Um dia depois do ato denunciando o sucateamento da frota de caminhões que presta o serviço de coleta de lixo em Juiz de Fora, realizado no Demlurb pelo Sindicato dos Servidores Públicos Municipais (Sinserpu), a cidade amanheceu, nesta sexta-feira (16), com lixo acumulado em diversos pontos. Isto ocorreu, principalmente, em locais onde era esperada a passagem do caminhão até a noite de quinta-feira, mas a coleta não aconteceu.
Dos lugares mais críticos registrados pela Tribuna na manhã desta sexta estava o Cerâmica, na Zona Norte. No local, a coleta acontece sempre às terças, às quintas e aos sábados, mas, em função do feriado prolongado, o lixo ficou acumulado por vários dias, pelo menos, desde o último sábado (10). As esquinas, principalmente, eram as áreas onde havia maior acúmulo de detritos no final da manhã desta sexta. Entre as ruas Hélio Tomaz e Martinho Gonçalves, no Cerâmica, moradores chegaram a pendurar sacolas nas grades para evitar que a sujeira se espalhasse.
Próximo a um escadão na Rua Doutor Norberto Gerhein, no mesmo bairro, a quantidade de sacos plásticos com lixo e outros materiais já atraía animais de rua e moscas. Uma moradora da via, que não quis se identificar, relatou que o odor do lixo já tinha invadido o apartamento onde mora. “O caminhão passa sempre à noite, mas nesta quinta ele não passou. O meu quarto fica em frente ao escadão, e estava praticamente impossível conviver com o cheiro. Como não viajei no carnaval, notei que o montante de lixo foi se acumulando desde o final de semana. Muita gente não respeita os dias e horários da coleta, mas conviver por quase uma semana com o lixo é um absurdo.”
Andando pela Avenida Olavo Bilac, no Cerâmica, até a Rua Bernardo Mascarenhas, no Fábrica, o que se via eram montes de sacolas de lixo acumuladas em intervalos a cada duas ou três casas. O mesmo cenário também foi registrado no Bairro Santa Terezinha, região Nordeste. Nas ruas Custódio Tristão e José Eutrópio, o lixo já tomava conta das ruas. Situação semelhante também foi vista no Bairro de Lourdes, região Sudeste.
Segundo o morador do bairro, André Luiz Nascimento, o volume passou a ficar maior desde a quarta-feira, quando a população retirou todo o lixo de casa aguardando a coleta, que aconteceria na quinta. “Por aqui o caminhão também passa terça, quinta e sábado. Notamos que o número de cachorros de rua aumentou e, com isso, a sujeira também, pois eles catam as sacolas e as rasgam, espalhando o lixo pela rua. Enquanto cidadão, sinto que o meu dinheiro, que está nos impostos que eu pago, está sendo mal utilizado.”
Mau cheiro
No Santa Cândida e no Santos Anjos, ambos na Zona Leste, e no Estrela Sul e no Santa Cecília, bairros da Zona Sul, o acúmulo de lixo também é preocupante. Wesley Rezende, proprietário de uma padaria localizada na Alameda Pássaros da Polônia, no Estrela Sul, relata que é comum encontrar lixo exposto na via, já que muitos animais procuram restos de comida nos detritos descartados nas proximidades. “Essa é a terceira vez que acontece esse problema, mas a coleta ocorre normalmente, na maioria das vezes, por volta das 20h. No entanto, já estamos há quatro dias sem coleta, inteirando o sexto dia de lixo acumulado. O cheiro fica, e o lixo é exposto e revirado. Acabo pedindo a funcionários da padaria para limpar a rua.”
Apesar dos problemas, o comerciante reconhece que é uma situação complicada para todos os envolvidos. “O caminhão passa às terças, quintas e sábados, e acho que deveria passar mais dias, mas sei que é inviável. Tem restos de alimentos entre os dejetos e nós, comerciantes, não temos como alocar esses detritos por mais tempo dentro dos estabelecimentos.”
Na Rua Melo Franco, no Santa Cecília, a funcionária de um supermercado localizado ao lado de um ponto de ônibus, utilizado pela própria população como depósito de lixo até o momento da coleta, também reclama do mau cheiro. “O caminhão não passou na terça-feira, por causa do feriado, mas muitos moradores colocaram os lixos na rua mesmo assim. Mas nessa quinta também não houve coleta. O acúmulo próximo ao ponto de ônibus também atrapalha a passagem dos clientes. Estranhei a situação, pois, mesmo quando a coleta atrasa, no dia seguinte, o caminhão passa de manhã.” No entanto, até por volta das 16h desta sexta-feira, não tinha havido coleta nas proximidades.
Sinserpu aponta problemas com a frota de caminhões
O presidente do Sinserpu, Amarildo Romanazzi, informou que, pela manhã, apenas 11 dos 27 caminhões aptos para a coleta estavam rodando na cidade. Segundo ele, 16 estavam estragados. Segundo o sindicato, atualmente, o Demlurb dispõe de uma frota composta por 31 caminhões, sendo que, destes veículos, 22 são necessários, a cada turno, para o cumprimento da rota de recolhimento da coleta domiciliar. No ato realizado na última quinta, Amarildo destacou que os problemas na frota impactam na segurança dos servidores e na prestação do serviço, além de precarizar as condições de trabalho. Entretanto, o Demlurb rechaçou as ponderações, dizendo que “os caminhões somente são liberados para coleta quando atestados pela equipe técnica, que estão em boas condições de uso”.
Por meio de sua assessoria, o Demlurb refutou a informação. Segundo o órgão, na manhã desta sexta, 20 caminhões foram empenhados para realizar o serviço na cidade. Entretanto, informou que a pasta não alterou a programação das rotas de coleta de lixo e os bairros onde ela não foi realizada na quinta ainda serão atendidos. À tarde, outros 18 deram continuidade aos trabalhos. A expectativa para a noite desta sexta, segundo a assessoria, era de que 22 caminhões atuassem no recolhimento do lixo.
Questionada sobre a ausência da coleta programada para esta quinta-feira em diversos pontos, o órgão disse se tratar de uma “questão pontual em consequência do feriado prolongado e aumento no volume de lixo recolhido”. Em nota, a assessoria afirmou que as regiões que sofreram atrasos teriam o serviço regularizado ainda nesta sexta.