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Avanços melhoram qualidade de vida de pacientes com câncer

câncer de mama
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Fisioterapia e exercícios físicos são recomendados durante e pós-tratamento do câncer (Foto: Divulgação/Olívia Lopes)
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“Nos últimos anos, as pacientes com câncer de mama têm experimentado uma melhora significativa na qualidade de vida, devido a vários avanços nas áreas de diagnóstico, tratamento, seguimento e cuidados de suporte. Isso mudou a forma como o câncer de mama é tratado, permitindo um enfoque mais humanizado”, avalia Estela Laporte, médica mastologista do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF/Ebserh). “Mais de 90% dos casos de câncer de mama são totalmente curáveis, quando diagnosticados precocemente”, ressalta a especialista. Neste Outubro Rosa, mês dedicado à campanha de conscientização sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama e de colo do útero, a Tribuna conversou com pacientes sobre a vida durante e depois da doença, e ouviu especialistas sobre como é possível viver bem, apesar da enfermidade.

“O diagnóstico de câncer não é uma sentença de morte: é uma doença. Por isso, é preciso confiar na efetividade do tratamento e seguir as orientações médicas. Também é essencial enfrentar cada processo, por mais difícil que seja, com a convicção de que é o caminho da cura. Ela existe!”, aconselha a professora do Colégio de Aplicação João XXIII/UFJF, Patrícia Otoni, 35 anos.

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Ela passou por todo o processo no ano passado, após perceber algo diferente no seio, três meses depois da última consulta regular com sua ginecologista. “Estava de férias, na praia, e senti um nódulo enquanto passava o protetor solar na mama esquerda. Observei que ele não diminuiu e, na semana seguinte, agendei uma consulta, em fevereiro de 2023.”

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Exames de imagem mais modernos que permitem diagnóstico precoce da doença; exames moleculares e genéticos que personalizam o tratamento, selecionando drogas mais eficientes para cada caso; cirurgia reconstrutiva de mama, melhorando a autoestima e a recuperação emocional; tratamento multidisciplinar com reabilitação física e psicológica e foco na melhora da qualidade de vida, através do controle da dor, da fadiga e dos efeitos colaterais de longo prazo estão entre os progressos citados pela doutora Estela. “Hoje, além de buscar a cura, buscamos também garantir que as pacientes vivam bem física e emocionalmente, durante e após o tratamento, com saúde, autonomia e qualidade de vida, mesmo durante seus maiores desafios”, destaca a profissional, que também é mastologista titular da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e membro da Sociedade Americana dos Cirurgiões de Mama (ASBrS).

A professora Patrícia iniciou a quimioterapia em abril do ano passado, após vários exames – como mamografia, ressonância, biópsia e imuno-histoquímica – revelarem dois carcinomas do tipo triplo negativo. “Foi tudo muito rápido e intenso.” A docente imaginou que a fase mais difícil seria a queda dos cabelos. “Fui muito bem orientada e descobri que há recursos para quase todos os efeitos colaterais do tratamento.” Então ela ressignificou o processo, inclusive a perda capilar. “De certa forma, é a parte visível do tratamento, e isso me dava orgulho: Estou careca porque estou tratando!”

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Mesmo com pensamentos sobre ser forte e corajosa, Patrícia soube da importância de ter uma rede de apoio para receber carinho e cuidado. Ela também buscou inspiração em exemplos positivos. “Publicizei em minhas redes sociais e fiz relatos de cada etapa. Tive o envolvimento de toda a minha família e recebia mensagens diárias de encorajamento de diversas pessoas. Estava vulnerável, mas precisava encarar a luta. E, felizmente, eu não lutei sozinha!” Durante o tratamento, ela buscou respeitar os sinais do seu corpo e mente, além de seguir as recomendações da oncologista. “Minha rotina foi alterada de forma significativa, assim como meus hábitos. Fiz acompanhamento com psicóloga, nutricionista, fisioterapeuta e segui, rigorosamente, os protocolos indicados.”

Diagnóstico precoce do câncer

A professora Patrícia Otoni durante o tratamento do câncer de mama (Foto: Arquivo pessoal)                                                          x

Em fevereiro, cerca de um ano depois de descobrir a doença, a professora Patrícia finalizou o protocolo de tratamento (quimioterapia, cirurgia e radioterapia) com cura. “Fiz o acompanhamento semestral, e os exames estão ótimos. Ainda enfrento alguns efeitos colaterais, em especial o ganho de peso e a menopausa precoce, mas sigo com hábitos e pensamentos saudáveis, pois o meu tratamento envolve, exclusivamente, a qualidade de vida, já que não utilizo nenhuma medicação.” Ela ainda comemora o crescimento rápido dos cabelos. “Realmente, tudo passa.”

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A médica Estela lembra que o diagnóstico precoce é um dos fatores mais importantes na luta contra o câncer de mama, pois aumenta as chances de tratamento bem-sucedido, minimiza os impactos emocionais e físicos negativos e melhora a qualidade de vida das pacientes. “Quando falamos em diagnóstico precoce do câncer de mama, estamos falando de rastreamento mamográfico, que pode ser complementado com ultrassom ou ressonância de mamas, dependendo do caso. Isso não evita que a paciente desenvolva a doença, mas aumenta significativamente as chances de cura e permite tratamentos menos agressivos.”

Atividade física e fisioterapia são recomendadas a pacientes

Nas pacientes com diagnóstico de câncer de mama, a atividade física e a fisioterapia são altamente recomendadas, tanto durante, quanto após o tratamento, minimizando os efeitos colaterais e auxiliando na recuperação física e emocional, conforme a mastologista do HU-UFJF/Ebserh, Estela Laporte. Ela acrescenta que a prática de exercícios físicos é uma estratégia amplamente reconhecida de prevenção do câncer de mama. “Associada a uma alimentação equilibrada e controle do estresse e do consumo de álcool, diminui o risco de desenvolvimento da doença. Estudos mostram que pacientes que já praticavam exercícios físicos antes de desenvolver um câncer de mama, evoluem melhor que as não praticantes.”

Ainda segundo a especialista, como um dos maiores fatores de risco para câncer de mama na pós-menopausa é a obesidade, a prática regular ajuda no controle do peso e melhora a saúde cardiovascular. “Além disso, quando nos exercitamos, ocorre a liberação de endorfinas, que são substâncias químicas do cérebro associadas ao bem-estar e à redução da ansiedade e da depressão, ajudando a lidar melhor com o estresse emocional relacionado ao diagnóstico e ao tratamento. Estudos mostram que pacientes que se mantêm fisicamente ativas após o tratamento têm uma menor chance de recidiva do câncer.”

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Patrícia Otoni após a doença, com os cabelos crescidos: “Realmente, tudo passa.” (Foto: Arquivo pessoal)

A professora Patrícia Otoni, que descobriu a doença aos 33 anos, teve dificuldade em realizar algumas atividades físicas durante o tratamento, especialmente em meio à quimioterapia. Ainda assim, ela conseguia caminhar e fazer pilates. “Hoje, compreendo que a atividade física é parte do tratamento e estou com a meta de participar de uma corrida de rua”, revela. Ela também recomenda a fisioterapia oncológica, que iniciou após a adenomastectomia (retirada da mama, com preservação da pele e do mamilo). “A drenagem linfática na região da mama esquerda, incluindo a axila e o braço, foi fundamental para amenizar o desconforto causado pelos edemas pós-cirúrgicos. Não conseguia levantar o braço esquerdo, e minha postura ficou prejudicada. Por isso, os movimentos orientados pela fisioterapeuta foram me auxiliando, gradativamente, na recuperação.”

Ela ainda contou com aplicação de laser no período da radioterapia, pois a pele da área tratada estava muito sensível. “Com a prevenção e intervenção constante, não tive feridas. A fisioterapia também ajudou com exercícios para a estimulação do pulmão, já que, como reflexo de todo o tratamento (quimioterapia, cirurgia, radioterapia), minha respiração ficou extremamente prejudicada. Aos poucos, consegui recuperar o fôlego para realizar atividades de maior esforço. Antes, eu me sentia cansada até para subir escadas. Pouco tempo depois, consegui fazer trilha até o alto de uma montanha”, surpreende.

Bem-estar durante e depois do câncer

A fisioterapeuta oncológica e paliativista que atendeu a professora Patrícia, Olívia Campos Lopes, reforça que a fisioterapia desempenha um papel crucial no bem-estar de pacientes com câncer de mama em todas as fases do tratamento. “Contribui para a manutenção da funcionalidade e da qualidade de vida, ajudando a minimizar os efeitos adversos das cirurgias e dos tratamentos oncológicos.” Antes da cirurgia, a fisioterapia atua na preparação da paciente, avaliando e tratando possíveis lesões existentes e promovendo o fortalecimento muscular, além de melhorar a mobilidade e a função respiratória. “Essa pré-habilitação resulta em uma recuperação mais rápida e menos dolorosa”, conclui Olívia.

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Já no pós-operatório, a fisioterapia é fundamental, segundo a profissional, para tratar e prevenir aderências e contraturas musculares, além de orientar sobre a prevenção do linfedema. “Com exercícios específicos, conseguimos melhorar a força muscular, postura e restaurar a amplitude de movimento do ombro, permitindo que a paciente retorne rapidamente à sua rotina. Utilizamos também técnicas para aliviar a dor e o desconforto após a cirurgia.” Durante a quimioterapia e radioterapia, a técnica minimiza diversas reações adversas, como mucosite, neuropatia periférica, fadiga e radiodermite. “Além dos aspectos físicos, a fisioterapia tem um impacto significativo na saúde emocional da paciente. Ao incentivar uma recuperação ativa, promovemos um impacto positivo da autoestima e no enfrentamento da doença”, complementa.

Assim como a doutora Estela Laporte, Olívia destaca que os avanços nos últimos anos têm melhorado muito a qualidade de vida das pacientes. “Cirurgias menos invasivas e tratamentos personalizados reduzem os efeitos colaterais, facilitando a recuperação.” A fisioterapia oncológica também evoluiu, de acordo com ela, ajudando ainda mais na prevenção de complicações e na reabilitação física. “Atualmente, contamos com uma abordagem multidisciplinar, que cuida de forma integral do bem-estar das pacientes. Além disso, hoje em dia, já se sabe que a prática regular de exercícios físicos durante o tratamento oncológico tem um efeito positivo na qualidade de vida, uma vez que ajuda a reduzir a fadiga causada pelo tratamento, aumenta a disposição, controla a ansiedade, melhora a qualidade do sono e preserva a força muscular e a mobilidade. Quando adaptadas às condições da paciente, a atividade física contribui para uma recuperação mais rápida e melhor qualidade de vida durante o tratamento. Também ajuda a diminuir as chances de recidiva da doença e o risco de desenvolvimento de um novo câncer.”

Paciente aguarda reconstrução de mama pelo SUS

“Observe suas mamas. Se reconheça, se olhe, se examine”, recomenda a mastologista Estela Laporte (Foto: Arquivo pessoal)

“Para quem está em tratamento, eu falaria que se permita sentir, porque é muita coisa: medo, tristeza, revolta. Mas não se deixe afogar por isso. O suporte psicológico é importantíssimo, e a rede de apoio, também. O tratamento, por mais longo e demorado que seja, é eficaz”, aconselha a tradutora Daiane Ferreira, 42 anos. Ela descobriu o câncer de mama em setembro de 2020, “na época em que ninguém sabia o que esperar da pandemia.” Mas o processo entre a suspeita, a confirmação e o início do tratamento foi rápido. “Na época fiquei assustada, porque minha mãe faleceu por causa do câncer, e porque meu filho tinha 6 anos. O que mais bateu foi: ‘E se acontecer algo, com quem ele vai ficar?”

A quimio e imunoterapia foram realizadas entre 2020 e o começo de 2022, com cirurgia em 2021. “A vida seguiu comigo trabalhando quando dava, porque sou tradutora e não pude ser afastada pelo INSS. Mas eu tenho uma rede de apoio muito grande. Minha família materna esteve presente o tempo todo, e o pai do meu filho também ajudou. Eu segui em frente, porque a outra opção era desistir, e isso não rola. Contei com o apoio de amigas que estavam se tratando. O senso de humor foi o que não deixou a gente desanimar, além de poder desabafar quando a situação ficava pesada. Me permiti chorar quando precisava, mas não deixei que isso me cegasse para o que tinha de bom.”

Em remissão desde maio de 2022, Daiane faz o acompanhamento semestral, mas ainda está à espera da reconstrução da mama pelo SUS. “Eu levo as coisas com mais leveza. Depois de passar tanto tempo com medo de ficar doente de novo, é o que me ajudou e me ajuda a seguir a vida.”

Assim como Daiane buscou outras fontes de apoio, a mastologista Estela Laporte acredita que a jornada da paciente vai muito além do tratamento médico em si, incluindo o manejo da saúde emocional, aspectos sociais e espirituais. “Terapia psicológica individual, grupos de apoio, meditação, mindfulness, yoga e respiração guiada podem auxiliar no controle do estresse e na promoção do bem-estar emocional.”

Por fim, a especialista orienta que cada mulher é única, e conhecer o próprio corpo é fundamental. “Observe suas mamas. Com o aumento dos casos de câncer em mulheres mais jovens, ainda fora da faixa etária de rastreamento, esse cuidado se torna ainda mais valioso. Se reconheça, se olhe, se examine. Só assim é possível identificar uma alteração, se por acaso surgir. Consulte e faça seus exames regularmente, se já for indicado. Assuma o protagonismo da sua saúde, e se priorize. Faça por você, por quem você ama e pelos que amam você.”

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