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Governo de Minas confirma fechamento da Escola Estadual Estêvão de Oliveira

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Com mais de 300 alunos e cerca 60 servidores, entre professores e demais funcionários, a Escola Estadual Estêvão de Oliveira, já tradicional em Juiz de Fora com 95 anos de história, está em processo de desmantelamento. O assunto ganhou as redes sociais, repercutindo na cidade e causando preocupação aos estudantes, pais e toda a comunidade escolar.

Questionada pela Tribuna de Minas a respeito da situação, a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE/MG) informou, nesta segunda-feira (15), que o estabelecimento educacional funciona, atualmente, em um prédio alugado. A pasta ressalta que não foi possível renovar o contrato em razão da não apresentação, pelo proprietário, dos documentos exigidos do imóvel.

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“Desta forma, os cerca de 300 alunos da unidade serão absorvidos pela Escola Estadual Delfim Moreira, sem prejuízo de localização, pois a referida escola fica na mesma região e comporta novas matrículas. Os servidores efetivos também serão realocados. Os servidores convocados/contratados para atuar na rede estadual terão a chance de concorrer à segunda rodada de vagas dos processos. A Superintendência Regional de Ensino (SRE) de Juiz de Fora, responsável pela coordenação da escola, já se reuniu com a equipe gestora da unidade de ensino na sexta-feira (12) para explicar a situação. Nesta segunda-feira, passará todas as informações sobre a transferência para as famílias dos estudantes”, explicou a pasta.

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A SEE/MG ainda destacou que “vale lembrar que as atividades letivas de 2021 da rede pública estadual de ensino tiveram início de forma remota e por meio do regime de estudo não presencial.

Prédio alugado para a E.E. Estêvão de Oliveira, instituição que funcionava há 95 anos na cidade (Foto: Fernando Priamo)

Sindicato aponta para descaso com educação

A escola nunca teve uma sede própria e, atualmente, vinha ocupando um imóvel alugado, na Rua Oscar Vidal, no Centro. De acordo com o Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-Ute) Subsede Juiz de Fora, o descaso do Poder Público para com esta instituição se dá em toda a sua existência: a falta de um prédio para funcionamento, o deslocamento constante dos profissionais e alunos de um endereço para outro e a despreocupação em estabelecer diálogos com a comunidade escolar para compreender as demandas constantes. “A notícia sobre o fechamento da escola chegou de forma abrupta, deixando servidores e alunos sem compreender ao certo o que acontecia”, lamentou o Sind-Ute em nota de repúdio.

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Conforme o texto do sindicato enviado à Tribuna, “o governo de Romeu Zema (Novo) não dá trégua à educação mineira. Seu projeto ultraneoliberal expõe constantemente, desde 2019, os profissionais da educação a situações vexatórias e humilhantes. O desemprego é o seu lema mais forte, junto à falta de cuidado e atenção para com as comunidades escolares.”

O órgão sindical ainda ressalta que “o desmonte ocorre em plena pandemia do novo coronavírus (Sars- Covid 19) e deixa dezenas de profissionais designados nas fileiras do desemprego. As designações, processo para distribuição de vagas de cargos públicos, ocorreram, exatamente, dias anteriores ao fechamento da escola.”

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Com o encerramento das atividades, como aponta o Sind-Ute, os servidores designados não receberam ainda qualquer orientação da Superintendência Regional de Ensino do município de Juiz de Fora (SER/JF) sobre sua situação. “Os servidores efetivos não perderão seus empregos, mas terão que ser deslocados para outras escolas com o ano letivo já iniciado. Isso causará um transtorno em suas vidas e de outros colegas, visto que os horários já estavam organizados”, assinala a nota.

No texto, O Sind-Ute Subsede Juiz de Fora ainda exige posicionamento objetivo da SRE/JF com relação a essa situação. “Lutaremos ao lado dos(s) trabalhadores(as) em educação e comunidade escolar para a manutenção dessa escola histórica em nossa cidade e estado e pelo emprego dos servidores que já estavam designados(as).”

Para comunidade escolar mudança é inesperada e pode causar prejuízos

O fechamento da Escola Estadual Estêvão de Oliveira vai afetar a vida de funcionários, estudantes e pais de alunos. Karla Paixão Devitta é mãe de uma estudante surda, de 16 anos, da instituição, que é considerada referência para os alunos com surdez. A filha dela está no colégio há 5 anos e, atualmente, cursa o primeiro ano do ensino médio. “Esse fechamento da escola nos pegou de surpresa e de forma negativa, porque, no caso de minha filha, que já está lá há anos, existem laços afetivos com professores, funcionários e amigos que serão quebrados com uma transferência”, afirma.

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Segundo Karla, antes da filha começar na escola, ela realizou uma pesquisa junto à comunidade surda, que apontou o Estêvão de Oliveira como referência. “Lá, minha filha foi muito bem acolhida e tem biblioteca, sala de recursos, intérprete, ou seja, uma estrutura para acolhê-la. Quanto ingressou na escola, ficou apenas um dia sem intérprete. Isso é muito positivo e ela teve um desenvolvimento muito grande, maior do que alcançou na rede privada”, pontua a mãe, ressaltando que no turno em que a adolescente estuda há, pelo menos, cerca de oito estudantes surdos, o que, na visão dela, facilita a socialização.

Karla tem a preocupação de que essa alteração cause prejuízos para o aprendizado da adolescente. “Em outra escola, ela pode se sentir perdida, pode ser uma depressão. O Governo tem que entender que é responsável por esses estudantes e uma mudança tão repentina pode causar traumas”, lamenta Karla.

Capacidade inclusiva

Para um professor, que preferiu não ser identificado, a relevância da Escola Estêvão de Oliveira para toda Juiz de Fora é sua capacidade inclusiva, respeitando a legislação vigente desde 2015, que pede que as escolas recepcionem alunos surdos e autistas entre os estudantes ouvintes e não autistas. “É fundamental pensarmos que, quando se fecha uma escola dessa, o que ocorre? Alunos surdos já socializados com colegas ouvintes e surdos já criaram um vínculo afetivo e educativo, que é fundamental, será quebrado. Tem uma relação com o prédio, mas, sobretudo, tem uma relação com essa constituição humana chamada ambiente escolar, que é constituído por professores, alunos, funcionários da administração e funcionários de apoio. Esse vínculo que o surdo faz é difícil ser construído de uma hora para outra, o que dizer então dos autistas”, ressalta.

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Segundo o professor, depois de um ou dois anos na escola, os ouvintes começam a interagir com os surdos em libras, havendo uma socialização da língua libras, com respeito a essa forma de comunicação. “O papel da escola é importante demais para a disseminação da libras, para inclusão dos surdos no ensino regular e sobretudo para o ensino que o surdo dá para a toda a comunidade ouvinte na sua resignação de não abandonar os estudos, de não aceitar uma escola excludente, de brigar por uma escola bilíngue”, diz. “Nosso sonho é que a Estêvão se transformasse numa escola bilíngue tendo não só a recepção dos surdos, mas, também toda uma acolhida bilíngue para os surdos, como é o Ines (Instituto Nacional de Educação de Surdos) no Rio de Janeiro. Esse é um sonho que pensávamos em construir e agora foi derrubado com esse fechamento da escola.”

A instituição tem, atualmente, cerca de quinze alunos com deficiência e conta com uma sala de recursos equipada, o que a coloca como referência no ensino inclusivo.

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