Em 2020, a leucemia atingiu 10.810 brasileiros, sendo o câncer mais incidente entre as crianças. O último levantamento, feito em 2017, revelou que foram 4.795 óbitos decorrentes da doença no ano. Ela é um câncer do sangue e tem início nas células-tronco da medula óssea, podendo ter sintomas iniciais bastante silenciosos. Por esse motivo, foi criado o Fevereiro Laranja, campanha que visa a conscientizar a população para o diagnóstico da doença e incentiva a doação de medula óssea, uma das formas de tratamento utilizadas.
A hematologista Daniela Werneck explica que, na leucemia, as células sanguíneas doentes se formam e atrapalham a produção das células sanguíneas saudáveis da medula óssea, diminuindo seu número normal. A especialista conta que os sintomas iniciais podem incluir “uma febre inexplicável, sensação de fraqueza e fadiga persistente, perda de peso, hematomas que aparecem com facilidade, sangramentos nasais, suores noturnos e inchaço dos gânglios linfáticos, entre outros”. Ela alerta que a doença pode causar alterações nos glóbulos vermelhos e nas plaquetas, mas por essas mudanças acontecerem dentro do organismo, em muitos casos, os sinais da doença podem passar despercebidos.
Daniela observa que a leucemia pode ser classificada como “aguda” ou “crônica”, de acordo com a velocidade de crescimento das células doentes assim como de sua funcionalidade. Nos casos agudos, a especialista explica que a doença progride rapidamente, produzindo células que não estão maduras e não conseguem realizar as funções normais. Já na crônica, a doença normalmente progride lentamente, e os pacientes têm um número maior de células maduras. Essa diferenciação impacta na forma de tratamento e na evolução da doença, que pode ser tratada por medicamentos quimioterápicos, por proteção do sistema nervoso central, com radioterapia e, em alguns casos, através de um transplante de medula óssea.
Neste mês de fevereiro, a Secretaria de Saúde afirma que está realizando ações de conscientização virtualmente, através de posts nas redes sociais. Eles orientam que os indivíduos, ao perceberem qualquer alteração de saúde, devem ir até a unidade básica de saúde (UBS) de referência de seu bairro ou então no PAM-Marechal (para os bairros localizados em áreas descobertas), e lá devem passar pelo atendimento do clínico geral que os encaminhará, após realização de exames, para um hematologista. O tratamento da leucemia é realizado através da Rede SUS em hospitais conveniados. Os procedimentos incluem a quimioterapia, a radioterapia e o transplante de medula óssea, dentre outros.
A importância da doação de medula óssea
Apesar de nem todos os pacientes portadores de leucemia precisarem de transplante de medula óssea, esse recurso é utilizado em casos graves da doença. O médico hematologista Thiago Ferreira explica que “esse recurso é importantíssimo, principalmente para pacientes com menor chance de responder a quimioterapia isolada”. Durante o procedimento, as células da medula são transfundidas através de um cateter, após o paciente ter recebido altas doses de quimioterapia.
Mas para encontrar um doador de medula compatível é uma chance de um em cem em doadores aparentados e um em cem mil em não aparentados. Por isso, Ferreira explica que o objetivo de doar a medula é que a gente tenha um grande número de pessoas disponíveis, para que se possa aumentar a chance de ter alguém compatível. “Quanto mais doadores, mais chances de encontrar alguém compatível para o paciente que precisa.”
Atualmente, em Minas Gerais, o médico informa que a doação tem sido feita através da coleta de sangue simples no Hemominas. O perfil é de pessoas, a partir dos 18 anos, com boa saúde, sem patologias limitantes. “A gente faz as primeiras análises de compatibilidade a partir do exame, e os dados do doador já são colocados no banco”. Posteriormente, são feitos outros exames para conferir a compatibilidade. O médico também ressalta que esse procedimento não oferece nenhum risco para o doador.
Complicações durante a pandemia
De acordo com dados do Hemominas, em abril de 2021, durante a pandemia, houve uma queda de cerca de 27% nas doações de sangue. Ferreira conta que o momento vivido impactou na doação de medula, internação, decisão pela realização do transplante, disponibilidade de vagas em hospitais e medicamentos. Ele explica que isso aconteceu por conta do adoecimento de grande parcela da população e pelo isolamento social, causando um grande problema no tratamento da leucemia. “Com a baixa geral da doação de sangue, tivemos menos pessoas novas no banco de medula, ou seja, menos chances de encontrar indivíduos compatíveis”, diz.
Além disso, o cenário também impactou a realização de transplantes. Ferreira diz que “os centros de doação tiveram que avaliar de forma muito rigorosa os transplantes, para não expor os pacientes à infecção de Covid-19. Em alguns casos, pacientes que estavam com o tratamento em vigência tiveram que adiar o transplante, para que não houvesse risco de se infectarem nesse período. Mas, em muitos casos, não dá pra esperar e precisamos passar por cima de todos os obstáculos”. Ele também ressalta que o risco de desabastecimento de medicamentos de quimioterapia deixou todos os profissionais de saúde em alerta.
Tem cura?
Werneck explica que, quando a leucemia infantil é diagnosticada precocemente e a criança submetida ao tratamento adequado, as chances de cura chegam a ser de 80%. Na Leucemia Mielóide Crônica, a rápida descoberta da doença permite que o paciente tenha uma vida praticamente normal, precisando apenas de uma medicação. Já em alguns casos da Leucemia Linfóide Crônica, é preciso apenas o monitoramento por meio de exames anuais. Em todo caso, os especialistas afirmam que o diagnóstico é essencial para que a doença seja tratada o quanto antes e o paciente possa se recuperar da doença.