De mãos dadas e vestes brancas, elas tomam boa parte do salão que leva, não por acaso, o nome de uma mulher, a Galeria Maria Amália, em homenagem à mãe de Alfredo Ferreira Lage, fundador do Museu Mariano Procópio. Exatamente como o museu juiz-forano, tão desacreditado de seu futuro por tanto tempo, 13 mulheres do grupo de apoio Vitoriosas da Ascomcer, destinado a pacientes de câncer de mama, encontraram ali, naquela galeria recentemente reaberta, razões para terem mais força, esperança e confiança no amanhã.
Idealizado pela psicóloga Larissa Gava, o Projeto “Quem somos nós?” visa a fortalecer a autoestima de mulheres diagnosticadas com câncer de mama por meio de sua beleza natural, captada pela fotografia. Na última terça-feira, as integrantes do grupo fizeram um ensaio na galeria e no jardim do museu e foram retratadas pela fotógrafa Jacqueline Malta. “Quando são diagnosticadas, os primeiros pensamentos das mulheres com câncer são em morte, em um tratamento doloroso, em sofrimento. Nossa ideia é valorizar a beleza delas e restaurar a confiança, algo que, além de fazer bem emocionalmente, traz impactos positivos ao tratamento”, diz Larissa. “Quero mostrar o que tem de bonito e forte nelas”, completa.
O efeito foi imediato. No tão representativo apoio que uma paciente dá à outra, os sorrisos são uma unanimidade. Em tratamento hormonal previsto para durar dez anos, Patrícia Mamedes, de 46 anos, e diagnosticada em 2013, considera iniciativas como esta fundamentais para o tratamento. “Eu me senti linda, especial, valorizada e privilegiada por ter a chance de me enxergar assim junto com as minhas amigas. Se não fosse o grupo, não seria a mulher que sou hoje. Projetos como este me fortalecem e me fazem ter certeza que a Patrícia não é aquela mama que retirei. Tenho muita coisa boa e bonita. Consegui achar forças em mim que nem sabia que tinha. E sou grata por cada chance de ver isso.”
‘A gente gosta de mostrar o que passou’
Cleonice diz, ainda, que estar reunida com as mulheres do grupo tornou o ensaio fotográfico ainda mais especial. “A gente tem reações de medicamentos: dores, calores… Se digo para minha filha que está quente, ela vai concordar ou não de acordo com o tempo. Mas no grupo, a gente sabe exatamente o que a outra está sentindo. É muito bom e importante passarmos por este momento de autoestima juntas”, diz ela, que não precisa de muitas palavras para descrever como se sentiu na tarde no museu com maquiagem, fotografia e piquenique com as outras integrantes: “Vitoriosa”.
Para Patrícia Mamedes, o dia diante das lentes foi mais um marco do fortalecimento mútuo e contínuo que as amigas do grupo proporcionam. “Elas me mostraram, com suas experiências, que cada efeito colateral ruim era apenas uma fase do tratamento, e isto me levantou para ir adiante. Não queria fazer a reconstrução da mama que retirei, e elas me incentivaram muito, me mostraram o resultado de suas cirurgias, indicaram médicos, e eu tive coragem. Conversamos sobre tudo: sexualidade, família, doença, medo… tudo. Elas me ensinaram a me amar em primeiro lugar. Quando cheguei, era toda tímida e reservada. Vejo isso acontecendo com algumas novatas, e como elas vão se soltando ao longo do tempo, e ficando assim como eu estou, ‘toda toda'”.