio Branco (Foto: Olavo Prazeres)

Por outro lado, o desrespeito às normas de trânsito por parte de motoristas pode se relacionar com as ocorrências de atropelamento na cidade. “Alguns motoristas, ao observarem o sinal amarelo, ao invés de parar o veículo ou desacelerar, acabam fazendo exatamente o inverso, acelerando o veículo para tentar aproveitar aquele sinal amarelo e se deparando com uma vítima – também um pouco desatenta – ocorrendo o atropelamento”, exemplifica a tenente Sandra Jabour, assessora organizacional da 4ª Região da Polícia Militar. “Se há falha de uma das partes, a chance de um atropelamento – até com vítima fatal – é muito grande. Essa via de mão dupla é fundamental, tanto para o motorista quanto para o pedestre que está utilizando a via para deslocamento.”

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O desrespeito pelos motoristas é sentido entre os pedestres. Para Luiz Sérgio da Cunha Santos, 63 anos, não há segurança para quem precisar se locomover a pé na cidade. “O pedestre é que tem que ser seguro, tem que ser educado e tem que prestar atenção na travessia. A educação vem de nós, e não do motorista. Nós é que temos que prestar mais atenção, porque quem está no volante, hoje em dia, não está mais nem aí. Eles têm tanta pressa em andar de carro que eles nem olham para a gente”, aponta.

Atenção e prudência

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De acordo com a tenente Sandra, alguns pontos como atenção, cuidado e prudência são essenciais para garantir a segurança no trânsito e evitar acidentes, tanto por parte dos motoristas quanto dos pedestres. Muitas das ocorrências de atropelamento em Juiz de Fora se relacionam com esses fatores, entretanto, alguns grupos estão mais sujeitos a esse tipo de acidente, como no caso dos idosos. “Algo que observamos, infelizmente, é que algumas pessoas mais idosas, que vão sozinhas na área central, acabam não tendo tanta atenção. Um dos fatores na ocorrência desses atropelamentos é a questão de pessoas que não têm tanto reflexo para poder andar no trânsito”, exemplifica.

A falta de atenção, porém, atinge outras faixas etárias. Os aparelhos celulares, cada vez mais presentes no dia a dia, acabam causando distração entre os pedestres. “Algumas pessoas, principalmente os mais jovens, enquanto estão andando no trânsito, ficam no celular e com isso acabam ficando totalmente alheias ao que está acontecendo a sua volta, e acabam sendo vítimas de atropelamento”, ressalta a tenente.

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Medidas de segurança

A fim de diminuir o risco de atropelamento, a assessora organizacional da 4ª Região da Polícia Militar, tenente Sandra Jabour, aponta orientações tanto para pedestres quanto motoristas. O primeiro grupo, por exemplo, deve sempre se certificar do que está sendo visto. “Na hora que for atravessar, observe se os motoristas estão vendo de fato. Na hora que o sinal estiver vermelho, o pedestre tem que se certificar que o motorista do veículo vai parar para ele de fato atravessar”, explica. “Nem sempre o sinal fechado significa segurança total.”

Outro conselho da PM é atravessar a rua em faixas de pedestres. “Em tese, os motoristas vão respeitar um pouco mais. Infelizmente, nós conseguimos observar que na Getúlio Vargas, principalmente, tem muitos pontos de ônibus ali e a pessoa, no desespero para pegar o ônibus, acaba atravessando de qualquer jeito e fica completamente alheia ou desatenta a movimentação no trânsito. O ônibus está no ponto, já vai sair, então atravessa em qualquer lugar, aí vem outro veículo e acaba vitimando essa pessoa que atravessou em local que não deveria atravessar.”

De acordo com o mestre em Engenharia de Transportes, José Luiz Britto Bastos, com o crescimento da população e, consequentemente, da frota, o ideal seria uma diminuição gradativa das velocidades urbanas. “Hoje, em uma cidade do interior, a velocidade máxima é 30 km/h. Em Juiz de Fora, temos velocidade de até 50 km/h”, explica. “O trânsito está muito intenso, nós temos 260 mil veículos em circulação e uma população de quase 600 mil pessoas.” Desta forma, para o especialista, é necessário intensificar a conscientização. “Os pedestres, principalmente os idosos, têm que receber um reforço da educação porque tudo muda. Nós não somos mais uma cidade com 20 mil habitantes e 10 mil carros.”

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Ainda segundo Britto, em Juiz de Fora, assim como a maioria das cidades brasileiras, o foco está nos veículos, quando, na realidade, deveria estar nas pessoas. “Você pode ver a diferença de tratamento entre as pistas de rolamento dos automóveis e as calçadas em Juiz de Fora. Estão muito preocupados com os buracos das vias de trânsito, dos automóveis, mas não estão preocupados com os buracos e com os obstáculos que a calçada, por exemplo, oferece”, exemplifica. Outro ponto é em relação aos dispositivos de segurança, como os semáforos. “É preciso recalcular os tempos, colocar dispositivos que aumentam o tempo de travessia, se necessário for, para os que têm mais de 65 anos de idade”, diz.

 

Alteração no tempo

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Para o aposentado José Martinho Nogueira, de 85 anos, que costuma se locomover pelo Centro de Juiz de Fora, o tempo de alguns semáforos é uma das maiores dificuldades enfrentadas pelos pedestres. “Tem determinados sinais aqui que (o tempo) não é o suficiente”. Como exemplo, ele citou os do cruzamento da Avenida Rio Branco com a Rua Marechal Floriano Peixoto. Para atravessar entre as vias, o idoso considera o período insuficiente.

Alguns semáforos em Juiz de Fora passaram, recentemente, por aumento no tempo destinado para travessias de pedestres. De acordo com a Settra, os sinais “entre a Garganta do Dilermando e a Rua Antônio Lagrota, na Avenida Rio Branco foram reprogramados com o aumento do tempo de travessia de pedestres e, todos os semáforos da Avenida Rio Branco entre o bairro Manoel Honório e Altos dos Passos também foram reprogramados para travessia dos pedestres.” Ainda conforme a pasta, os principais corredores de tráfego da área central de Juiz de Fora também devem contar com reprogramação ao longo do ano.

Também na Av. Rio Branco, proximidade entre veículos e pedestres é fator que exige atenção de ambos (Foto: Olavo Prazeres)

Pedestres são a maioria das vítimas em acidentes com ônibus

De acordo com o Relatório Anual do Seguro DPVAT, dos 5.748 pagamentos de indenizações por acidentes com transporte coletivo no Brasil, 2.871 foram para pessoas que se deslocavam a pé. Ou seja, quase 50% dos acidentes envolvendo ônibus tiveram pedestres como vítimas. Em um dos últimos atropelamentos com óbito na cidade, por exemplo, no dia 19 de junho, a vítima, de 77 anos, foi atingida por um ônibus no cruzamento entre a Avenida Getúlio Vargas e a Rua Marechal Deodoro.

Em Juiz de Fora, a Câmara Municipal propôs um treinamento para conscientizar os motoristas de coletivos urbanos sobre grupos expostos à vulnerabilidade no trânsito. A iniciativa parte do vereador Sargento Mello Casal (PTB), que sugeriu à Settra, no último dia 24 de junho, a instituição do programa “Sentindo na pele”, o qual colocaria os condutores no lugar de ciclistas, idosos e pessoas com deficiência em simulações de situações corriqueiras das ruas juiz-foranas.

A campanha planeja promover a empatia através da vivência em uma posição diferente da que os motoristas de coletivos urbanos estão diariamente. O projeto deve ser discutido, ainda, em reunião dos vereadores na Câmara, com os órgãos que a ação pode envolver, como a Comissão Municipal de Segurança e Educação no Trânsito (Comset) e as comissões e associações dos grupos de pessoas afetadas.

Em nota, a Settra informou que, atualmente, já existe uma ação na pasta sobre capacitação dos motoristas em relação a acessibilidade nos coletivos, independentemente da solicitação feita pela Câmara Municipal.

JF terá programa para gestão de dados de acidentes

Juiz de Fora está prestes a receber o projeto “Vida no Trânsito”, do Ministério da Saúde, para gerenciamento de dados sobre acidentes de trânsito. O programa atua na vigilância e prevenção de lesões e mortes no trânsito e promoção da saúde. Uma coletiva de imprensa, com os detalhes da proposta, foi marcada para esta quinta-feira (18) na cidade.

Segundo a presidente da Comissão Municipal de Segurança e Educação para o Trânsito (Comset), Ana Beatriz Chaves, para mensurar os acidentes de trânsito e seus impactos, é necessário levar em consideração diversas variáveis, inclusive, posteriores aos acidentes. Poucas cidades no país, por exemplo, contabilizam o número de óbitos por atropelamento ou acidente de trânsito após a ocorrência, sendo focados, apenas, no momento do incidente. “O programa Vida no Trânsito será útil para que o município tenha esses dados mais consolidados, não só o quantitativo, mas também observando o entorno e todas as especificações. Assim, conseguimos ir definindo um perfil de acidente de trânsito para que as pontas que têm que ser tratadas como a área de educação, área de engenharia ou área de fiscalização, possam ser acionadas.”

Atividade educativa

A Comset reúne diversas instituições parceiras, estimulando-as a realizar ações voltadas para segurança e educação para o trânsito. Desta forma, os atropelamentos também são abordados pela Comissão. Os trabalhos ocorrem em escolas, empresas e outras instituições, como no Centro de Convivência do Idoso e nos consórcios de transporte coletivo urbano. “A intenção é que todos os parceiros trabalhem em prol de um trânsito seguro”, diz Ana Beatriz, presidente da Comset.

“Nos últimos atropelamentos (que ocorreram na cidade), podemos perceber a questão do comportamento humano no trânsito. Isso é um viés que também precisamos tratar com muita atenção. Não é simplesmente buscarmos de quem é a culpa, mas como está o nosso comportamento, o que vem fazendo com que o ser humano – independente até mesmo da faixa etária – seja tão vitimado.”

Parceira da Comset, a Settra também reforçou, em nota, que realiza palestras em escolas e empresas “com o objetivo de trabalhar a conscientização sobre a importância da atenção no trânsito”. Conforme a pasta, recentemente, houve campanhas voltadas ao trânsito durante o “Maio Amarelo”, com programações durante todo o mês.

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