Prestes a completar 25 anos de existência em Juiz de Fora, a ONG Médicos do Barulho viu suas atividades de visitas a hospitais de Juiz de Fora e ao Instituto Nacional de Câncer no Rio de Janeiro ficarem completamente suspensas em função da pandemia de Covid-19. Entretanto, durante este período, cerca de cem voluntários que fazem parte da iniciativa direcionaram esforços para atender a outras demandas de famílias em vulnerabilidade, algo que faziam antes, no entanto, em menor escala.
Contudo, para dar continuidade às atividades, o projeto precisa de um veículo para transportar os itens de doação, e, para viabilizar a compra do automóvel, realiza uma vaquinha virtual.
De acordo com o idealizador da iniciativa, Amaury Almeida Mendes, a ligação que havia com as famílias em vulnerabilidade foi ampliada em razão da pandemia. Algumas comunidades da cidade já eram atendidas pelo projeto antes, como era o caso do Residencial Belo Vale, localizado no Bairro Barbosa Lage, Zona Norte, e eventos eram realizados em concomitância com o trabalho desenvolvido nos hospitais. Entretanto, o trabalho se estendeu para outros bairros de Juiz de Fora. “Hoje não tem lugar em que a gente não vá”, conta Amaury.
Para fazer isso, a equipe do projeto começou a identificar e fazer um levantamento das famílias vulneráveis, compondo uma rotina, para proceder com a doação de alimentos perecíveis e não perecíveis e de outros materiais identificados como necessários pela população atendida. A ideia, segundo Amaury, é não só atuar na assistência, mas também oferecer e orientar outros caminhos. “Ajudamos com roupas, móveis, eletrodomésticos, alimentos, a partir das demandas que são apresentadas a nós. Esse movimento nos leva a uma agitação muito grande. Estamos sempre levando, buscando e entregando doações. Com o objetivo único de ajudar o próximo, não temos nenhum fim lucrativo”, explica.
Justamente por transitar entre muitos locais, o carro que é usado atualmente pelo projeto para fazer o transporte dos donativos apresenta grande desgaste, conforme o idealizador. “Chegou em um ponto em que o reparo supera o valor dele, mas é o veículo que nos dá condições logísticas de fazer esse translado”, relata Amaury. Desta forma, a ONG viu a necessidade de adquirir um outro veículo para dar suporte ao trabalho de assistência desenvolvido.
A expectativa é a de que o automóvel continue dando suporte ao grupo, que pretende continuar atuando na assistência às famílias vulneráveis mesmo depois que a pandemia for superada. “Vamos continuar com esse trabalho por meio dos contatos que já fizemos. Nosso objetivo não é criar dependência, mas dar condições para que as pessoas consigam ter autonomia. Queremos oferecer cursos profissionalizantes, oficinas, para que elas tenham como se tornar empreendedoras e para que as famílias possam se envolver conosco e conquistar a independência”, projeta Amaury.
Tudo isso, conforme Amaury, vai estar alinhado com objetivo central do Médicos do Barulho. Essa outra linha, que é fortalecida com a pandemia, vai seguir, segundo ele.
‘É um compromisso muito sério’
A advogada Marina Lins Ventura de Barros Rezende, que atua como voluntária no projeto há três anos, conta que conheceu Amaury como o Palhaço Fuzil, que animava as primeiras festas de aniversário que ela teve. Hoje com 31 anos, com o entendimento da dimensão do que o projeto criado por ele há 24 anos representa, de dedicação à pessoas que recebem carinho, força e incentivo nos leitos de hospitais como a Santa Casa de Misericórdia, ela reforça a transformação que ele oferece e participa do projeto criado por ele.
“Ficamos impressionados com a garra que o Amaury tem. Não tem sábado, não tem feriado. Se tem gente precisando, ele vai atrás de ajudar, é um dom. É um compromisso muito sério. Nem sempre as pessoas conseguem abrir mão. Mas com ele não tem hora, não tem lugar, somos todos muito fãs.”
À Tribuna, Marina relatou demandas que foram atendidas pelo projeto nesse período, como uma família que tinha problemas com ratos. Com a mobilização de parceiros, foi possível contribuir para sanar a emergência. Houve outras situações, como o pagamento de contas de luz atrasadas e o tratamento de uma mulher que estava na iminência de perder uma perna por conta de uma doença e que foi encaminhada ao atendimento por meio dos voluntários, por exemplo. Ela destaca que tudo foi possibilitado pela rede formada pelos Médicos do Barulho.
Como ajudar
Além da necessidade de levantar recursos para a compra do automóvel, os Médicos do Barulho também recebem outros donativos para encaminhar para as doações. Há uma necessidade grande de receber alimentos, em função da demanda que tem se apresentado ao projeto. Mas, além disso, móveis, eletrodomésticos, brinquedos também são recebidos pela equipe de voluntários. “Mudamos de posição e de ângulo. No hospital, vemos a doença, o sofrimento, as pessoas lutando para sobreviver. Mas esse movimento tem sido mais pesado. As necessidades são muito graves e urgentes agora. Por falta de estrutura, essas pessoas também podem chegar ao hospital.”
Com isso, o movimento se inverteu. Se antes, as pessoas eram abordadas pelos Médicos do Barulho, agora, elas procuram os membros da ONG. “Sentimos falta das visitas ao hospital? Sim, claro! Mas a demanda que temos no momento é tão grande, que não temos tempo para respirar. É muito trabalho, dedicação total. Nesse momento estamos com dificuldade de alimentos”, reforça Amaury. De acordo com ele, embora o projeto receba contribuições do projeto Mesa Brasil, a quantidade de alimento é pequena para conseguir atender a todos que precisam.
As doações de alimentos, unitários ou cestas básicas, podem ser direcionadas por meio dos contatos das redes sociais do Médicos do Barulho e, também, pelo telefone (32) 99832-1203. O e-mail do grupo é medicosdobarulho@gmail.com. Também é possível realizar doações de forma presencial nos dois bazares realizados pela ONG, localizados na Avenida Rio Branco 1.844, loja 27, e no Bairro Furtado de Menezes, na Rua Azevedo Neto 213. A unidade do Centro funciona no Shopping Rio Branco, de 10h a 13h e de 14h a 18h neste mês de junho. Já a unidade do Furtado de Menezes funciona de 10h a meio-dia e de 15h a 17h de segunda a sexta e das 10h às 13h aos sábados.