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Lançamento conta 168 anos da história de Juiz de Fora

LIVRO PEDRO MACHADO Reproducao
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Uma vez a cidade mais populosa de Minas Gerais, nascida de Barbacena. Abrange um território considerável, mas com distritos que já tiveram, em outros tempos, importância política e força demográfica semelhantes. A história de Juiz de Fora é riquíssima, até mesmo para quem se aprofunda no contexto de toda a região e até do estado.

O livro “Formação e ordenamento territorial de Juiz de Fora: um exercício de geografia histórica”, lançamento recente de Pedro José de Oliveira Machado, professor do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Juiz de Fora, reúne um trabalho de pesquisa que durou mais de uma década.

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Pedro José de Oliveira Machado é professor do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Juiz de Fora (Foto: Arquivo pessoal)

Em 265 páginas, com 49 figuras – incluindo mapas coloridos, de diversas épocas -, a história de como se formou Juiz de Fora pode ser adquirida diretamente com o autor, por meio do perfil no Instagram @professorpedromachado. Pedro conversou com a Tribuna sobre como foi o processo de pesquisa e produção: “exaustivo, mas gratificante”.

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Tribuna – Quais pontos mais te impactaram pessoalmente ou motivaram durante as descobertas nesse processo?

Pedro Machado – É muito difícil falar, porque é uma vida de pesquisa. É um trabalho em que eu busquei conhecer a origem, a gênese territorial e político-administrativa de Juiz de Fora, que é como a cidade sempre foi conformada através de suas freguesias e distritos. Só que a coisa começou a complicar demais, no bom sentido. Cheguei em 1850 e vi que viemos de Barbacena, e quem era Barbacena? Então eu fui voltando até a primeira divisão administrativa de Minas, formada por três municípios. A primeira grande observação é a seguinte: para contar a história territorial de Juiz de Fora, tem que contar uma história territorial regional muito maior, porque boa parte desses que a gente conhece hoje como municípios vizinhos já pertenceram à mesma matriz territorial de Juiz de Fora – ora a Barbacena, como Juiz de Fora pertenceu, ora à própria Juiz de Fora -, em algum outro momento da sua história foram distritos, por exemplo. Então Juiz de Fora se beneficia daquilo que vai mais caracterizar a cidade no final do século XIX, início do século XX, que é desenvolvimento infraestrutural. Nós tínhamos a estrada União e Indústria, uma estrada de ferro gigantesca, e ela proporcionou todas as ligações regionais através de seus ramais. A cidade se torna uma centralidade econômica urbana, num mundo rural. Demograficamente, é uma loucura isso. Em 1900, Juiz de Fora é o maior município de Minas, demograficamente falando, e o sexto do Brasil. Quando eu levantei esse dado, eu revisei umas quatro, cinco vezes. Pensei que estava fazendo alguma coisa errada. Eu revisei todos os censos, dado por dado, município por município.

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Por mais que haja um destaque ainda hoje, por que o destaque nacional e o estadual absoluto não se mantiveram evoluindo da mesma forma até os dias atuais?

Isso é complicado, porque aquilo que nos sobrava, nos faltou. Nós gerávamos energia elétrica própria. A gente tinha, como tem até hoje, uma série de usinas hidrelétricas ao longo do Paraibuna – vai até Matias Barbosa. Isso finda. Isso era importante porque naquela época não tinha interligação do sistema, então tinha energia quem gerasse energia. Depois da interligação do sistema, a energia elétrica passou a chegar a todos os lugares. Outra coisa é que nós fomos meio escanteados por aquilo que nos ajudou, que eram as estradas. A gente tinha a União e Indústria e as ferrovias, que passam a fazer o mesmo por outras áreas, não só mais concentrando aqui. Por exemplo, a Rio-Bahia tira o movimento daqui, praticamente acaba. As pessoas vão se dirigir por Leopoldina, Muriaé, o eixo que vai se desenvolver ao longo dessa estrada. E as ferrovias perdem a importância para o transporte de passageiros. Outra questão importante é a concentração e desenvolvimento da capital, porque, até a década de 30, Juiz de Fora era muito maior e mais expressiva economicamente do que Belo Horizonte, mas Belo Horizonte começa a assumir essas funções de capital, e nós as funções da depressão do café. Agora, é o contrário: lá indo para o ápice, e nós, regionalmente falando, indo para um abismo. A única coisa que se salva na Zona da Mata é a própria Juiz de Fora, por ter uma economia urbana. Mas isso, num determinado momento é até ruim, porque se todo mundo está mal, todo mundo migra para cá.

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Como foi o trabalho para obter materiais, como mapas e fotos, de séculos atrás?

É um trabalho exaustivo. Porque tudo é garimpo. Já é difícil as fontes existirem. Quando elas existem, mais difícil ainda é chegar até elas, porque tem que saber onde elas estão. No nosso caso, nós procuramos materiais de fontes que estão disponíveis na internet, mas muita pesquisa direta em arquivo histórico – Arquivo Público Mineiro e arquivo histórico daqui, que tem três muito importantes: o da Prefeitura, o da Universidade, e o setor de memória da Biblioteca Murilo Mendes, que também tem muito documento, principalmente jornais originais do século XIX. Fazer mapa é uma loucura, porque você tem que partir de uma cartografia existente, fazer o georreferenciamento, para depois criar um mapa a partir daquele. Então são coisas que demoram. Nos nossos projetos de pesquisa, leva um ano para se fazer um mapa. É demoradíssimo, uma coisa de muito envolvimento.

Você acredita que Juiz de Fora mantém a própria história e os documentos que a contam bem preservados e de forma acessível?

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Não estão bem preservados e muito menos acessíveis. O arquivo histórico da Prefeitura é maravilhoso, riquíssimo, muito bem gerenciado pelas duas figuras que trabalham lá – a Elione e o Henrique -, mas são só os dois. As coisas estão acondicionadas da maneira que podem, não que devem ser acondicionadas. A gente já passou da época de ter um punhado desses documentos acessíveis em meio digital. Juiz de Fora é riquíssima em cartografia, mapas urbanos do século XIX, eu conheço dez. Mas onde isso está? Eu só vi dois ou três originais, o resto você não tem mais acesso ao original. Quando ele existe, também é difícil, porque não dá para ficar botando a mão, abrir os mapas, que em geral são muito grandes. É um trabalho que, em grandes momentos, chega a ser desanimador. Se fosse viver disso, largaria. É porque é uma coisa de apaixonado, a gente quer fazer. E eu agradeço muito aos alunos, porque eles trabalharam muito, e daí nasceram vários trabalhos de conclusão de curso, dissertações de mestrado… Tem gente fazendo doutorado no Rio com a mesma temática – chamada de geografia histórica – e isso é muito gratificante. Não tem dinheiro que pague.

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