Apesar de nenhum caso do novo coronavírus ter sido confirmado em Juiz de Fora e na região, instituições de ensino da cidade já têm adotado medidas de orientação e prevenção à doença. Algumas unidades, inclusive, já pretendem articular estratégias caso haja confirmação da circulação do vírus no município. Das unidades procuradas pela Tribuna, quatro informaram que estão atuando na orientação de alunos e responsáveis para esclarecer sobre a doença, que já infectou 77 pessoas no país, sendo duas em Minas Gerais.
Segundo o diretor-geral do Colégio e Curso Nota 10, Luís Cláudio Frutuoso Corrêa, na manhã desta sexta-feira (13), professores e coordenadores se reunirão para discutir possíveis medidas caso a doença se confirme a circulação do coronavírus em Juiz de Fora. Até então, o colégio tem informado e orientado os alunos com relação a higiene. “Na disciplina de vírus, a professora de Biologia tem abordado a questão do coronavírus, explicado detalhes. Também aumentamos a disponibilidade de álcool em gel na escola”, relata. Ainda conforme o diretor, há uma apreensão “natural” por parte dos alunos, que, no entanto, não estão alarmados com a situação. “Alguns pedem para manter as janelas e portas abertas, outros não fazem questão, mas ainda não estão em pânico, até porque não houve confirmação na cidade.”
O professor de Biologia do Colégio Equipe, Bernardo Hallack, conta que, após a confirmação do primeiro caso no Brasil, a escola emitiu uma nota informando à comunidade escolar sobre o vírus. À medida que o número de casos no país foi aumentando, a unidade disponibilizou álcool em gel nos corredores do prédio. O professor afirma que os banheiros da unidade têm sido abastecidos com sabão para higienização das mãos. Além disso, nas salas de aulas, os alunos têm procurado tirar dúvidas e, por enquanto, estão tratando o assunto sem manifestar pânico. “Alguns estudantes levantam dúvidas, e nós sempre explicamos, orientamos sobre as medidas preventivas. Explicamos sobre a taxa de letalidade da doença, que é muito baixa na faixa etária dos alunos, por exemplo. O que estamos procurando fazer é orientar e informar, para que não haja desespero de forma desnecessária”, explica.
Com o início das confirmações da doença no país, o professor também relata que alguns pais, mães e responsáveis chegaram a procurar a escola para obter informações sobre o coronavírus. “Alguns estão preocupados, sim, mas não há pânico. Eles consideram que os alunos estão sendo bem assistidos dentro da escola. Não há nada extremo no sentido de abandono das aulas ou uso de máscaras, por exemplo.”
O Colégio Metodista Granbery também tem promovido ações no sentido de orientar os estudantes. Em nota, a instituição afirma que “vem realizando há duas semanas medidas de prevenção ao coronavírus, como palestras com os professores de Biologia e Química para os alunos de todos os segmentos, orientações em sala de aula e comunicados para os pais, disponibilizados na agenda digital”.
A Rede de Ensino Apogeu também encaminhou nota à Tribuna e afirmou que a unidade busca atuar preventivamente, com seus alunos, em áreas específicas da saúde. Conforme a nota, a instituição tem buscado conscientizar e informar a comunidade educativa. “No caso do Covid-2019, um informativo foi enviado aos responsáveis com todas as informações necessárias e preconizadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Além disso, estamos reforçando nossas práticas de higiene diária e intensificando a limpeza e desinfecção das superfícies das salas de aula e demais espaços de todas as unidades da rede. As equipes contam com orientação quanto ao incentivo das técnicas de lavagem das mãos e uso do álcool em gel, além de orientação sobre a ‘etiqueta respiratória’. Para os alunos, estamos desenvolvendo uma ação em cada sala de aula, de acordo com a faixa etária, quando abordamos a higienização das mãos e todas as outras medidas preventivas (…), além de esclarecer sobre o combate às fakenews”, detalha o texto.
Redes municipais e estaduais
Questionada sobre as medidas adotadas nas escolas e nas unidades de saúde, a Prefeitura de Juiz de Fora informou que será realizada, nesta sexta-feira, uma reunião para tratar das ações em âmbito municipal.
Na escolas estaduais, uma cartilha elaborada pela Secretaria de Estado de Saúde, em parceria com a Secretaria de Estado de Educação, será distribuída para os alunos. O documento contém orientações sobre prevenção e cuidados quanto ao coronavírus no ambiente escolar, como a necessidade de higienizar as mãos com água e sabão com frequência – por pelo menos 20 segundos, ou usar desinfetante para as mãos à base de álcool. A cartilha também ensina os alunos a cobrirem a boca e o nariz ao tossir ou espirrar, ou utilizar lenço descartável. Também são descritos os sintomas da doença, como febre, tosse, dificuldade de respirar.
Universidades também implementam ações
A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e a Universidade Federal de Viçosa (UFV) já implementam ações de orientação e prevenção do coronavírus. A UFJF informou que produziu material informativo sobre o coronavírus em texto, áudio e postagens nas redes sociais, inclusive com esclarecimentos do infectologista do Hospital Universitário Rodrigo Daniel de Souza. A UFV, por sua vez, desenvolve ações relacionadas à organização e à prevenção do vírus desde antes da confirmação do primeiro caso no Brasil, conforme direcionamento do Ministério da Saúde e alinhamento ao Município de Viçosa, como relatou à Tribuna, em nota.
Em vídeo publicado em suas redes sociais nesta quarta-feira (11), o ministro da Educação, Abraham Weintraub, alertou as instituições de ensino para a elaboração de um plano de contingência em caso de evolução do vírus no Brasil, como a possibilidade de instituir aulas e trabalho remotamente. No entanto, de acordo com a UFJF, até o momento não houve notificação oficial do Ministério da Educação (MEC) sobre a elaboração de plano remoto de aulas ou suspensão do calendário letivo. Já UFV informou que já está em andamento na universidade o que foi repassado pelo MEC. “Reforçamos que estamos atentos à situação da doença e avaliando a cada dia o panorama e as ações a serem implementadas”, ponderou, em nota, a UFV.
O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais (IF Sudeste/MG) também tem adotado ações de prevenção, e promoveu, em 5 de março, no auditório da Reitoria, uma palestra sobre o coronavírus com o médico Maurício Augusto Bragagnolo Júnior, do Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor Federal (SIASS/UFJF), para servidores e colaboradores da Reitoria. A palestra foi transmitida ao vivo.
‘Suspender aulas é muito radical’, diz infectologista
Chefe do Setor de Gestão da Qualidade e Vigilância em Saúde do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU/UFJF), o infectologista Rodrigo Daniel de Souza acredita que, mesmo em um cenário em que haja confirmação da doença em Juiz de Fora, a suspensão de aulas não é necessária. “Suspender aulas é muito radical, por todo prejuízo que isso causa. Em caso de aluno com sintomas, por exemplo, o ideal é que apenas o estudante se afaste e a escola tome as medidas de higienização e prevenção. Isso, no entanto, deveria ser rotina, independente do coronavírus”, pontua.
Em nota emitida nesta quinta, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) expôs que, neste momento, considera prejudicial o fechamento das escolas, faculdades e escritórios, pois considera que o fechamento de escolas levará muitos alunos a ficarem com os avós, faixa etária em que a letalidade do vírus é maior. “No idoso com mais de 80 anos e comorbidades, a letalidade é em torno de 15%. Portanto, o fechamento de escolas em cidades em que os casos são importados ou a transmissão é local pode ser prejudicial para sociedade”.
Por outro lado, o infectologista Rodrigo Daniel considera que responsáveis por eventos públicos, principalmente aqueles para mais de cem pessoas devem adiar sua realização.