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Polícia procura advogado que também teria participação em caso de policiais presos

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Os três policiais foram ouvidos em salas separadas na sede da 4ª Risp, na Zona Norte de Juiz de Fora (Foto: Olavo Prazeres)
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A participação dos policiais civis de Juiz de Fora envolvidos no tiroteio ocorrido no estacionamento do Centro Médico do Monte Sinai está próxima de ser esclarecida. Os investigadores Leonardo Soares Siqueira, 43, e Marcelo Matolla de Resende, 45, e o escrivão Rafael Ramos dos Santos, 30, foram detidos na manhã desta segunda-feira (12), após terem a prisão temporária decretada pela Justiça. Eles são suspeitos de terem praticado os crimes de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. A polícia também cumpriu mandado de busca e apreensão no escritório e na residência de um advogado, que teria aparecido nas câmeras de segurança do hotel onde os policiais paulistas se hospedaram na cidade em outubro. Conforme o boletim de ocorrência, obtido com exclusividade pela Tribuna, nada de ilícito foi encontrado nos locais. A prisão temporária do advogado também foi decretada, porém, a informação é de que ele estaria “viajando”.

O procurador regional de prerrogativas da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)/MG, Giovane Kaheler, entrou com pedido na Justiça para que o advogado fique em prisão domiciliar. Segundo ele, todo advogado que não tenha sentença definitiva, ou seja, transitada em julgado, tem direito à sala de estado, que não existe no país. Por isso, lei federal prevê o direito à prisão domiciliar. “A OAB não entra no mérito se ele é culpado ou não. Apenas luta pelas prerrogativas profissionais do advogado”, informou Kaheler.

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Todos os investigados no crime ocorrido no último dia 19 e que resultou na morte de duas pessoas tiveram os sigilos telefônicos e telemáticos quebrados. O advogado José Antunes, do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais (Sindpol), que representa os interesses dos três policiais, afirmou que só se manifestará depois que eles tiverem seus depoimentos colhidos. Levados para a sede da 4ª Região Integrada de Segurança Pública (Risp), eles deveriam ser ouvidos pela Corregedoria de Polícia Civil de Minas Gerais. No entanto, os policiais foram orientados por seus advogados a permanecerem calados, até que a defesa tome ciência das provas existentes contra eles.
Informações extraoficiais apontam que os três estavam muito abatidos. Eles foram transferidos no final da tarde para a Casa de Custódia, na capital mineira.

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Inquérito ainda está em segredo de justiça

A Corregedoria da Polícia Civil de Minas Gerais é responsável pela apuração do episódio, junto com promotores de Justiça da Comarca de Juiz de Fora e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de Minas Gerais. Procurada pela reportagem, a assessoria da Polícia Civil de Minas Gerais informou, por meio de nota, que “o procedimento está em segredo de justiça, portanto a Polícia Civil não pode se manifestar”. Os detidos em prisão temporária foram levados para salas separadas, na sede da 4ª Região Integrada de Segurança Pública (Risp), e depois transferidos para Belo Horizonte.

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Permanecem detidos na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, desde o dia do crime, quatro policiais civis de São Paulo, autuados em flagrante por lavagem de dinheiro. São eles os delegados paulistas Bruno Martins Magalhães Alves, 30, e Rodrigo Castro Salgado da Costa, 31, e os investigadores Caio Augusto Freitas Ferreira de Lira, 36, e Jorge Alexandre Barbosa de Miranda, 50.

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 Depoimento

O empresário Antônio Vilela, 66, que seria responsável pelos R$ 14 milhões apreendidos e ferido com um tiro no pé, também se encontra preso no Ceresp de Juiz de Fora. Nesta segunda-feira, pela manhã, o empresário foi ouvido na 4ª Risp. Por volta das 16h, ele saiu em uma viatura da Polícia Civil com o uniforme da cadeia.

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O caso

As investigações apontam, até o momento, que os policiais civis paulistas vieram a Juiz de Fora escoltando o do executivo do ramo da engenharia e construção Flávio de Souza Guimarães. A suspeita é que os dólares seriam trocados por reais com Antônio Vilela, mas Flávio negou ter levado a moeda americana ou qualquer outra quantia em espécie para Juiz de Fora. Em depoimento à Corregedoria da PC paulista, ele afirmou ter ido à cidade mineira “negociar empréstimos para sua empresa”. O empresário afirmou desconhecer que era escoltado por policiais, alegando ter contratado os serviços da empresa de segurança de Jerônimo da Silva Leal Júnior, como já teria feito outras vezes.

A confusão teria começado depois que foi notado que o dinheiro levado ao encontro por Vilela era falso. Foram mortos o policial civil de Juiz de Fora Rodrigo Francisco e o empresário Jerônimo Leal, proprietário da empresa de segurança de São Paulo que teria contratado os policiais civis em serviço para a escolta de Flávio. Ele chegou a ficar internado, mas não resistiu.

A participação dos policiais civis de Juiz de Fora na operação clandestina foi apontada pelos policiais civis de São Paulo durante a audiência de custódia no Fórum. Eles estariam fazendo escolta para o empresário mineiro, prática proibida a agentes de segurança pública. Na época, foram autuados por prevaricação. O crime, previsto no artigo 319 do Código Penal, estabelece detenção de três meses a um ano para quem “retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal”.

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Investigações foram prorrogadas por mais dez dias

O inquérito da Corregedoria da Polícia Civil que investiga as motivações do crime foi prorrogado por mais dez dias, na última sexta-feira (9). Inicialmente, em despacho no dia 29 de outubro, o juiz Paulo Tristão, da Vara do Tribunal do Júri na Comarca de Juiz de Fora, havia decidido que a conclusão da investigação seria improrrogável, devendo ser finalizada na última sexta.

O entendimento, no entanto, mudou em virtude da necessidade de cumprimento de medidas cautelares, como a quebra de sigilo telefônico dos investigados, cumprimento dos mandados de prisão temporária desta segunda e de pedidos de busca e apreensão pendentes. “Tratam-se de fatos complexos, e as diligências são essenciais para melhor elucidação dos fatos e da conduta de cada um dos investigados”, argumentou Tristão em despacho.

O andamento das diligências fez com que a defesa dos policiais envolvidos no caso ainda não pudesse ter acesso aos novos fatos apensos ao procedimento. O pedido foi indeferido por Tristão no mesmo despacho. “As diligências acima mencionadas que exigem o sigilo no cumprimento, prevalecendo, assim, o interesse público sobre o privado, e o advogado ao ter acesso prejudicaria a eficácia devido ao seu dever funcional para com o cliente”, defendeu o magistrado. Com a dilatação do prazo, as investigações da Corregedoria da Polícia Civil devem ser concluídas até a próxima segunda-feira (19).

Homenagem

Leonardo Soares Siqueira, Marcelo Matolla de Resende e Rafael Ramos dos Santos (da esquerda para a direita) foram homenageados na ALMG

Em maio de 2014, os três policiais civis presos temporariamente foram homenageados pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais. A manifestação de aplauso foi requerida pelo deputado Sargento Rodrigues, na época, integrante da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). A condecoração foi justificada pela “pela participação (deles) em operações que culminaram na maior apreensão de drogas na cidade desde 2008 e na prisão de um traficante”.

Em janeiro daquele ano, foram apreendidos em Juiz de Fora 430 quilos de maconha em tabletes, além de cocaína em pasta base, uma moto, dois carros, escopeta calibre 12 e mais de 40 munições de armas. Em outra operação, um traficante foi preso com mais de 240 quilos de maconha. “Queremos, com muita satisfação e alegria, parabenizar os policiais civis por essas ações. Parabéns! Que Deus ilumine vocês e dê muita saúde, para que continuem no combate ao crime”, afirmou o deputado durante o evento.

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