A comunidade surda lida, diariamente, com o desafio de se comunicar dentro de uma sociedade que não foi preparada para incluir. Historicamente, o mês de setembro é significativo para esta população, por conta de uma série de marcas que ressaltam a luta pela inclusão, tanto no campo das conquistas, quanto nas violências sofridas. Para celebrar essa trajetória de força e resistência, serão oferecidas programações voltadas para a comunidade surda ao longo do mês. Elas começaram pela Pastoral dos Surdos, que dividiu em três dias a sua programação, somando 16 horas de atividades, contando com palestras, danças, contação de histórias, teatro e a participação do arcebispo metropolitano, Dom Gil Antônio Moreira. O primeiro evento ocorreu nesta sexta-feira (14).
A temática do Setembro Azul dentro da Pastoral do Surdo Monsenhor Vicente de Paulo Penido Burnier é “Evangelho e Cidadania”, definida a partir do episódio de humoristas que ridicularizaram a Lingua Brasileira de Sinais (Libras) na internet. De acordo com a coordenadora da Pastoral, Flora Maria Teixeira, ao invés de contribuir para a inclusão, a atitude tem efeito contrário, por menosprezar a língua, e, por isso, deve ser combatida. “A programação já começa com uma palestra completamente apresentada em duas línguas. Vamos ter muitas apresentações de dança voltadas para o surdo, palestras com temáticas que tocam em cidadania e inclusão. É um evento no qual mostramos para a sociedade civil a cultura do surdo. Também conseguimos divulgar a Libras. Precisamos que a população aprenda a língua, para que se comuniquem os surdos se tornem, efetivamente cidadãos, por meio da dignidade.
Para a coordenadora, quanto maior a divulgação, mais difundida é a necessidade de criar novas políticas públicas, pois os surdos são cidadãos brasileiros, que nasceram no país, mas que não falam a língua oficial. “Eles precisam ser recebidos por pessoas que falem o mesmo idioma que eles em todos os setores: Educação, Judiciário, Saúde, em todos os setores”, destaca Flora. Mais do que isso, o setembro azul ajuda a promover o contato inicial para que haja inclusão efetiva. “É uma luta diária. Mas para que as pessoas entendam o contexto, a presença nesses eventos é fundamental. Por meio da participação, elas começam a conhecer melhor a cultura surda e a Libras.”
Os interessados em participar podem fazer suas inscrições no prédio da Cúria Metropolitana, Avenida Barão do Rio Branco 4.516, Alto dos Passos. É preciso pagar R$20 para ter acesso a todas as atividades, incluindo café da manhã e o certificado de participação. Também é possível participar por dia de evento. Quem decidir por essa modalidade deve pagar R$ 10 por dia. Os eventos são abertos ao público em geral.
Setembro Azul
Assim como o dia Nacional do Surdo, comemorado em 26 de setembro, data de criação do Instituto Nacional de Educação dos Surdos (Ines), no Rio de Janeiro, também se recorda o dia Internacional do Surdo e o do Profissional Tradutor, em 30 de setembro. O mês também é lembrado por outros acontecimentos históricos que impactaram negativamente a vida da comunidade surda, como o Congresso de Milão, realizado em 1880, por educadores de surdos, quando se decidiu pela proibição da língua de sinais, obrigando os surdos à oralização.
“Essa lei durou um século e foi vivida no Brasil também. É triste pensar que alguns surdos tenham tido as mãos amarradas para não sinalizar, entre muitos outros castigos brutais que eles sofriam”, destaca Flora. Outro ponto sombrio da história da comunidade surda foi justamente o uso de fitas azuis amarradas aos braços, para identificar aqueles que apresentavam alguma deficiência nos campos de concentração nazistas. O que antes representava horror e uma condenação, hoje é ressignificado como um sinal de orgulho e visibilidade e colore o movimento.