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PM investe em prevenção através de projetos sociais

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Educação e cidadania: os treinadores e as crianças e adolescentes do projeto Jovens para o futura (Foto: Marcelo Ribeiro)
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Sobre o tatame preto várias histórias de vida são reunidas. Entrelaçadas, se moldam e revelam que há outros caminhos a seguir. Crianças e adolescentes de até 15 anos vislumbram que o futuro deve e pode ser melhor por meio da prática do jiu jitsu. Elas fazem parte do projeto Jovens para o Futuro, idealizado pelo cabo da Polícia Militar, Wigmam Albuquerque Carvalho, de 33 anos. Além de mostrar para seus alunos outras realidades, o militar espera dar visibilidade ao lado mais humano da corporação da qual faz parte. “É uma forma de desfazer essa mística de que o PM é alguém que dá medo. A gente quer mostrar uma outra visão a respeito do policial. Como a Polícia Militar tem como linha de frente o trabalho de repressão, a sociedade fixa só uma imagem da corporação, que é diferente do que a gente é. Somos pessoas comuns, que passaram em um concurso público para defender a sociedade. As crianças que aqui frequentam enxergam o policial de outra forma, pois têm contato diário comigo e acabam formando outra visão”, considera Wigmam.

Os treinos são realizados três dias por semana, sempre às 18h30, atendendo a crianças e adultos dos bairros Ipiranga, Santa Efigênia, Jardim Gaúcho, Sagrado Coração de Jesus e adjacências. A sede funciona num imóvel, localizado na Rua Antônio Castro, no Ipiranga, Zona Sul, área da 32ª Companhia de Polícia Militar. Ao todo, são 40 participantes bolsistas que recebem as aulas sem pagar nada, sendo 25 crianças e 15 adultos que começaram pequenos e permanecem no projeto, que existe desde 2009. O aluguel do imóvel e as contas de água e energia são quitadas com as mensalidades de outros alunos, que são pagantes. “Tudo começou quando percebemos que as crianças não tinham condições de pagar. Meu filho na época tinha seis anos e não havia aluno da mesma idade para treinar com ele. Assim, ofereci seis bolsas e não paramos mais. Além dos treinos, conseguimos fazer alguns passeios com essas crianças, apresentando outras realidades”, diz o policial.

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Superação acompanhada de generosidade

Wigmam conta que desde a infância gostava de artes marciais, mas não tinha condições de treinar. “Aqui, resolvi uma frustração minha e tenho a oportunidade de oferecer essas aulas para outras crianças sem condições”, afirma o militar, que já tem preparado substitutos. O estudante Thomaz Abreu, 23, morador do Santa Efigênia, foi uns dos primeiros alunos do projeto e hoje já é professor. “Hoje, o projeto é tudo para mim, pois me abriu muitas portas. Deu-me a oportunidade de viajar, conhecer diversos lugares. Acho de suma importância ter o esporte na vida dessas crianças. O Jiu Jitsu ensina uma filosofia de dedicação, organização, pontualidade, tudo isso faz diferença na nossa vida. Hoje, as ruas estão perigosas e estar aqui me tirou delas, abrindo minha cabeça para outras realidades, para os estudos e hoje sou estudante de enfermagem”, pontua Thomaz.

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Com jeito delicado, Vitória Luanda de Oliveira, 13, não parece que já luta há cerca de seis anos. Ela é uma das quatro meninas que frequentam os treinos. Moradora do Bairro Sagrado Coração de Jesus, a adolescente, que encara a luta como prática de menina também, enumera as muitas coisas legais que aprendeu no esporte. “Não considero que seja uma atividade só para meninos, há o lugar para as meninas e espero que outras mais venham fazer parte”, convida. Vitória diz que, depois que começou a treinar, sua família e seus estudos ganharam mais valor. “Estou na oitava série e agora penso em fazer faculdade de veterinária.”

Para o cabo Wigmam, a história de cada um de seus alunos é incentivo para a continuidade do projeto. “Aqui estamos formando pessoas de caráter, mesmo sendo criadas em meio a uma realidade muitas vezes cruel e permeada pelo tráfico de drogas e pela violência. Eu me sinto parte da história de cada um”, resume o militar.

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Segurança não é só questão de polícia

Projetos como o do cabo Wigmam, no Ipiranga, podem ajudar a fortalecer a ideia de que segurança não é apenas questão de polícia e contribuem para a quebra de estigmas. Na visão do professor da Faculdade de Comunicação da UFJF, Ricardo Bedendo, que é pesquisador da área de segurança pública, esse tipo de iniciativa pontua o que seria a função mais estratégica dos agentes públicos de segurança, que é a ação preventiva. “Penso em uma ostensividade social que não tem a ver somente com a polícia militar que é uma representação do Estado, que está nas ruas prevenindo crimes, mas sim aquela que também contribui com ações que possam trabalhar, principalmente, com as crianças e os adolescentes, oferecendo alternativas necessárias para essa função estratégica no que diz respeito à manutenção da ordem e ao combate à criminalidade. Isso ajuda a reforçar a ideia do real e efetivo papel da segurança pública, que deve começar pela educação”, ressalta o professor.

Bedendo ainda defende que é fundamental a compreensão de que esses projetos são importantes a fim de mostrar que segurança não é apenas questão de polícia. “Quando se envolve diferentes atores, conseguimos dar uma elasticidade à visão do que é a segurança pública. Sempre digo que nossos políticos precisam investir nessas iniciativas, que muitas vezes são dos próprios policiais e com recursos próprios. Na verdade, é preciso haver modelos políticos que incentivem os policiais a institucionalizar essas ações. É fazer com que elas sirvam de referência, fortalecendo o papel do Estado e abrindo a possibilidade para que outros parceiros fundamentais ao sistema de justiça criminal social participem desse processo, pois a PM não pode ficar sozinha”, aponta Bedendo.

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Ele ainda lembra que projetos com cunho mais humanizado fortalecem a confiança entre a polícia e a população, quebrando estereótipos. “A partir do momento em que se tem hoje uma formação diferenciada, em Minas, de um policiamento mais focado nos direitos humanos, uma filosofia de policiamento comunitário, esses projetos estimulam o aprimoramento e as descobertas de novas propostas do que seria realmente um policiamento comunitário. Não é fácil, é um desafio, porque, acima de tudo, estamos falando de questões culturais que não se modificam da noite para o dia e sim a médio e longo prazos”, conclui o pesquisador.

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