O Grupo de Modelagem Epidemiológica para Covid-19, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), publicou, nesta quinta-feira (11), a Nota Técnica 17, que analisa dados verificados entre 30 de março de 2020 e 6 de março de 2021. De acordo com a nota, discrepância entre queda no número de casos e aumento da ocupação de leitos de UTI pode estar relacionada a subnotificações do sistema de saúde.
Conforme a nota, na cidade, o número de casos suspeitos vem caindo desde meados de janeiro, acompanhado proporcionalmente da queda no número de casos confirmados. Porém, em descompasso com esses índices, o número de leitos de UTI e enfermarias ocupadas no município cresce com velocidade diária de 3%. De acordo com as pesquisas realizadas pelo grupo, esse fato pode ocorrer devido a subnotificação de casos.
“O Poder Público só pode divulgar informações que lhe chegam”, afirma Isabel Leite, uma das autoras do documento. Segundo Isabel, são várias as hipóteses para a subnotificação de casos. “Os serviços de saúde, como as unidades básicas, hospitais, redes de urgência, emergência e laboratórios podem estar tendo problemas no fluxo de informação.” Ela também diz que os esforços para a vacinação podem ter sobrecarregado os profissionais, fazendo com que o monitoramento da doença deixe de ser priorizado, bem como a sobrecarga dos serviços. “Nós temos que ter em mente que a vacinação é importantíssima, mas não pode estar dissociada do processo de vigilância e monitoramento de casos”, alerta.
Medidas de contenção
De acordo com a pesquisadora, com a chegada da vacina, as recomendações de distanciamento, isolamento e uso de máscara perderam lugar na mídia e, consequentemente, a população diminuiu o cuidado com essas medidas. “A própria motivação pela vacinação pode estar fazendo com que a população não busque tão prontamente o serviço de saúde frente aos primeiros sintomas”, afirma.
Considerando imunizadas as pessoas que já receberam as duas doses das vacinas, a nota estima que, até o momento, apenas 2,72% da população esteja com proteção contra a Covid-19. Até o dia 10 de março, haviam sido aplicadas 41.146 doses da vacina, sendo 25.542 primeiras doses e 15.604 segundas doses.
De acordo com o grupo, o número de doses disponibilizadas ainda é muito limitado, e isso requer urgência da ampliação e disponibilização de vacinas de outros laboratórios que já tenham concluído com sucesso os estudos de eficácia e segurança na rede pública.
‘Estrangulamento’
Enquanto esse cenário não é concebível, a pesquisadora fortalece a importância das medidas preventivas à doença. “Temos que reforçar as medidas reconhecidas pelas evidências científicas, como o isolamento social, o uso de máscara e lavagem de mãos”, afirma Isabel, que enfatiza a atuação do Poder Público no controle da situação. “O que, infelizmente, não descarta a opção de adotar medidas mais drásticas, que realmente garantam o isolamento social. Claramente, o estrangulamento dos sistemas de saúde, observado recentemente na região Norte do país e, na sequência, em diversas outras regiões, está chegando até nós”, conclui.