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Trevo da Zona Sul de Juiz de Fora é revitalizado pela comunidade

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Entender que o espaço público é de todos e de nossa responsabilidade. Essa foi a chave que virou na cabeça de moradores dos bairros Alto dos Passos e Santa Cecília, na Zona Sul de Juiz de Fora. Cansadas com o descaso no trevo localizado entre as ruas Melo Franco e Barão de São Marcelino, amigas de caminhada trocaram uma manhã de atividade física por outro tipo de esforço: elas trouxeram enxadas e vassouras de casa e arregaçaram as mangas. Unidas, elas realizaram a limpeza do local e agora se revezam para manter o trevo cuidado e atrativo para quem mora e passa pela região.

Essa iniciativa já dura há cerca de dois anos e só vem colhendo bons frutos. Se antes o trevo era malcuidado, tinha mato alto e despertava o medo de quem trafegava por ali à noite. Hoje, virou atração no Facebook e no Instagram, porque não há quem resista em posar para fotos em meio ao seu jardim.

A aposentada Isaura Ribeiro é uma das integrantes do grupo que apostou na iniciativa própria, sem depender do Poder Público, para mudar a história do trevo. “Usávamos o passeio da pracinha para fazer nossos exercícios de alongamento, quando percebemos que poderíamos também colaborar para a manutenção e revitalização da praça. Marcamos o início dos trabalhos e mãos à obra”, contou Isaura, lembrando que ela e as companheiras começaram a capinar, o que chamou a atenção de alguns rapazes, que também se dispuseram a ajudar.

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“Neste dia, houve até uma equipe de jornal para registrar a nossa iniciativa. Para a gente que fazia a nossa ginástica ali, agora é muito bonito ver a praça toda florida”, alegra-se. E só um adendo: essa equipe de jornal citada pela Isaura era a própria Tribuna, que registrou a empreitada dessas moradoras no dia 28 de novembro de 2019.

Mais adeptos

Passados dois anos, a iniciativa só tem ganhado mais adeptos. Segundo Isaura, com o passar do tempo, apareceu um senhor que passou a cuidar do espaço com muito carinho. “Ele limpa, varre, água as plantas e fez a pintura dos bancos e do piso da pracinha. Por meio dele, eu creio na existência dos anjos da guarda. No Natal, colocamos iluminação, plaquinhas, uma linda decoração natalina. É uma iniciativa muito bonita, porque quando alguém vê isso sendo realizado, passa a seguir o exemplo, inclusive é algo que pode acontecer em outros bairros”, almeja Isaura. O senhor que Isaura se refere como anjo da guarda é conhecido como Antônio Carlos, o Noninho. A Tribuna tentou encontrá-lo, para que fizesse parte desta reportagem, mas não teve êxito.

Como aponta a moradora, o lugar é um jardim de tudo, porque cada uma das mulheres que integra o grupo, levou uma muda de planta que tinha em casa. “Então é um jardim bem diverso. Eu tinha muita flor aqui na minha casa e levei muitas mudinhas”, comemora.

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Solange do Nascimento Tristão, que mora há 18 anos naquela região, também é uma das mulheres que cuida do logradouro. “O mais legal é que as pessoas começaram a deixar mudinhas perto do oratório. A gente chegava lá e tinha várias plantinhas para a gente colocar no jardim. Isso que aconteceu é uma corrente do bem”, valoriza, acrescentando: “Isso repercute de uma forma muito positiva para o bairro. Para os moradores da Barão de São Marcelino foi ótimo. Quem passa por ali fica encantado com o cuidado do jardim e quer tirar foto”.

Segundo Solange, apesar dos benefícios da ação das moradoras, tinha gente que olhava para o trabalho e dizia que era em vão. “Alguns falavam que a Prefeitura tinha que cercar o trevo, mas não é um lugar para ter cerca, mas para ser desfrutado”, afirma. “Tanta gente passa por ali e acha bonito. Tanta gente que para e tira foto. Houve uma época em que as pessoas tinham medo de passar por ali à noite. Agora não. A praça foi ocupada pelos moradores. Há todo um cuidado. E ninguém mais tem medo. Já tem casal de namorado que senta naquela praça, e isso é resultado desse nosso cuidado. Tudo isso é muito bom para o bairro. Então, agora, a gente olha para o jardim e vê que nada foi em vão e espero que esse nosso trabalho sirva de exemplo para outras comunidades”, orgulha-se Solange.

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Em cerca de dois anos, inciativa de moradoras ganhou adeptos e trouxe vida para região (Foto: Fernando Priamo)

Memórias e afetos

Cristina Braga, atriz, diretora teatral e professora, mora a vida inteira no Bairro Santa Cecília, e a pracinha da santa, como ela costuma chamar o trevo, faz parte de suas memórias afetivas. Para ela, a revitalização do local com sua consequente ocupação a transportam para tempos vividos com muita alegria. “Lembro-me de minha infância rodeada de amigas quando, ao voltarmos de nossos cursos na igreja ou compromissos, parávamos ali para um breve descanso e assim atualizávamos nossos assuntos. Na medida em que eu crescia, a pracinha se tornava também um ponto de referência, para encontros com os parentes e com novos visitantes, para a localização precisa de minha casa”, recorda-se Cristina.

Segundo ela, houve um tempo em que já não se podia mais parar para se refrescar e descansar no local, uma vez que se tornou perigoso por conta de muitas pessoas suspeitas que ocupavam o logradouro e faziam ameaças ou roubavam quem por ali transitava. “Mas agora temos de volta a tranquilidade de apreciarmos o caminhar do tempo, além de sentirmos o vento suave proporcionado pela sombra de sua imponente árvore. A iniciativa dessas pessoas é reforçar em nós o sentido de união que só pode nos beneficiar. Atitudes como essa é possível, é consoladora e, acima de tudo, é prova de cuidado com todos”, ressalta a atriz.

Cristina Braga fala sobre o sentimento experimentado com a mudança do local (Foto: Fernando Priamo)

Mudança de cenário

Em 2018, a Tribuna esteve nesse mesmo trevo. Naquela época, a situação era bem diferente. O local estava ocupado por moradores em situação de rua e havia muito material espalhado, como restos de madeira e papelão. Além disso, o descuido acabava contribuindo para que pessoas usassem o local para depósito de lixo. Na ocasião, os moradores da região ouvidos pela reportagem reclamaram do mau cheiro e até de fezes deixadas na via pública.
Esse cenário ficou no passado. Segundo Solange, ainda há moradores em situação de rua no trevo, mas com atitude diferente. “Há um senhor, em situação de rua, que frequenta a nossa rua e também gosta de passar um tempo no trevo. Ele também cuida do lugar”, disse.

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