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Transporte coletivo ultrapassa 6 milhões de usuários pela primeira vez em dois anos

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A partir de junho de 2020, sistema começou a apresentar sucessivo crescimento no número de passageiros (Foto: Fernando Priamo)
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Após um período de muitas incertezas por conta da pandemia da Covid-19, o avanço da campanha de vacinação resultou em um maior controle da crise sanitária entre o fim de 2021 e o início de 2022. Aos poucos, a sensação de volta à normalidade se tornou concreta. Com o fim das restrições, serviços e comércio funcionam da mesma forma e nos mesmos horários em que funcionavam antes da pandemia, que, após se disseminar pelo planeta, impactou o Brasil a partir de março de 2020. Os efeitos da retomada das velhas práticas são diversos. Podem ser vistos, por exemplo, nos números do transporte coletivo urbano de Juiz de Fora. Em março deste ano, dois anos após o início da pandemia, o número de usuários dos ônibus urbanos superou, pela primeira vez em dois anos, a marca de seis milhões de usuários em um mesmo mês. Foram, 6.241.123 bilhetes utilizados, no mês de março, segundo o Portal da Transparência da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF).

A marca, todavia, ainda está distante da vista nos períodos que antecederam a pandemia. Como exemplos, nos meses de janeiro e fevereiro de 2020, pouco antes do início da pandemia, períodos em que, historicamente, a demanda pelo serviço é menor por conta de situações como as férias escolares e o carnaval, o número de usuários/mês registrado no sistema de transporte coletivo urbano foi de, respectivamente, 7,3 milhões e 7,1 milhões. A partir de março daquele ano, porém, o setor amargou quedas expressivas. O pior momento para o transporte coletivo urbano aconteceu em abril de 2020, quando o número de usuários/mês foi de 2.651.157. A partir daí, o crescimento do número de bilhetes utilizados no sistema foi aumentando de forma contínua.

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Em junho de 2020, o sistema retomou o patamar de três milhões de usuários/mês. Em setembro do mesmo ano, esse número já havia chegado à casa dos quatro milhões. Só em agosto de 2021, todavia, o número de pessoas utilizando o sistema chegou ao patamar de cinco milhões em um mesmo mês. Em março de 2022, a demanda rompeu a barreira de seis milhões de usuários pela primeira vez em dois anos. Assim, a média mensal de passageiros nos três primeiros meses do ano foi de pouco mais de 5,5 milhões de usuários. Em 2019, último ano em que a pandemia não havia trazido impactos no primeiro trimestre, por exemplo, a média foi de 7,3 milhões de usuários.

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Sistema já apresentava tendência de queda mesmo antes da pandemia

A despeito do crescimento contínuo do número de usuários que acessaram o sistema nos últimos meses, a expectativa do setor é de que os patamares observados até 2019 não sejam mais alcançados. Na verdade, a redução no número de usuários já vinha sendo observada ano a ano. Pegando o mês de março como referência, em 2015, o sistema registrou um total de 10.136.269 de usuários; em março de 2016, 9.775.836; em 2017, 9.648.653; em 2018, 9.063.889; até chegar a 8.124.101 em março de 2019, um ano antes do início dos reflexos da pandemia na cidade.

Desta forma, o diretor do Consórcio Via JF, uma das duas concessionárias que operam no sistema de transporte coletivo urbano de Juiz de Fora, Rafael Santana, não acredita que o setor irá retomar o patamar de usuários observados até 2019. “Março é um mês que, historicamente, sempre transporta mais passageiros”, ressaltou, sobre o crescimento observado em relação aos meses de janeiro e fevereiro. “É muito difícil prever. Estamos aumentando oferta paulatinamente. À medida que a Universidade Federal de Juiz de Fora voltou, consequentemente, os passageiros aumentaram. Estamos ampliando semanalmente a oferta de ônibus baseada em dados técnicos em conjunto com a Secretaria de Mobilidade Urbana. Temos que trabalhar com a realidade. Acho que nós não vamos 80% a 85% do que era”, afirmou.

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Segundo ele, ao observar a realidade de outras cidades brasileiras, a tendência de queda no número de usuários já era uma característica dos sistemas de transporte coletivo urbano no país. “Retomar ao que era, é muito difícil. O sistema de transporte já vinha apresentando uma queda natural. Há uma série de fatores. Primeiro, a concorrência do transporte individual. Segundo, a falta de investimento em infraestrutura para o transporte público. Isso diminui a velocidade média da operação do transporte. Com uma velocidade menor, os usuários têm que enfrentar o trânsito, por exemplo, e passam a enfrentar os mesmos problemas do transporte individual. Assim, acabam optando por outro modelo de transporte. Outro fator é o desemprego, que impacta diretamente no transporte público e na venda de vale-transporte”, avalia.

Outros meios

Por meio de nota, o Consórcio Manchester, que também opera o serviço de transporte coletivo urbano na cidade, também não acredita que o número de usuários do sistema vai retornar a patamares anteriores à pandemia. “Fato é que, durante a pandemia, muitos usuários do transporte coletivo migraram para outros meios de transporte e hábitos realizados home office, além da queda tradicional que já vinha sendo verificada devido em especial à descentralização das atividades que dispensa uso de transporte para acessar comércio, indústria e etc.”

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Prefeita sinaliza retomada de subsídio e congelamento da tarifa

Tarifa do sistema de transporte coletivo, congelada em R$ 3,75 desde 2019, não deverá ter aumento em 2022. Município pretende aportar recursos no modal, por meio de uma subvenção social (Foto: Fernando Priamo)

A prefeita Margarida Salomão (PT) afirmou, em maio, que a tarifa do sistema do transporte coletivo urbano de Juiz de Fora, que está congelada em R$ 3,75 desde 2019, não terá aumento em 2022. Com isso, Margarida sinalizou que o Município poderá voltar a aportar recursos financeiros no sistema, por meio de uma subvenção social, o que é defendido pelas duas concessionárias.

No ano passado, a Prefeitura repassou R$ 11,9 milhões para os dois consórcios como forma de manter o valor da passagem. Os valores a serem pagos a título de subsídio em 2022 ainda não são conhecidos e, caso o caminho seja de fato proposto pelo Município, a concessão da nova subvenção precisará ser aprovada pela Câmara Municipal. “Vamos continuar a subsidiar para que a tarifa de Juiz de Fora continue a ser uma das mais baratas do Brasil. Aliás, nós queremos que o preço de Juiz de Fora continue a ser um dos menores do Brasil, com um serviço de qualidade”, disse a prefeita.

Em nota encaminhada à Tribuna, o consórcio Manchester avaliou que o congelamento do preço da tarifa, que não foi reajustada em 2020 e 2021, entre outros fatores, impactam o desequilíbrio financeiro do contrato de concessão assinado em 2016. “O transporte coletivo de Juiz de Fora vem recebendo apenas as cobranças de cumprimento de contrato de concessão, sendo que a Prefeitura está, há anos, inadimplente em relação ao cumprimento das obrigações previstas no mesmo contrato. Mas, a pior e mais grave falta da Prefeitura ao insuportável desequilíbrio econômico-financeiro que o município impôs ao sistema de transporte refere-se à tarifa. O último reajuste tarifário ocorreu em 2019, há quase três anos. Em todo este período, foram inúmeros os aumentos de custos, em especial o combustível que sozinho subiu mais de 50% nesse período, e representa quase metade dos custos da tarifa, e, para solucionar indicativo de greve, reajustou-se os salários dos trabalhadores”, afirma a concessionária.

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O Manchester ainda afirma que mesmo os valores pagos pela Prefeitura de Juiz de Fora, a título de subsídio, em 2021, não cobriram prejuízos financeiros da operadora do serviço. “Foi concedido R$ 1,7 milhão por mês quando o prejuízo mensal do sistema é superior a R$ 5 milhões por mês. Mas, a partir de janeiro de 2022, esse subsídio foi simplesmente cortado pela Prefeitura, sem sequer as empresas serem avisadas, o que ocorreu justamente quando as empregadoras reajustaram os salários pelo INPC.” A concessionária cobra ainda um reequilíbrio dos custos entre os dois consórcios.

Cerca de 3% das viagens programadas não foram realizadas em 2022

Ainda sobre o sistema de transporte coletivo urbano de Juiz de Fora, entre 2021 e 2022, os dados constantes no Portal de Transparência da Prefeitura de Juiz de Fora apontam um aumento significativo no número de viagens previstas, mas não realizadas pelas duas operadoras que prestam o serviço na cidade. Ao longo dos 12 meses de 2021, o percentual de viagens não realizadas sempre se manteve próximo de 2%. Em dez meses do ano, inclusive, ficou abaixo deste patamar. Apenas em março (2,07%) e em dezembro (2,03%), essa marca ficou ligeiramente acima de 2%.

Por outro lado, nos três primeiros meses deste ano, essa marca sempre ficou acima de 3%, sendo 3,5% em janeiro; 3,15% em fevereiro; e 3,48% em março. Desta forma, há um aumento perceptível no número de viagens não realizadas de um ano para o outro.

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Linhas mais afetadas

Em março deste ano, esse percentual de viagens não realizadas ficou acima de 10% em 14 linhas: 590 – Zona Sul/UFJF/CAS (52,27%); 525 – Universidade (44,98%); 607 – Jardim Natal (34,97%); 535 – Universidade (33,66%); 115 – Mundo Novo/Quintas da Avenida (23,33%); 399 – Olavo Costa (23,12%); 307 – Barão do Retiro/Floresta (17,76%); 118 – Parque Independência/Cidade Nova/Vale Verde (16,06%); 203 – Marumbi (15,27%); 222 – Bom Pastor/Santa Catarina (14,75%); 508 – Avenida Deusdedith Salgado (14,62%); 522 – Teixeiras (12,94%); 215 Bairu/Cruzeiro do Sul (11,03%) e 512 – Dom Bosco/Borboleta (10,41%).

À Tribuna, o consórcio Via JF se posicionou sobre os números das linhas operadas pela concessionária – no caso, das 14 listadas, o consórcio opera seis linhas: Mundo Novo/Santa Terezinha; Centro/Olavo Costa; Parque Independência/Cidade Nova/Vale Verde; Centro/Marumbi; Santa Catarina/Bom Pastor e Bairú/Cruzeiro do Sul.

“Os dados da Prefeitura não computam as viagens validadas depois. Às vezes, o GPS não pega a validação da viagem. Daí, vamos lá e comprovamos a realização da viagem, seja por vídeo e por sistema de telemetria. Esses dados que vão para o Portal da Transparência não computam essas viagens que são comprovadas depois, porque acontece todo um processo de análise para verificar a realização da viagem”, explicou Rafael Santana.

As demais linhas citadas são operadas pelo Consórcio Manchester que não comentou sobre os números levantados pela reportagem.

Por sua vez, a Secretaria de Mobilidade Urbana da PJF afirmou que “autua diariamente os consórcios pelas viagens não cumpridas, que a punição prevista em contrato”. “Além disso, pelo não oferecimento de um serviço de qualidade ao usuário do transporte público, entre outras questões de descumprimento de cláusulas contratuais, a SMU iniciou um processo administrativo de caducidade de contrato com o Consórcio Manchester, que, devido a uma decisão judicial, teve que ser paralisado temporariamente”, diz a pasta por meio de nota.

Gratuidade

O percentual da gratuidade entre os usuários do sistema de transporte coletivo urbano de Juiz de Fora também vem aumentando ao longo dos dez anos. Conforme dados do Portal da Transparência da PJF, entre 2013 e 2014, este percentual sempre variou entre 9% e 10%. Em 2015, ele chegou pela primeira vez em 11%. Em agosto de 2016, alcançou 13%. Em outubro de 2017, chegou a 15,4%. De lá para cá, o maior patamar mensal foi de 16,3%, em janeiro, pouco antes dos reflexos da pandemia na cidade. Nos três primeiros meses de 2022, este percentual variou perto da casa de 14%.

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