
Quando não controlada, a diabetes pode acarretar diversas complicações de saúde, dentre elas problemas de visão. Segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), a retinopatia diabética, ou seja, a lesão no olho causada pela diabetes, é a maior causa de cegueira em pacientes em idade economicamente ativa, que estão inseridos no mercado de trabalho.
Mas como uma doença que está relacionada ao alto nível de glicose no sangue pode afetar a visão? A Tribuna conversou com a médica oftalmologista Silvana Vianello, que explicou as causas da retinopatia mais grave e o que o paciente diabético pode fazer para evitar esse quadro.
Como uma ferrugem que danifica os vasos sanguíneos
Níveis elevados de glicose no sangue provocam alterações no metabolismo. De uma forma didática, Silvana explica que o metabolismo alterado deixa um resíduo, como uma ferrugem que destrói as células responsáveis pela estrutura dos vasos sanguíneos. “O olho é uma região altamente vascularizada, e os danos nos vasos sanguíneos podem causar alterações no cristalino, causando o que a gente chama de catarata metabólica, ou lesões na retina, que, dependendo da gravidade, podem evoluir para a cegueira.”
A médica explica que a retina é como um papel de parede que forra o olho por dentro. A região é super rica em vasos sanguíneos, que fazem a inervação das células da visão. “Por isso, a retina é muito afetada em pacientes diabéticos.”
Segunda maior causa de cegueira
Segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), depois de 15 anos vivendo com diabetes, cerca de 2% dos indivíduos ficam cegos e 10% têm perda visual grave. Acima de 20 anos de diagnóstico, estima-se que mais de 75% dos pacientes tenham alguma forma de retinopatia diabética.
A retinopatia pode afetar pacientes tanto com diabetes tipo 1, que geralmente são pessoas mais novas, que descobrem a doença antes dos 30 anos, até pacientes do tipo 2, a chamada diabetes adquirida. “Ambos os tipos podem causar lesões no olho com o passar do tempo. No caso do tipo 1, nós recomendamos que o paciente faça um exame de fundo de olho a partir do quinto ano do diagnóstico da doença. Já no tipo 2, é possível que tenhamos uma evolução da lesão no olho ocorrendo de forma mais rápida.” Segundo a médica, fatores associados, como hipertensão arterial ou aterosclerose, por exemplo, corroboram para o quadro.
Silvana aponta que a diabetes é a segunda maior causa de cegueira no mundo, ficando atrás apenas do glaucoma. “A diabetes é a doença que mais afeta a visão de pessoas em idade laborativa, ou seja, os prejuízos são enormes. Nos questionários, percebe-se que uma eventual perda da visão é o que possui maior impacto na performance e na qualidade de vida da pessoa.”
O quadro é reversível?
Segundo a médica oftalmologista, casos no qual há perda total da visão são muito difíceis de reverter. No entanto, ela conta que já atendeu pacientes com diagnósticos sérios de lesão no olho que conseguiram se tratar. “Eles se atentaram para o quadro, buscaram controlar a diabetes e, junto aos tratamentos propostos, a lesão não evoluiu para uma cegueira.”
Casos leves de retinopatia diabética, recém-diagnosticados, podem até ser revertidos. “A retinopatia diabética apresenta direta relação com a gravidade da doença de base. A melhor forma de prevenir é controlar o nível de glicose no sangue. Ou seja, quanto mais baixos os níveis, menor o risco de surgimento e progressão da retinopatia.”
O paciente que já apresenta algum quadro de retinopatia diabética, no entanto, tem outras alternativas de tratamento que também podem evitar a progressão da doença. Conforme explica Silvana, na fase inicial, geralmente são usados tratamentos com laser. Já fase intermediária, o tratamento pode ser feito com medicações injetadas no olho ou cirurgias. “Mas são cirurgias de alta complexidade, que não estão disponíveis para todo mundo. Quando a pessoa consegue uma vaga no SUS, a espera é tão grande que o quadro pode estar em outro nível de complexidade.”
É possível prevenir
A melhor prevenção é o controle da diabetes. Silvana Vianello afirma que é preciso manter os níveis de glicemia controlados e, no caso de pessoas que possuem outras doenças associadas, como colesterol alto, hipertensão arterial e lesões renais, é preciso redobrar a atenção para que tais doenças não agravem o processo.
Casos de diabetes têm aumentado no mundo
A médica endocrinologia e professora da Faculdade de Medicina da Suprema, Glauce Tostes, afirma que pesquisas têm apontado aumento dos casos de diabetes no mundo e o Brasil segue essa tendência. “O aumento maior ocorre no tipo 2 da diabetes, que está mais relacionado ao estilo de vida, a alimentação, por exemplo. Os artigos mais recentes têm relacionado esse aumento também à pandemia da Covid-19.”
Em 2021, a Federação Internacional de Diabetes afirmou que 537 milhões de adultos vivem atualmente com diabetes em todo o mundo. O quantitativo representa um aumento de 16% em comparação aos dados de 2019. Glauce afirma que durante os últimos dois anos de pandemia, por conta do isolamento social, muitas pessoas deixaram de fazer o acompanhamento médico, o que pode ter retardado o diagnóstico positivo para diabetes.
Atendimento a pacientes diabéticos
Com o objetivo de trazer de volta esses pacientes que não estão sendo acompanhados pelo sistema de saúde, no dia 19 de novembro, próximo sábado, um evento será realizado no Hospital e Maternidade Therezinha de Jesus, em Juiz de Fora.
Glauce Tostes e Silvana Vianello estão entre os organizadores e explicam que o evento é exclusivo para pessoas já diagnosticadas com diabetes. “Teremos teste glicêmico, pesagem, medição da circunferência abdominal e exames de fundo de olho, tudo 100% gratuito”, explica Glauce. Ela também afirma que o evento tem o objetivo de informar a população. “Para que o diabético entenda a doença e possa se cuidar melhor.”
Os interessados precisam fazer agendamento pelo telefone (32) 4009-2398 até o dia 19, de segunda a sexta-feira das 15h às 16h30. A ação social vai ocorrer exclusivamente no dia 19, das 8h às 12h.
“No evento, os pacientes que estiverem sem acompanhamento, ou se for detectado algum problema na retina, nós vamos encaminhar para o sistema de saúde ou atendimento por meio de parceria com a iniciativa privada.” As médicas recomendam aos participantes irem acompanhados, devido ao exame de fundo de olho, que pode comprometer a visão momentaneamente, por conta do dilatamento da pupila.