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Escassez de contraste prejudica realização de cirurgias em JF

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A escassez nacional de contraste, insumo utilizado para a realização de exames e intervenções hospitalares, tem causado interrupção de procedimentos e suspensão de cirurgias em Juiz de Fora, prejudicando pacientes. Na última sexta-feira (9), a Secretaria de Saúde da Prefeitura (PJF) divulgou nota informando a suspensão de cirurgias vasculares e endovasculares em algumas unidades por meio do SUS – situação que, segundo a pasta, ainda persiste na cidade. De acordo com a ouvidora municipal de Saúde, Samantha Borchear, o número de reclamações recebidas pela Ouvidoria de Saúde tem aumentado em razão do problema.

“Nossa demanda tem aumentado muito de alguns meses pra cá. Não é só pela falta de contraste, mas esse é mais um entrave que dificulta a vida do usuário”, afirma. Conforme a ouvidora, é “alto o número de pacientes que aguardam vagas em uma unidade hospitalar”, além de estar aumentando a demanda de pacientes que necessitam de algum tipo de procedimento vascular – especialidade para a qual as cirurgias pelo SUS foram suspensas em algumas unidades.

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“A maioria dos usuários não tem noção do que causa a suspensão de um exame ou cirurgia. Mas agora tem chegado um ou outro paciente citando a suspensão do procedimento devido à falta de contraste”, diz. Segundo Samantha, a situação já afeta diversas unidades de saúde em Juiz de Fora. “As unidades estão com estoque comprometido. Algumas ainda têm estoque, outras estão conseguindo empréstimo, outras clínicas estão racionalizando”.

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Na nota divulgada na sexta, a pasta municipal informou que as cirurgias realizadas por meio do SUS, de forma contratualizada pela PJF, foram suspensas na Santa Casa de Misericórdia e no Instituto Brasileiro de Gestão em Saúde (IBG). O IBG, contudo, nega que a instituição tenha paralisado qualquer tipo procedimento na unidade. À Tribuna, o diretor-administrativo do instituto, Elmer Bittar Jr., afirmou que “em nenhum momento houve suspensão e que todos os procedimentos mantidos”.

“Existe uma dificuldade nacional da aquisição de contraste, que é de suma importância para os procedimentos tanto de tomografia, quanto os procedimentos cardiológicos. Porém, nós conseguimos comprar, por um valor acima do valor de mercado, e não há falta de insumos na unidade. Isso não procede em relação ao IBG”, alega. Em nota, o instituto informou, ainda, que permanece “cumprindo rigorosamente o contrato estabelecido com o município de Juiz de Fora”.

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Entretanto, procurada pela Tribuna nesta terça-feira (13), a Secretaria de Saúde da PJF voltou a afirmar que “foram suspensos por uma semana os procedimentos e cirurgias vasculares e endovasculares” – que são executados, em sua maioria, pela Santa Casa e pelo IBG -, mas que “não há suspensão total dos serviços”. A nova nota informa que “a Fundação Instituto Clínico (IBG) assumiu os procedimentos de cateterismos e os casos de infarto agudo do miocárdio (IAM), bem como, desde a última sexta-feira, aceitou alguns pacientes de vasculares e endovasculares judicializados”.

A Secretaria de Saúde informou também que “o problema persiste e segue sendo objeto de discussão das autoridades sanitárias”, e que o “Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Minas Gerais (Cosems MG) também já pautou o problema da escassez de insumos da saúde na Câmara Técnica da Comissão Intergestores Bipartite SUS de Minas Gerais (CIB-SUS/MG)”.

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Já a Santa Casa de Juiz de Fora confirmou, em nota, que está “sofrendo com a dificuldade para a aquisição do contraste, assim como outros hospitais do município, de Minas Gerais e do Brasil”. O hospital informou que, desde o fim do ano passado, tem comunicado aos órgãos oficiais sobre a situação. “Estamos focando o uso em casos de urgência e emergência e remanejando os pacientes para outros hospitais quando possível”. A nota esclarece ainda que os boatos de que a unidade estaria importando o insumo são improcedentes.

Insumo é utilizado em procedimentos e intervenções hospitalares para facilitar a visualização de órgãos e vasos sanguíneos (Foto: Ascom Santa Casa JF)

Ministério orienta uso racional de contraste

O déficit do insumo, de acordo com a Secretaria de Saúde, foi comunicado pelo Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems) ao Ministério da Saúde em abril deste ano. A orientação para o racionamento do uso de contraste iodado para exames e procedimentos médicos, entretanto, foi orientado pela pasta federal em julho, “até que o fornecimento do insumo seja normalizado”.

De acordo com o ministério, a escassez de meios de contraste ocorre de forma global, devido à interrupção nas cadeias de produção e distribuição do insumo causada pela pandemia da Covid-19. “Desta maneira, a fim de auxiliar e minimizar os danos relacionados à falta do produto, a pasta recomenda otimizar o uso dos meios de contraste, priorizando procedimentos em pacientes de maior risco e em condições clínicas de urgência e emergência”.

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A pasta federal alega que a produção das indústrias chinesas foi prejudicada pelas medidas de lockdown decretadas na China, onde está localizada uma das principais produtoras do insumo. “Uma das principais empresas afetadas, o laboratório GE Healthcare, informou, em nota, que a fábrica de Xangai havia sido afetada, mas que, desde o início do mês de junho, retomou em 100% a capacidade de produção. No entanto, devido à escassez no mercado internacional, ainda há a dificuldade no atendimento e normalização da relação entre oferta e demanda”.

A ouvidora Samantha Borchear critica a postura do órgão. “É muito fora da realidade o Ministério da Saúde lavar as mãos, solicitando simplesmente para os hospitais e clínicas racionalizarem o uso do item. É um absurdo, porque a demanda não para de crescer”, lamenta.

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