A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) anunciou, em coletiva realizada na manhã desta terça-feira (15), o retorno das obras do novo Hospital Universitário (HU). O empreendimento sofreu diversas paralisações desde seu lançamento, há 12 anos, e, com os recursos do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo federal, a expectativa é de que o HU seja concluído em 2026. Para a entrega final da estrutura, que fica localizada em um platô ao lado do campus principal da Universidade, no Bairro Dom Bosco, serão investidos cerca de R$ 180 milhões. O anúncio foi feito pelo reitor da UFJF, Marcus David, ao lado da vice-reitora, Girlene Alves, e do superintendente do HU, Dimas Araújo, em evento que contou também com a presença da prefeita de Juiz de Fora, Margarida Salomão (PT), e da deputada federal Ana Pimentel (PT).
Ao todo, o projeto do novo HU conta com 11 blocos, sendo que dois já estão totalmente prontos e em funcionamento. O recurso do PAC será destinado ao andamento das obras dos outros nove blocos, que irão permitir atividades administrativas, de assistência, ensino e pesquisa. Atualmente, o Hospital Universitário se divide em duas unidades, nos bairros Santa Catarina e Dom Bosco, com uma equipe de 1.638 funcionários. Segundo informações divulgadas pela UFJF, o equipamento atende a aproximadamente 1,7 milhão de pessoas por ano.
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“O projeto exigia a discussão de um plano assistencial que precisava ser pactuado com o Município para atender as necessidades da população, mas que, ao mesmo tempo, oferecesse uma capacidade de melhoria e avanço da formação dos nossos alunos da área da saúde”, ressaltou o reitor. A Prefeita Margarida Salomão destacou que a cidade ainda não tem um grande hospital público para atender as demandas da população juiz-forana, o que leva a parcerias com o setor privado, e que, com a conclusão das obras do novo HU, não só Juiz de Fora, mas a microrregião será beneficiada.
O objetivo do novo hospital é centralizar as atividades em uma única área e ampliar o atendimento, assim como suprir uma lacuna do município em áreas especializadas. Desde 2015, as obras estão paralisadas e, dos nove blocos, apenas dois atingiram uma taxa de conclusão acima de 50%. Conforme a Universidade, a única obra que está em execução hoje é do Bloco E9, que ampliará a capacidade dos ambulatórios do hospital. O espaço já está em fase final com 98% de conclusão dos trabalhos. Em abril desde ano, a instituição de ensino havia informado ao jornal que a inauguração do Bloco E9 estava prevista para o final de setembro, mas foi adiada para novembro.
Confira a fase das obras de cada bloco do Hospital Universitário:
- Blocos A e B: ambulatórios, cirurgias e métodos diagnósticos (concluídos)
- Bloco E9: ambulatórios (98%)
- Bloco E8: administrativo, exames e ambulatórios (65%)
- Bloco E7: ensino, pesquisa e acesso dos funcionários (40%)
- Bloco P: passarelas de interligação dos blocos (0%)
- Bloco E: internação, maternidade, cirurgias e UTI (40%)
- Bloco F: Centro de Parto Normal (35%)
- Bloco G: Centro de Atenção Psicossocial (concluído)
- Bloco H: cantina, centro de convivência e ecumênico (40%)
- Bloco I: oncologia (10%)
- Bloco EG: edifício garagem (0%)
Ainda não há previsão para o início das obras do HU
Questionada pela Tribuna na entrevista coletiva desta terça-feira, a UFJF não informou uma previsão para a divulgação da licitação que escolherá a empresa que dará reinício às obras que estavam paralisadas. No entanto, o reitor Marcos David garantiu que a equipe técnica da Universidade está desenvolvendo estudos de avaliação para monitorar algumas perdas de infraestrutura causadas pela interrupção de oito anos. O diretor ainda descartou a possibilidade da perda de equipamentos, pois, até o momento, nenhum material foi adquirido. “Em alguns blocos nós já demos início; outros já foram concluídos, então não são impactos tão relevantes.”
O reitor também explicou que a primeira etapa será a de licitação para refazer os projetos, conforme as atuais necessidades. “Essa fase já está muito adiantada e, imediatamente, na sequência, será a contratação das obras. Nós estamos trabalhando com o cronograma de que a obra estará concluída em 2026”, afirma Marcos David.
Aumento do número de leitos
O Bloco E é o maior prédio do complexo, com 20 pavimentos, e ali serão instalados dez leitos de enfermaria psiquiátrica, sendo que hoje o HU-UFJF não conta com leitos dessa natureza. Além disso, serão ofertados, no total, 78 leitos clínicos e 78 leitos cirúrgicos. O novo prédio também contemplará um centro de tratamento de queimados com capacidade para 12 leitos.
As áreas de pediatria, ginecologia e obstetrícia também serão ampliadas através da disponibilização de 13 leitos de obstetrícia, 25 leitos pediátricos e dez leitos de UTI pediátrica. Também será inaugurada uma área de hemodinâmica e 40 leitos de UTI para adultos, divididos em dez leitos clínicos, dez cirúrgicos, dez coronarianos e dez neurológicos.
Já na estrutura para pesquisa e formação de profissionais, o novo hospital contará com 78 novos espaços, como 20 salas destinadas a discussões de casos clínicos, cinco salas de reunião, 13 salas de aula, dois auditórios e 17 locais para a preceptoria e orientação de alunos. Além disso, serão construídos 15 ambientes de estudo para estudantes e residentes, além de uma biblioteca física. A expectativa é de que a expansão resulte na formação de 361 residentes por ano, 117 projetos de extensão e 185 de pesquisa.
Superfaturamento
Em 2018, a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF) deflagraram a operação “Editor”, com o intuito de apurar fraudes em licitação, falsidade ideológica em documentos públicos, concessão de vantagens contratuais indevidas, superfaturamento e peculato envolvendo as obras do Hospital Universitário (HU). A investigação cobriu o período da gestão do ex-reitor da UFJF Henrique Duque e o levou à prisão preventiva. Os crimes teriam resultado em um prejuízo de R$ 19 milhões aos cofres públicos.
Conforme matéria publicada pela Tribuna em abril, o valor inicial previsto da obra era de R$ 149 milhões e teria passado para R$ 244 milhões, representando aumento de quase 64%. A auditoria realizada por técnicos do Tribunal de Contas da União (TCU) concluiu que teria havido, ao longo da execução do contrato, superfaturamento superior a R$ 9 milhões, em razão da prática de preços superiores aos correntes no mercado.