
Um homem de 55 anos foi preso em flagrante por importunação sexual de crianças dentro de um ônibus urbano no Bairro Náutico, na Zona Norte de Juiz de Fora. Ele já estaria praticando o crime há pelo menos três dias no horário em que os alunos seguiam ou retornavam da escola e, na manhã desta quinta-feira (14), foi reconhecido em mais uma possível investida. Logo o coletivo da linha 713 foi cercado por cerca de 30 mães e outras pessoas, indignadas com a situação. O veículo foi interceptado pelo grupo, por volta das 8h, na Rua Ribeirão das Palmeiras. A Polícia Militar foi acionada e conduziu o suspeito para a 1ª Delegacia Regional, em Santa Terezinha.
“Comparecemos ao local da ocorrência, onde deparamos com uma multidão em volta do ônibus. O autor estava trancado dentro do veículo por populares, devido a ter realizado crimes de natureza sexual contra diversas crianças que também estavam no coletivo”, detalhou a PM no registro do caso. Conforme as denúncias, o suspeito se aproximaria dos meninos sempre com alguma conversa dentro do transporte público e aproveitaria para acariciá-los, fazendo também convites inapropriados.
Quatro mães e uma avó de garotos com idades entre 5 e 12 anos seguiram com as vítimas para a Polícia Civil. Uma jovem, 22, ficou sabendo por outra moradora do Náutico que o suspeito havia se sentado ao lado de seu filho, 5, em data anterior e começado a acariciá-lo, dizendo: “Nossa, que menino lindo, você quer morar comigo?” O convite descabido ainda seria seguido de intimidação: “Não vai contar pra ninguém, senão eu descubro aonde você mora.” Na quarta-feira, o homem teria tentado agarrar o mesmo menino sob o pretexto de querer tirar uma foto. “Eu fiquei sabendo da primeira vez e perguntei para o meu filho, mas ele disse que não era para contar, senão o moço iria descobrir onde ele morava”, reforçou a mãe. Ela teria sido a primeira a reconhecê-lo nesta quinta, após vê-lo na quarta. “Todo mundo correu para cercar o ônibus. Ele falou que gostava de criança, por isso que dava carinho.”
Outra mulher, 47, contou que seu garoto, 7, também revelou ter sido assediado pelo envolvido logo depois de o colega ter sido agarrado. Ele teria tentado beijá-lo, mas a vítima conseguiu virar o rosto. “Em outro dia ele queria que meu filho descesse em ponto diferente da nossa casa. Também falou que iria levá-lo ao Parque Halfeld para ajudar a vender coisas e ofereceu bala.”
Uma dona de casa, 35, revelou que seu menino, 10, também foi vítima duas vezes no interior do coletivo, sendo seu braço alisado nas duas ocasiões, a última delas na quarta. “Há três dias esse homem está andando no ônibus acariciando as crianças. Meu filho levantou do banco na hora e chegou em casa reclamando. Hoje paramos o coletivo e chamamos a polícia. Se tivéssemos um ônibus escolar não estaria acontecendo esse problema todo”, disparou.
Também na quarta, outro garoto, 12, foi abordado no interior do veículo pelo suspeito. Ele teria tentado iniciar uma conversa questionando o número de crianças que estudavam na escola municipal do bairro e perguntado se havia segurança no local. “Ontem (quarta-feira) meu filho chegou em casa contando que ele estava perturbando as crianças há dias dentro do ônibus e tentando tirar foto. Chamou inclusive uma delas para ir até o Centro da cidade vender bala com ele”, relatou a mãe, 38. De acordo com ela, o coletivo sempre segue repleto de alunos menores de idade a caminho de duas escolas, e ninguém o conhecia antes. “Hoje as mães o viram e o reconheceram dentro do ônibus. Corremos e pedimos para o motorista trancar as portas, só deixando descer as crianças e os passageiros que estavam indo trabalhar.”
“As crianças estavam ficando com medo”
No dia anterior ao flagrante, o homem teria praticado os delitos na parte da tarde, por volta das 14h. Uma avó, 54, de pelo menos quatro crianças que usam o transporte público para ir e voltar do colégio também fez questão de comparecer na delegacia. Uma neta dela, 17, chegou a presenciar as investidas do envolvido. “Não tem segurança nenhuma no transporte, é um perigo. Já recorremos para ter um ônibus escolar, mas não conseguimos. E há três dias esse homem estava andando no coletivo, acariciando as crianças. Elas estavam ficando com medo, porque muitas mães não têm condições de acompanhar seus filhos.”
Ao ser questionado pela polícia, o suspeito negou todos os relatos. Ele ainda afirmou ser frequentador de uma clínica de dependente químico e também ter problemas com alcoolismo. Antes tipificado como importunação ofensiva ao pudor, o delito denunciado era apenas contravenção penal sujeita a multa. No entanto, foi modificado para importunação sexual pela lei 13.718, sancionada em setembro do ano passado. Desde a mudança, conforme o artigo 215-A do Código Penal, “quem praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro”, pode ficar de um a cinco anos atrás das grades.
A assessoria do Consórcio Manchester, responsável pelo ônibus da linha 713, informou que “todas as providências foram tomadas no sentido de colaborar com a polícia a fim de coibir atos criminosos ou lesivos aos usuários, conforme política da empresa (Tusmil)”, incluindo orientação a seus funcionários.