O diferente nome de uma rua no Bairro Parque Alto desperta a curiosidade de alguns. Clorofila. Isto mesmo, clorofila, o pigmento fotossintético das plantas. A razão de se batizar esta via com este nome? A moradora Mônica Santiago diz que as pessoas perguntam o que significa o nome da rua. “É nome de flor, é nome de árvore? O que é isso? Onde fica?” Ela também conta que já se acostumou com o nome curioso que batiza o logradouro, já que em bairros próximos, como o Nova Califórnia, as ruas são batizadas com nomes de flores – Rua das Margaridas, dos Ipês, da Primavera, das Rosas, das Violetas, entre outros relacionados a flores e plantas.
Os nomes diferentes não param por aí. Rua Imigrantes Italianos, no Parque Independência; Rua Existente, no Filgueiras; Nhá Chica, no Granjas Bethânia; Lambari, no São Benedito; Água Limpa, no Santa Luzia; Vila do Céu no Costa Carvalho; Todos os Santos, no Santos Anjos, e ainda, o par Estrelas e Encantos; no Jardim da Saudade. Estes nomes rompem com a tradição de nomear endereços com nomes de pessoas, como forma de homenagear. Também é muito comum nomes que fazem menção a médicos, militares e santos.
Segundo o arquiteto e urbanista Daniel de Almeida Moratori, apesar de hábito antigo, este tipo de “batismo”, ainda é comum. “Os legisladores do Município criam projetos de lei que nomeiam os logradouros, e os nomes escolhidos muitas vezes são influenciados por momentos históricos relevantes, personalidades, datas comemorativas, nomes indígenas, entre outras diversas nomenclaturas.
Mas os fatores que influenciam a denominação dos logradouros se mostram mutáveis, se transformando ao longo do tempo. Em cidades mais antigas é comum nomes com referências geográficas, religiosas e comerciais, devido a poucos fatos históricos relevantes à época. No Império, as cidades começaram a ter nomes relacionados à realeza portuguesa, à Independência e ao imperador. A mudança drástica ocorre com a República, quando a política ganha espaço, trazendo com isso uma gama de nomes mais diversificada.
Segundo a Prefeitura, existem três formas de nomear uma rua. A primeira é por iniciativa do Executivo, que envia uma mensagem ao Legislativo com a proposição, para ser avaliada pela Câmara Municipal. A segunda é através do Poder Legislativo, quando o parlamentar faz esta indicação. A terceira pode ocorrer através de projeto de iniciativa popular, quando devem ser recolhidas assinaturas da ordem de 3% do eleitorado municipal. Em todos estes casos é feita a verificação da PJF sobre a viabilidade do nome, como se já existe, por exemplo.
Bairros monotemáticos
As ruas do Bairro Nova Califórnia, citadas no início da matéria, não são as únicas a receberem nomes que têm relação com determinado tema. No Bairro Marilândia, as vias receberam nome de pedras preciosas – Esmeraldas, Rubis, Safiras, Topázios, Turquesas, Ametistas, Cristas, Pérolas, entre tantas outras. Curiosamente, a única rua que não recebeu nome de pedra preciosa foi a principal do bairro, a Acácio Alves Alvim. Segundo moradores, reza a lenda que o nome planejado para ela era “Rua dos Diamantes”, no entanto, o plano não se concretizou.
Morador da Rua das Jades há cinco anos, Roosevelt Tristão diz que, quando se mudou, estranhou um pouco o nome da rua. “Eu não lembrava o que era jade, mas depois que eu fui ver que as ruas aqui têm nome de pedra, aí eu lembrei que jade era uma pedra também”.
Além do Marilândia, o Bairro Amazônia foi presenteado com logradouros que têm nome de árvores – Urucum, Açaí, Sapucaia, Seringueiras, Palmeiras, Jatobá e Jequitibá. No Parque Jardim da Serra, uma homenagem às capitais do país: Brasília, Natal, Porto Alegre, Recife, Maceió, Florianópolis, Vitória, entre outras. Já no Poço Rico, são homenageados alguns estados brasileiros – Rua da Bahia, Paraná, Pernambuco…
No Milho Branco, as ruas são coloridas – Rua Azul, Rua Branca e Rua Rosa. “O próprio responsável pela construção do loteamento pode sugerir tais nomes, o que acaba sendo um diferencial a localidade, a exemplo do ocorrido no Estrela Alta, o qual tem nomes de estrelas do sistema solar.
A prática desse tipo de nomes temáticos para logradouros não é uma novidade no Brasil e no mundo, mas atualmente tem se mostrado mais frequente em novos loteamentos, que buscam reunir dentro do seu espaço um conjunto de ruas com a mesma temática. A saturação de nomes de políticos, militares, celebridades e religiosos, influenciado pelo não reconhecimento/ligação da população com esses nomes, acaba por ser um fator que impulsiona essa busca por nomenclaturas que não façam uma ligação direta com uma pessoa/momento”, explica Moratori.
Homenagem de obras de poetas juiz-foranos
“Você sabe porque tem esses nomes, quem que deu?”, questionou a moradora da Rua Pétala Misteriosa, Aline Cabral Castro. Ela conta que as pessoas comentam o tempo todo sobre o nome da rua onde vive. “Todo mundo com quem eu faço um cadastro pergunta, realmente. ‘Olha, que nome diferente’. Ou então: ‘Repete, por favor’. Muita gente já até sabe que é no Estrela Sul, porque aqui todas as ruas têm esses nomes diferentes.”
Ela mora no endereço há um ano e meio e diz que já conhecia a rua, antes mesmo de se mudar, por ter estudado em uma faculdade próxima ao logradouro. “Você sabe porque tem esses nomes, quem que deu?”, questionou a publicitária à reportagem.
Respondendo à pergunta inicial de Aline, “Flores de Ouro Preto”, poema de Murilo Mendes, foi inspiração para o ex-vereador Gabriel dos Santos Rocha, conhecido como Biel, sugerir, em forma de projeto de lei, o nome de uma das ruas do Bairro Estrela Sul. Além deste poema, “Luz Interior”, de Affonso Romano de Sant’Anna, “Pétala Misteriosa”, de Lindolfo Gomes, e “Episódio Sentimental”, de Pedro Nava, dão um toque cheio de poesia aos logradouros do bairro. Inclusive o endereço da Tribuna, Alameda “Pássaros da Polônia” é título de um poema de Marta Gonçalves. Além do Estrela Sul, o ex-vereador ainda deu nome a ruas do Bairro Jardim dos Alfineiros, na Zona Norte. “Trem da Tarde”, poema do também ex-vereador Flávio Checker, foi inspiração para batizar uma via do bairro.
Biel conta o motivo de ter sugerido tais nomes. “As pessoas precisam responder com frequência o endereço de onde moram, é um aspecto da cidadania, e muitas vezes as pessoas não se identificam com o nome das ruas, nem sabem quem é aquela pessoa que está sendo homenageada. Foi uma forma de homenagear a cultura juiz-forana. Eu quis despertar nas pessoas querer saber mais.”
A intenção de Biel, na análise de Moratori, é acertada. “Nomes de ruas trazem diversos personagens da história brasileira. A escolha desses nomes deve ser feita de forma a fomentar o interesse pelo conhecimento em determinado assunto, seja este histórico, cientifico, botânico, político, entre outros. A maior questão é saber identificar a diferença entre história, memória e homenagem, buscando entender a real função dos nomes das ruas e seus motivadores.”