A unidade móvel do Aedes do Bem produz e libera, semanalmente, dois milhões de Aedes aegypti geneticamente modificados em Juiz de Fora. Mas a expectativa é que, a partir de julho, a unidade dobre a produção e solte cerca de quatro milhões de mosquitos por semana na cidade, concomitantemente à expansão do projeto. Com isso, a partir do segundo semestre, 30 mil juiz-foranos devem ser impactados pelo Aedes do Bem, que visa diminuir a população selvagem do Aedes aegypti e, por consequência, evitar a transmissão de doenças como dengue, zika e chikungunya. Atualmente, os mosquitos são liberados três vezes por semana nos bairros Santa Luzia, Monte Castelo e Vila Olavo Costa, nas zonas Sul, Norte e Sudeste, respectivamente, sendo que a ação atinge cerca de dez mil habitantes.
Conforme a Oxitec, empresa criadora da tecnologia do Aedes do Bem, a unidade implantada no Bairro Santa Cruz, Zona Norte, é pioneira, tornando Juiz de Fora a primeira cidade do mundo a receber uma iniciativa com este tipo de produção. A ideia surgiu após o início das operações no município, quando a empresa verificou que uma unidade móvel poderia facilitar o processo de produção dos mosquitos, de acordo com a demanda da cidade. Por isso, com a expansão aguardada para o início de julho, uma nova unidade móvel será instalada, ao lado da primeira, aumentando em 20 mil a população impactada pelo projeto. Segundo a Secretaria de Saúde, novos bairros participarão do projeto, mas as localidades só serão divulgadas posteriormente, quando a pasta verificar quais locais terão maiores índices de infestação no período próximo à expansão.
A unidade recebe os ovos dos mosquitos da fábrica da Oxitec, localizada em Piracicaba, no interior de São Paulo. O material é transportado de carro. A partir do momento em que chegam em Juiz de Fora, todo o processo é desenvolvido na cidade, como explica a gerente de produção e distribuição da Oxitec, Karla Tepedino. “Recebemos os ovos e, na unidade móvel, incentivamos que eles eclodam, por meio de exposição a um processo de vácuo. Todas as larvas saem dos ovos, e as separamos em cerca de dez mil larvas em bandejas de criação, onde elas são alimentadas por oito dias. Depois desse tempo, elas viram pulpas, a última fase antes do mosquito adulto. É quando separamos os machos das fêmeas. Elas são descartadas, pois somente as fêmeas picam o ser humano, e os machos ficam em fase de maturação até estarem prontos para serem liberados na natureza e procurar as fêmeas selvagens para se reproduzirem.”
Para realizar todo o processo, a unidade é composta por uma sala para armazenar as 1.200 bandejas que abrigam as larvas durante a fase em que são alimentadas, à temperatura de 28 graus. Há também o ambiente onde elas são contabilizadas no início do processo, mesmo local em que machos e fêmeas são separados e realocados nos recipientes onde os mosquitos adultos ficarão armazenados na fase de maturação. O terceiro ambiente é o local onde os mosquitos, já adultos, ficam separados para serem soltos.
A unidade emprega oito pessoas atualmente e, com a expansão, mais empregos devem ser criados. A expectativa é de que a unidade móvel permaneça em Juiz de Fora por, pelo menos, três anos, tempo do contrato firmado com a Prefeitura.
Eficácia
Segundo Karla, a eficácia do processo ocorre por conta do gene autolimitante que os mosquitos carregam desde a fase dos ovos. A modificação genética evita que os descendentes do Aedes do Bem transmitam doenças. “O gene incentiva a produção de uma proteína, que é repassada aos descendentes deste mosquito. Os mosquitos do bem, que crescem no laboratório, recebem um antídoto que barra a produção dessa proteína e permite que ele se alimente, cresça e se reproduza quando solto no ambiente. Mas seus filhos com as fêmeas selvagens não terão acesso a esse antídoto, pois ele não está presente na natureza, e, por isso, morrem antes de chegar à idade adulta. Com isso, a população do mosquito diminui.”