Um empresário do Bairro Poço Rico, na Zona Sudeste, teve sua empresa arrombada quatro vezes este ano. Em um dos casos, o homem de 60 anos foi encurralado pelo invasor dentro de seu estabelecimento. O criminoso, munido de uma barra de granito, partiu para cima da vítima, que sofreu um ferimento no braço. “Ele poderia ter me matado com um sarrafo de granito.” Na visão do empresário, a frequência de crimes do qual foi alvo traz à luz a insegurança que assombra os moradores do Poço Rico e Santa Teresa. “Gostaria de ter mais atenção das autoridades, pois me sinto desprotegido e não vejo perspectiva de reaver meus pertences roubados. O bairro sofre com uma onda de crimes, e seus moradores estão sem esperança”, desabafa a vítima, que, por medo, prefere não ter o nome divulgado.
Assaltos a pedestres durante o dia, casas e estabelecimentos comerciais arrombados e tráfico de drogas fazem parte do rol de reclamações da comunidade, que hoje se diz sitiada entre a linha férrea, o Rio Paraibuna e o viaduto Augusto Franco. Fatores que, segundo os residentes, contribuem para que o dia a dia do bairro seja atravessado pela criminalidade, já que funcionam como locais de atração para traficantes e usuários de drogas, esconderijo e rota de fuga para criminosos. Os moradores também afirmam que a solução dos problemas ultrapassa as questões policiais. Eles consideram que é preciso um trabalho social para acolhimento de pessoas que perambulam pelas ruas sob efeito de entorpecentes ou álcool.
Em setembro de 2015, os roubos na área foram tema de reportagem da Tribuna. Naquela ocasião, os constantes assaltos a pedestres e a residências assustavam os moradores, que denunciaram grupos de usuários de drogas que viviam nas ruas. De lá para cá, a situação parece não ter mudado, como aponta residentes e comerciantes.
Presidente da futura Associação de Moradores do Poço Rico, que está em fase de instalação e homologação, Alexandre Reis Silva, conhecido como Bigode, confirma que o bairro concentra muitos andarilhos. “Estamos entre o rio, a linha de trem, o viaduto da Independência (Augusto Franco) e ainda há a construção do novo viaduto. A linha do trem está com diversos barracos montados ao longo dela. Fica difícil saber se entre os moradores desses barracos há pessoas suspeitas que se infiltram, assim como podem estar infiltrados entre os catadores de material reciclado que procuram a Associação Municipal de Catadores de Materiais Recicláveis e Reaproveitáveis (Ascajuf) que existe no bairro”, pontua Bigode.
Ainda segundo o futuro presidente da Associação, a Ascajuf é cercada por tapumes de zinco na parte da frente e na lateral, mas o fundo é aberto para um campo de futebol, que é mal iluminado à noite, apresenta mato alto ao redor e onde já foi registrado um caso de estupro. “Como a parte de trás fica aberta, pessoas suspeitas entram lá e invadem as casas pelos fundos. Já tentamos diálogo com a associação para ver se fecham o terreno totalmente, mas ainda não apresentaram uma solução”, afirma Bigode.
O estabelecimento do empresário citado no início desta reportagem dá fundos para a Ascajuf. Ele também considera que a abertura junto ao campo de futebol apresenta riscos. “Facilita a invasão dos bandidos, que entram no depósito sem serem vistas e pulam para a minha propriedade.”
Vice-presidente da Ascajuf, Werley Aparecido Pereira dos Santos tem consciência do problema. Ele denuncia que pessoas entram de carro no campo para fazer sexo à noite e usar drogas. “Temos um projeto pronto para a construção de um muro, que irá contribuir com a segurança, mas nossa associação não tem recursos. Estamos procurando parcerias a fim de conseguir verba para dar início à obra. Todavia, essa captação de parceiros não está fácil”, pontua Werley, acrescentando que a Ascajuf recebeu a doação de alguns mourões. “Nossa ideia é fazer uma cerca até termos condições de construir o muro”, concluiu.
Outra situação apontada pelos moradores tem a ver com a Ponte Luiz Ernesto Bernardino Alves Filho, localizada próximo ao Tupynambás. O local, segundo as denúncias, tem sua parte debaixo, na margem do rio, como ponto de uso e venda de entorpecentes. “Embaixo dela não é fechado e, além dos casos de drogas, serve para alguns casais fazerem sexo”, assevera Bigode, que acrescenta: “A PM tenta fazer um trabalho, mas está difícil, porque envolve outros fatores para melhorar a situação. Quem mora há 40 anos no bairro, está indignado, sem falar da desvalorização dos imóveis. É difícil alugar imóvel na região. Recorremos à Câmara Municipal para agendar uma audiência pública, envolvendo moradores, Prefeitura, PM e Ascajuf para traçar metas a fim de melhorar a situação”.
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