O dia 13 de julho é considerado o Dia Mundial do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). A data foi criada para espalhar informações sobre o tema, conscientizar e desmistificar rótulos. O TDAH é um transtorno neuropsiquiátrico mais comum em crianças e adolescentes, mas que pode acometer a pessoa por toda a sua vida. Segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), ele ocorre em 3% a 5% das crianças de diferentes regiões do mundo e, em mais da metade dos casos, o transtorno acompanha o indivíduo na vida adulta.
O TDAH muitas vezes é associado pelo senso comum a um comportamento característico, embora seja, principalmente, marcado por três sintomas: desatenção, hiperatividade e impulsividade. O transtorno também pode se apresentar de forma mais sutil, o que torna mais difícil o diagnóstico. “Muitos pais perguntam: ‘mas toda criança não é assim? ‘. Para dar o diagnóstico correto, o médico precisa ser bastante cauteloso. Todos nós temos um certo grau de desatenção, hiperatividade e impulsividade, mas quando esses sintomas trazem prejuízo, seja na escola, em casa ou no trabalho, é aí que a ajuda médica se faz necessária”, explica a neurologista especializada em TDAH Belisa Lopes.
Sintomas e tratamento
Os sintomas podem se manifestar de diferentes formas e intensidade. Geralmente os portadores de TDAH lidam com a dificuldade de se concentrar em uma determinada tarefa por um longo período, se distraem com facilidade e, em alguns casos, podem encontrar obstáculos em iniciar ou dar sequência a uma atividade. A médica Belisa Lopes alerta para o comportamento impulsivo e a hiperatividade, como “a criança que está sempre agitada, se movimentando, subindo nos móveis ou não consegue ficar sentada na escola”, por exemplo, e “o ato de agir antes de pensar, falar muito e interromper a fala de outras pessoas” também podem ser características do transtorno.
A psicopedagoga e orientadora vocacional Cristina Coronha ressalta que, na maioria dos casos, as pessoas que têm TDAH costumam ter um comportamento ansioso e dificuldade de organizar as atividades. “Outro sintoma é o que nós chamamos de hiperfoco. Às vezes eles estão tão focados em uma determinada tarefa, e geralmente isso só acontece com aquilo que gostam, que esquecem o que está acontecendo envolta, devido ao nível de envolvimento com a atividade.”
O tratamento recomendado é a psicoterapia, no qual o paciente e seus familiares irão conhecer mais sobre o tema e estabelecer estratégias comportamentais para lidar com os sintomas, além de medicação.
“A medicação traz o benefício de ativar circuitos cerebrais e a psicoterapia traz mecanismos pelos quais nós treinamos a evitar os prejuízos do mau comportamento. Com isso, há um ganho de qualidade de vida mensurável e perceptível ao paciente e aos conviventes”, afirma o também neurologista Emerson de Paula, marido de Belisa.
Emerson, que é portador de TDAH, foi diagnosticado somente na idade adulta, quando, junto com sua esposa Belisa, começou a estudar e entender a fundo o problema. Desde criança, ele conta, já observava dificuldades de manter rotinas, organizar o ambiente de estudos e casa. “Além disso, tive dificuldade em gerenciar o tempo, de forma que eu pudesse desenvolver mais de uma atividade de maneira precisa, sem estresse e sem procrastinação.”
TDAH no ambiente escolar
A escola, às vezes, pode ser um período de difícil adaptação para crianças e adolescentes. Ter que lidar com a mesma rotina, regras e uma demanda extensa de atividades pode implicar em algumas limitações para os portadores de TDAH. Para isso, a educação inclusiva deve ser inserida nas instituições para amparar todos os alunos. “As escolas precisam realizar algumas adaptações curriculares para poder inserir esses alunos e entender essa realidade, através de metodologias, estratégias e algumas atitudes diárias para que eles possam mostrar o máximo do seu potencial”, afirma a Cristina.
A escola e a família precisam caminhar juntas nesse processo. “Os pais, por desconhecimento, percebem a deslocação dos filhos, a dificuldade nos estudos, a desmotivação, e não sabem lidar, acham que é desleixo, falta de interesse”, comenta a psicopedagoga. Para solucionar essa questão a escola deve propor um diálogo com a família, estar atenta ao movimento do aluno e realizar uma observação dirigida, solicitando aos pais que busquem ajuda profissional. “É muito importante que a escola entenda o seu papel na colaboração na condução desse trabalho.”.
Belisa completa que a criança diagnosticada com TDAH vai precisar de ajuda na organização das tarefas, obrigações e materiais escolares, por exemplo. Uma alternativa para auxiliar no estudo individual é ter um lugar tranquilo, sem muito barulho para se concentrar, usar muitas cores, registros esquemáticos e mapas mentais. O psicopedagogo pode orientar nessa organização de estudo, fazendo com que o paciente entenda seu estilo de aprendizagem e que utilize isso no dia a dia.
“Muitas vezes o uso de agendas, quadro com as atividades e listas ajudam esse paciente a cumprir seus objetivos ao longo do dia. O tratamento, quando aborda o paciente, a família e a escola, terá bons resultados”, orienta a neurologista.
De acordo com Emerson, é comum pensar que o portador do TDAH tenha sempre dificuldade no desempenho acadêmico, no entanto, isso é um equívoco. “O desempenho acadêmico pode ser um diferencial positivo nesse grupo, como foi para mim.”
Falando sobre
Atualmente, os profissionais da área e os portadores buscam combater a desinformação e os rótulos divulgando o assunto, para assim, conseguir diagnosticar mais cedo e iniciar o tratamento, ajudando no desempenho pessoal e profissional dos pacientes. A conscientização é fundamental para a convivência entre as pessoas que têm TDAH, seus familiares, amigos e também no ambiente escolar e profissional.
“Neste 13 de julho falamos muito sobre a conscientização sobre o TDAH. Nós procuramos levar informações sobre o transtorno para o máximo de pessoas possíveis, para que os diagnósticos sejam cada vez mais precoces, ainda na infância, e que todos os portadores sejam tratados da forma adequada”, ressalta Belisa, que mantém, com Emerson, o perfil @casal.neurologista no Instagram.