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Nostalgia em serpentina: os bailes de carnaval em Juiz de Fora

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Os bailes de carnaval em Juiz de Fora foram um enorme sucesso entre as décadas de 1960 e 1980. Quem foi se lembra especialmente das serpentinas que eram jogadas e ficavam no chão ao final da folia, dos confetes que se espalhavam até a manhã, do cheiro de lança-perfume que ainda não era proibido e que jogavam para o alto ou uns nos outros, e também das marchinhas que não paravam por um só segundo. Era uma festa completa e que durava até a manhã do dia seguinte, quando então se iniciava tudo de novo. Hoje, os bailes diminuíram de tamanho e deixaram de ser uma prioridade no carnaval da cidade, mas continuam sendo lembrados pelos juiz-foranos como um tempo de alegria e diversão.

Elinelia Jucá com o marido, Affonso Abreu Motta (Foto: Arquivo pessoal)

A expectativa para a chegada do carnaval era tanta que Elinelia Jucá ainda se lembra bem como se sentia. Era um tempo de grande felicidade – tanto quando ela começou a ir, ainda nos anos 60, junto com a família, até mais tarde, nos anos 90, quando ela ia com o marido. “Era muito gostosa a expectativa da escolha das fantasias, a confecção, e, depois, a chegada ao baile. Sensação de frio na barriga quando a gente chegava lá cheia de sonhos, como toda menina por volta de 15 anos na época dos anos dourados”, relembra. Para ela, era uma satisfação constante poder “extravasar na dança todas as expectativas e alegrias daquele momento”.

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Já Luiz Carlos Mazocoli – que vem a ser avô desta repórter – frequentou os bailes desde o final dos anos 50 até os anos 70, principalmente os que aconteciam no Sport e no Tupynambás. E confessa que ele e os amigos com quem ia junto “revezavam de um para o outro”. Relembra, com carinho, as épocas em que podia sair de manhã cedo para festejar e, graças aos clubes, só voltava pra casa de madrugada. No final das maratonas de carnaval, já chegou até a sair da festa com febre e garganta inflamada, mas sem nenhum arrependimento. “Todo mundo se aprontava e aproveitava ao máximo. Sempre levávamos confete e serpentina, e também jogávamos lança-perfume nas paqueras”, diz.

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O que ele mais se lembra, hoje, daquele tempo, é justamente dos encontros que aconteciam em meio a esse cenário. “Sinto falta da animação e da empolgação de todo mundo. Nós costumávamos marcar de nos encontrar, bebíamos uns piriguetes (Coca-Cola com cachaça) para dar coragem de chegar nas moças para dançar, e aí ia todo mundo junto”, explica. É também assim que Leila Barbosa, que frequentou os clubes no mesmo período, se lembra daqueles tempos: como um espaço em que era possível brincar sem se preocupar com quase nada. “Todos na família gostavam muito, então era um lugar em que a gente se encontrava e curtia bastante. A gente gostava daquelas coisas que existiam no carnaval de antes, que hoje não existem mais”, diz.

Marchinhas de carnaval até de manhã

BAILES DE CARNAVAL do Sport Club Juiz de Fora eram dos mais badalados entre as décadas de 1950 e 1970 (Foto: Acervo Simón Arévalo/Maurício Resgatando o Passado)

As marchinhas de carnaval e as orquestras marcaram para sempre Cláudia Heloísa Ribeiro, que ia aos bailes durante os anos 80. Ela saía com as primas para a maioria dos clubes que promoviam os bailes: fosse o Olímpico, o Sport, o Tupi ou o Tupynambás. “Era a melhor coisa do mundo chegar aos bailes e começar a ouvir aquelas músicas. Aquilo era para quem gostava de carnaval de verdade”, relembra. Ela sempre mantém na memória as letras, como a de “Cabeleira do Zezé”, “Abre alas” e “Allah-la ô”, e diz que gostaria muito de poder voltar a frequentar um espaço como os que ela e a família iam anteriormente. “Eu ia a bailes todos os dias do carnaval, e no dia seguinte estava animada do mesmo jeito. Todo dia era assim”, diz.

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Na década de 1970, quando tinha por volta de 16 anos, Suely Jorge também frequentava os bailes do Sport Club. “Eu gostava muito, ia com a minha turma da Rua Professor Lander (Vitorino Braga). Como era perto pra gente, íamos e voltávamos todos juntos, cantando.” Ela não recorda as músicas que preenchiam aqueles dias, mas lembra que havia marchinhas e que a orquestra “era muito boa”. “Fazíamos cordão (um atrás do outro), pulando e cantando em volta do salão. No último dia ficávamos até acabar, lá pelas 2h, 3h da madrugada.”

Enquanto alguns foliões investiam em fantasias mais elaboradas, outros, como ela, usavam adereços no cabelo e improvisavam como podiam. “O baile do Sport era dos mais famosos. O do Clube Bom Pastor, que não sei se já tinha naquela época, era mais chique.” E, como boa descendente de italianos, não deixa de citar um em especial: “Tinha também na Casa D’Italia”. E ainda acrescenta: “Em alguns lugares também havia matinês.” A foliã destaca que foi uma fase boa da vida. “Era tudo muito inocente, quem era amigo, era amigo mesmo, ninguém tentava se aproveitar de ninguém. Alguns já morreram, infelizmente.”

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Quando a música chegou ao fim

Foi nos clubes de Juiz de Fora que Leila Barbosa começou a gostar mesmo de carnaval – um amor que continua cultivando e que também passou para os filhos. “Eu comecei a ir ao Clube Juiz de Fora nos bailes infantis, mas aí adulta eu ia lá para namorar, para dançar e aproveitar… E eu fui depois que casei também, e mais tarde passei a levar meus filhos”, diz. Com as mudanças que foram acontecendo, ela deixou os bailes de lado e passou a frequentar os carnavais de rua e as escolas de samba. O carnaval dos bailes, segundo Leila, passou a ser pouco frequentado, principalmente pelas brigas que começaram a acontecer com frequência dentro dos salões – e que muitos, depois, atribuíram também ao uso do lança-perfume. “Foi nessa hora que os clubes começaram a parar, pouca gente estava indo”, afirma.

O mesmo foi percebendo Luiz Carlos. Para ele, foi uma “mudança na espontaneidade” que os bailes de carnaval tinham. “Hoje o pessoal está mais ligado aos blocos de rua, em que todo mundo se diverte com todos os direitos e de todas as maneiras, enquanto nos bailes de clube você não podia fazer tantas coisas”, explica. Leila inclusive complementa que as pessoas começaram a achar também esse ambiente do lado de fora mais sadio e seguro. “As escolas de samba eram ao ar livre, e nelas não dava quase briga nenhuma. Os carnavais de rua abrangiam bem mais gente que os clubes. Foi uma forma de democratizar mais o carnaval”, diz.

Mas há quem sinta falta de uma energia especial que os bailes tinham, e que só era sentida quando se chegava lá. É o que conta Elinelia Jucá, quando se lembra que a recebiam nos bailes com a música das escolas de samba em que ela desfilava tocando, e também Cláudia Heloísa Ribeiro, que acredita que, antes desse período de brigas, os bailes de carnaval em Juiz de Fora tinham um clima de união como existe em poucos lugares. “A gente chegava aos clubes se sentindo em uma família. Foi uma época maravilhosa, que eu queria que pudesse voltar”, relembra.

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