A Polícia Civil garante estar acompanhando o “deslocamento” dos homicídios para atuar contra os grupos praticantes desses delitos violentos, em atual escalada em Juiz de Fora. “Temos monitorado os crimes. Estavam muito mais focados em brigas entre bairros específicos e, agora, houve uma pulverização”, destaca o delegado Samuel Neri, que vai comandar a Delegacia Especializada de Homicídios, conforme anúncio oficial feito nesta sexta-feira (14), na 1ª Delegacia Regional, em Santa Terezinha. Ao lado do novo chefe do 4º Departamento de Polícia Civil, delegado-geral Eurico da Cunha Neto, e do novo delegado regional, Bruno Wink, Samuel pontuou que o tráfico de drogas continua sendo a principal motivação da maioria dos assassinatos no município, mas não isoladamente. “Há brigas antológicas de bairros que se enfrentavam desde a época de um jogo de futebol. Temos que fazer um recorte histórico da própria construção dos bairros e da fundação da cidade.”
A decisão de retomada da Delegacia Especializada de Homicídios a partir da próxima segunda-feira (17) foi divulgada na última quarta, mesmo dia em que a Tribuna publicou matéria mostrando que a cidade atingiu o maior índice de assassinatos em seis anos. “A própria evolução da sociedade impõe uma evolução do crime, porque é um fenômeno social. Antigamente se matava a paulada, a facada. Hoje a arma (de fogo) está muito mais difundida. Estamos atentos a esse aumento e à utilização desse tipo de armamento”, garantiu Samuel, sobre os assassinatos com armas cada vez mais letais e o frequente uso de pistolas ponto 40, de uso restrito.
O delegado que esteve à frente do Grupo de Resposta Rápida (GRR) por quase nove meses, durante a extinção da especializada, diz que a migração dele e dos inquéritos de homicídios e de tentativas de assassinatos para a nova delegacia “muda o foco”. “O GRR tinha outros delitos, não só os crimes dolosos contra a vida.” Sobre o aumento no número de homicídios, o delegado fez referência à pandemia e “à lógica do convívio social”. “O aumento é inerente ao momento histórico que vivemos. Principalmente se compararmos com o período pandêmico, é surreal. Mas se compararmos os números atuais com 2018, não há praticamente diferença.”
Só nos cinco primeiros meses deste ano, 38 pessoas foram assassinadas em Juiz de Fora e pelo menos outras 35 sofreram atentados. Os dados do Observatório de Segurança Pública, da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp-MG), indicam que este é o período mais violento desde 2017, quando houve 51 homicídios e 77 tentativas de assassinato, de janeiro a maio.
Mudança da criminalidade no cenário pós-pandêmico
Para o delegado regional, Bruno Wink, o Grupo de Resposta Rápida (GRR) foi muito importante em uma fase de transição. “Juntamos policiais que poderiam atuar principalmente em locais de crimes. A unidade abarcava não só os homicídios, mas outros crimes de repercussão. O trabalho foi desenvolvido junto com a parte pericial, e agora vemos a necessidade de trabalhar com uma delegacia exclusivamente com a matéria de homicídios. Achamos importante, não só para dar uma resposta imediata com as prisões, mas também para fazer análise do fenômeno criminal local.”
Segundo o delegado regional, houve mudança dessa criminalidade violenta no cenário pós-pandêmico. “Estamos fazendo esses estudos para traçar estratégias e atuar de forma repressiva, principalmente realizando prisões e garantindo bons elementos de prova para que esses indivíduos sejam condenados.” Sem revelar quantos integrantes vão compor a nova especializada, Bruno forneceu alguns detalhes: “Além de policiais que entendemos serem qualificados para atuar na área, a equipe é formada por policiais que demonstraram interesse em trabalhar com a matéria. Pretendemos atuar de forma muito integrada com os distritos, com a parte pericial e o Ministério Público, porque precisamos garantir que esses indivíduos sejam condenados lá no final.”
Mudanças no Detran podem liberar efetivo
O novo chefe do 4º Departamento de Polícia Civil, delegado-geral Eurico da Cunha Neto, foi diretor do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran) e deixou o cargo após aprovação da Lei 24.313 de abril de 2023, que passou a coordenação do órgão para a Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag). Ainda como vice-presidente geral da Associação Nacional dos Detrans, ele comenta que as modificações vão beneficiar a Polícia Civil, já que a ideia é liberar gradativamente os cerca de mais 500 policiais que atuavam no órgão em Minas. “Em Juiz de Fora, tínhamos na Delegacia de Santa Terezinha o atendimento ao público, que já foi para a UAI. O número de policiais já foi super reduzido, eram aproximadamente 20, hoje são sete, sendo dois na identificação e cinco no trânsito. Mas a ideia é que esses policiais saiam e também vão para a rua, para a investigação, que é a nossa atividade fim.”
Ainda conforme Eurico, quando as vistorias particulares – que estão sendo credenciadas pelo Detran – começarem a operar, também serão liberados os policiais dessa função. “Por fim, em um prazo mais longo, quando examinadores forem credenciados em todo o estado, os policiais que fazem os exames de rua (para CNH) também serão liberados.” A expectativa, portanto, é que a saída do Detran da responsabilidade da Polícia Civil fortaleça o efetivo voltado à investigação, não só em Juiz de Fora, mas em todo o estado. “Os policiais que vêm para a rua, e aqueles que já vieram, realmente vão fazer a diferença para suprir, de alguma forma, a falta de pessoal, de melhorar essa situação.” Como participou ativamente dessa mudança, o delegado espera que a transição no 4º Departamento aconteça “da forma mais rápida possível”.