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Materiais perfurocortantes: o que fazer em caso de exposição a risco biológico?

Ilustrativa RISCO BIOLOGICO FREEPIK
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Na última quarta-feira (13), foi divulgado o caso de uma mulher de 30 anos que denunciou à Polícia Militar ter sido espetada com seringa agulhada na coxa esquerda, enquanto caminhava na Avenida Getúlio Vargas, Região Central de Juiz de Fora. Conforme noticiou a Tribuna, o objeto perfurou a coxa esquerda da vítima que imediatamente procurou a polícia e atendimento médico, no dia 2, ainda no inicio deste mês.

A situação gerou repercussão e questionamento, por parte dos leitores, sobre quais atitudes tomar e quais locais buscar em casos em que há exposição a materiais perfurocortantes com risco biológico. A Tribuna ouviu o médico infectologista Marcos de Assis Moura, que esclareceu essas e outras questões sobre o tema.

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Em quanto tempo após a exposição buscar o tratamento?

A partir do momento em que ocorre um acidente com um objeto perfurocortante, como perfuração por agulha, faca ou outros objetos perfurantes, existe o risco de contaminação por inúmeras doenças e micro-organismos, conforme explica o médico. As mais preocupantes, na avaliação do infectologista e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), são a hepatite B e o vírus HIV.

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No caso da pessoa que teve relação sexual desprotegida ou que teve algum corte com um objeto contaminado, o recomendado é que já nas primeiras duas horas, e, no máximo, em até 72h, ela procure, no caso de Juiz de Fora, o Hospital de Pronto Socorro (HPS) para realizar o Protocolo de Atendimento ao Risco Biológico Ocupacional e Sexual (Parbos).

Apesar de reconhecer que o local é referência na cidade, o médico Marcos Moura destaca que a centralidade do serviço ainda é um desafio no que tange acessibilidade. “A ideia é que se tivesse mais pontos de emergência que possuíssem protocolos para atendimento desses casos, como é feito em outras cidades, em que qualquer unidade de emergência realiza o PeP (Profilaxia Pós-Exposição), inclusive em Unidades Básicas de Saúde (UBS).

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Questionada pela Tribuna sobre a questão da centralidade do serviço, a Secretaria de Saúde da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) informou que o fato de apenas uma unidade oferecer o tratamento se deve “à necessidade de vínculo à retaguarda hospitalar que possua as especialidades necessárias”.

Tratamento

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Na unidade de saúde, um profissional da saúde vai realizar a avaliação do paciente, e um médico vai orientar sobre a terapia retroviral. O procedimento, segundo Marcos Moura, consiste na administração de um coquetel de remédios para PeP, durante 28 dias. Conforme explica, a substância auxilia em frear a difusão do HIV nas diferentes etapas de produção no organismo. Após esse período, e três meses após a exposição, os exame de testagens para HIV, hepatites virais e sífilis devem ser refeitos. Segundo o médico, as taxas de sucesso são altas quando os pacientes são submetidos ao tratamento.

Acompanhamento e efeitos colaterais

Durante o processo de uso dos medicamentos combinados para profilaxia, outras recomendações devem ser seguidas, afirma o infectologista. “A pessoa tem que ser acompanhada no instituto de saúde, porque durante o uso do medicamento qualquer efeito adverso do medicamento precisa ser relatado. Isso porque ela pode precisar de nova avaliação do médico, para saber se precisa interromper ou não o tratamento ou fazer alguma orientação específica para dar continuidade”, explica ele.

Os medicamentos são todos gratuitos e distribuídos por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Embora seja uma substância bem tolerada, também há relatos de efeitos colaterais como gastrite, dor abdominal, flatulência e até mesmo dor de cabeça. Mas, o especialista deu dicas de como evitar alguns desses sintomas, diante da necessidade da PeP.

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“Os efeitos gástricos acontecem principalmente por a pessoa estar de jejum ou de barriga vazia e, às vezes, ansiedade por tomar algum remédio”, elucida o médico à medida que acrescenta que sintomas como a cefaleia aparecem nos primeiros dias, devido a potência do medicamento.

Ainda sim, em casos de sintomas adversos, um médico deverá ser procurado para orientar com as devidas especificidades dos pacientes. Outra realidade neste contexto, são os sintomas psicossomáticos devido ao medo de estar com a doença, algo que se deve, sobretudo, ao estigma. “O medo da suspeita de se contaminar com uma doença, principalmente o HIV, faz a pessoa começar a se sentir muito mal. E isso acaba sendo muito efeito induzido, então, na prática, é muito mais um fator psicológico atuando, do que propriamente o efeito do medicamento”, conclui.

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