Novos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que 163 municípios de Minas Gerais são interbiomas, ou seja, estão localizados em mais de um dos três biomas espalhados pelo estado: Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga. O novo levantamento do instituto reforça a importância de compreender a fauna e flora da região em que vivemos para preservar essas áreas. Pensando em ensinar o tema de forma didática e atrair a atenção de alunos, o pesquisador Saulo Paschoaletto propôs estratégias de aprendizado unindo as características dos biomas brasileiros a histórias em quadrinhos.
Há 15 anos, Saulo Paschoaletto atua como professor do Ensino Médio na Rede Estadual do Rio de Janeiro e usou sua experiência em sala de aula para aplicar práticas ligadas à informatização na sala de aula. Durante o mestrado profissional em Ensino de Biologia em Rede Nacional (PROFBIO), do Instituto de Ciências Biológicas, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o pesquisador buscou compreender o que os alunos já sabiam sobre os biomas e reforçar esse conhecimento prévio com atividades didáticas, com o objetivo de fomentar o protagonismo dos estudantes em relação ao processo de ensino-aprendizagem.
Conhecer os biomas é fundamental para conservação
O professor destaca a importância deste tipo de atividade com os estudantes para proporcionar autonomia e senso crítico frente ao negacionismo científico da atualidade. Além disso, Saulo reforça que muitos alunos não reconhecem o próprio bioma em que vivem. Em alguns casos, os estudantes já ouviram falar sobre outros biomas mais distantes, como os africanos, por exemplo. O professor acredita que um dos passos para a conservação é compreender a própria essência, e isso pode ser feito a partir do conhecimento sobre o próprio local. Assim, os alunos passam a valorizar e preservar esse bioma, porque se identificam como parte do todo.
“Mais importante do que diferenciar os biomas é compreender qual o nosso papel na conservação destes locais, na qual habitamos, exploramos, nos relacionamos e convivemos. Compreender que pequenas atitudes podem gerar situações favoráveis ou prejudiciais para essa e as próximas gerações. Ter consciência de onde estamos e para onde vamos, ou pretendemos chegar, é essencial”, afirma Saulo.
A pesquisa passou por várias etapas, desde o uso de estratégia de etiqueta em nuvens e a técnica de “brainstorming” em ambiente virtual a aulas didáticas sobre as principais características de biomas, com ênfase nos brasileiros. A elaboração de história em quadrinhos sobre um dos biomas foi feita a partir de ferramentas virtuais e/ou aplicativos para smartphones.
Os três biomas presentes no estado são uns dos mais estudados no Ensino Médio e se diferenciam conforme suas características. O professor explica que o cerrado é o bioma predominante em Minas, ocupando 57% do território total, enquanto a Mata Atlântica representa 41%, principalmente na região leste e sudeste, e a Caatinga com 2%, presente em uma pequena área no norte do estado. “Também pode ser encontrado o bioma Campos Rupestres, caracterizado por vegetação de altitude, presente na região da Serra do Espinhaço”, diz Saulo.
Plano Municipal da Mata Atlântica foi criado há um ano
Juiz de Fora e a Zona da Mata não se classificam como interbioma, já que a região é composta apenas pela Mata Atlântica. Com o objetivo de preservar esse bioma, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) anunciou, no ano passado, a criação do Plano Municipal da Mata Atlântica, realizado em parceria com a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O documento mostrou que a cidade ainda possui uma grande área preservada e propôs estratégias de governanças para tentar incluir o município no programa Tree Cities of The Word, da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO-ONU) e da Arbor Day Foundation (EUA), que podem atrair investimentos em ações de sustentabilidade.
“Juiz de Fora se destaca muito no domínio da Mata Atlântica com uma boa cobertura de florestas, embora ainda precisamos melhorar alguns pontos, como ampliar as unidades de conservação para fora da malha urbana e restaurar áreas que foram muito desmatadas no passado. A proposta é que a universidade continue atuando junto com o Conselho Municipal de Meio Ambiente da PJF, mostrando a importância dessas ações e acompanhando para que o projeto realmente saia do papel”, explicou o pesquisador e professor de biologia da UFJF, Fabricio Alvim, que participou da elaboração do plano da Mata Atlântica, em entrevista à Tribuna em junho de 2023.
A reportagem questionou a PJF sobre o que já foi feito ao longo deste um ano que se passou desde a criação do plano, mas não teve retorno.