Trechos da BR-440 liberados para o tráfego, no Bairro São Pedro, na Cidade Alta, provocam protestos de moradores e usuários. Eles questionam a segurança da área, que está sendo utilizada mesmo antes da conclusão da obra. A Tribuna percorreu a via e encontrou problemas, como falta de sinalização, placas indicando quebra-molas e faixas de pedestres em pontos onde eles não estão presentes, uso de mão inglesa (acesso pela esquerda e não pela direita) sem indicação adequada e comprometimento da visibilidade para condutores. A população afirma que o cenário reduz a qualidade de vida, antes um dos principais atrativos do bairro.
Iniciada em setembro de 2009, a construção da rodovia foi suspensa, pelo Tribunal de Contas da União, em dezembro de 2010. Desta forma, as frentes de trabalho têm atuado apenas em pontos onde as obras já haviam sido iniciadas antes. Segundo funcionários da Empa/SA, construtora responsável pelas intervenções, algumas adequações devem minimizar os problemas nos próximos meses, mas os transtornos só acabarão quando houver uma autorização para a conclusão de todas as intervenções previstas.
Um dos principais alvos de reclamações é o cruzamento da via com a Rua Roberto Stiegert. No local, a sinalização é confusa e a visibilidade está comprometida. A situação se complica porque os veículos, neste trecho, seguem em várias direções. Proprietário de um lava-jato situado no local, Wallace Resende, 35 anos, diz já ter presenciado acidentes. É neste ponto que tem início a mão inglesa, que se estende por cerca de um quilômetro e meio até o final da antiga Via São Pedro. "Pelo menos cinco vezes por dia, ouço barulho de pneus cantando." Ele conta que os transtornos são inúmeros. Como acrescenta, a poeira é constante e, quando chove, fica alagado pela falta de escoamento. Segundo Wallace, as frentes de obra mudam de lugar sem que sejam concluídos os trabalhos no ponto anterior.
Vendedor de uma loja vizinha ao lava-jato, Rafael de Gouvêa, 28, também reclama. "Há um descaso com a sinalização e, durante a noite, a iluminação é precária. Para quem faz caminhadas nesse período, a área se tornou perigosa." Conforme ele acrescenta, outro agravante é a falta de informações à população sobre o andamento das obras. "Acho que deveriam pensar em minimizar os transtornos para quem mora no entorno." Em coro, a dona de casa Carla Picoli, 39, que reside na região há quatro anos, afirma que as mudanças tiraram a tranquilidade do bairro. "Ignoraram o fato de ser uma área residencial. Não temos segurança alguma para atravessar a via."
Risco no asfalto
Na altura da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de São Pedro, outros problemas são apontados. Há um quebra-molas que não é indicado por placas, e não há faixas de pedestres em frente a uma passagem que serve de travessia sobre o córrego que divide as duas pistas. "Fico inseguro com tantas falhas. Para piorar, os carros passam em alta velocidade", diz o auxiliar de produção Maximiliano Vichiato, 20, acrescentando que a situação é a mesma há mais de um ano. Alguns metros à frente, a travessia sobre o córrego é ainda mais arriscada, com uma estreita ponte sem corrimãos. O servente Lucas Furtado, 26, passa pela estrutura diariamente e reclama: "Arrumam tudo, mas algo tão simples passa despercebido".
Impactos sentidos por todo o bairro
No trecho da BR-440 que coincide com a Avenida Pedro Henrique Krambeck, próximo a um supermercado, o cenário também é confuso.Uma parte inacabada da rodovia está sendo usada como acesso ao estabelecimento. Além disso, motoristas usam o espaço como ligação entre as duas partes do bairro que ficaram divididas pela estrada federal, concluindo a travessia pelo estacionamento do local. "Acho que deveria haver profissionais para orientar o tráfego", pontua o comerciante Carlos Augusto Moreira, 35, depois de reclamar da falta de dispositivos informativos. Ele acha, inclusive, que, enquanto a BR-440 não é finalizada, o ideal seria que permanecesse interditada. "Causaria engarrafamentos no bairro, mas garantiria mais segurança."
A cabeleireira Lidya Mara da Silva, 30, acrescenta que as intervenções na via federal têm impacto sobre o trânsito da região, causando retenções. Por isso, a sinalização deveria ser reforçada. Ela também chama atenção para os montes de terra colocados ao longo da pista para impedir a passagem de veículos, que acabaram sendo utilizados como rampas para bicicletas por jovens. Lidya diz já ter presenciado acidentes por conta dessa prática.
Negligência
Na opinião do consultor de trânsito Sebastião Pires de Camargos, a situação revela negligência por parte do órgão responsável pela construção. "A partir do momento em que o tráfego é liberado, a sinalização deve ser imediata, ainda que de forma provisória, por meio de dispositivos, como cones e faixas." Como ele pontua, quando não há informação, resta apenas o bom-senso dos motoristas para que haja prudência. Como problema mais grave, Sebastião cita a presença da mão inglesa. "Esse tipo de situação, mesmo quando sinalizada, tem um entendimento difícil por parte dos condutores. Sem isso, é um convite a acidentes."
Procurado pela Tribuna, o órgão responsável, que é o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), em Minas Gerais, informou, por meio de sua assessoria, que recomendou à construtora que vistoriasse a via. Representantes da construtora informaram que adequações na sinalização, incluindo a pintura de faixas para travessias e instalação de quebra-molas, serão feitas até julho. Outra justificativa é de que o projeto final prevê a construção de passarelas, que vão suprir a função das pequenas pontes sobre o córrego. Entretanto, a instalação só será possível após a liberação de novas frentes de obras. Observação semelhante foi feita acerca do cruzamento onde começa a mão inglesa, já que ele deixará de existir com a conclusão da rodovia. Os montes de terras que bloqueiam a via também foram comentados. A alternativa foi utilizada por conta da depredação de outros materiais, como manilhas de concreto, que eram usadas para esse fim.
A assessoria da Settra, por sua vez, informou que, enquanto a obra estiver em execução, ainda que apenas em alguns trechos, a responsabilidade pela sinalização é da empreiteira. Caso haja paralisação total das atividades, a Prefeitura pode assumir medidas paliativas para garantir a segurança.