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Grupos invadem lojas e roubam pedestres

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A atuação de gangues em arrastões nas ruas e no interior de estabelecimentos comerciais, principalmente na região central de Juiz de Fora, começa a assustar pedestres e comerciantes. Uma rede de farmácias, nos últimos dois meses, registrou 15 invasões. Geralmente, o grupo, com cerca de cinco pessoas, incluindo adolescentes e mulheres, entra no local, cria um tumulto e começa a encher as bolsas com diversos produtos das prateleiras e saem sem pagar. Em alguns casos houve registro de agressão e ameaças a funcionários. O que parece uma ação isolada, no entanto, já é vista de outra forma, uma vez que as vítimas acreditam que uma quadrilha esteja por trás das ocorrências.

Chama a atenção o fato de que, durante os roubos e furtos, são levados, principalmente, artigos de necessidade básica, como alimentos, roupas, fraldas e até guloseimas, incluindo biscoito e chocolate. Na visão de especialistas, a explicação pode estar na crise econômica pela qual o país atravessa. Com a maior repressão dentro dos estabelecimentos, os casos já começam a acontecer nas ruas, colocando em riscos os transeuntes. A região do Mergulhão e a calçada às margens do Rio Paraibuna, na área central, já serviram de cenário para ataques.

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No que se refere ao comércio, dos registros mais recentes, todos em junho, dois aconteceram no Centro. Um terceiro ocorreu numa loja na Avenida Brasil, no Mariano Procópio, perto do terminal rodoviário. Na região central, uma loja de departamento localizada entre as ruas Halfeld e Marechal Deodoro foi invadida, no início da noite, por oito pessoas. De acordo com informações da Polícia Militar, o bando era formado por homens e mulheres e foi flagrado por um dos seguranças, que viram os suspeitos enchendo duas bolsas com diversos produtos. Eles iriam sair sem pagar, mas foram contidos por um funcionário, que foi mordido no braço. Já o gerente tentou conter outro ladrão e foi mordido no peito e agredido com diversos socos. Mesmo assim, o grupo conseguiu fugir.

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Também conhecido como rapa, o mesmo tipo de ação foi registrado na Avenida Getúlio Vargas, quando uma farmácia foi invadida por uma mulher, de 34 anos, e três adolescentes, entre 15 e 17, sendo duas garotas e um menino. O grupo usou um saco plástico, semelhante ao de depositar lixo, para furtar diversos produtos das prateleiras. Quando a quadrilha entrou no estabelecimento, o saco estava escondido na bolsa da adolescente de 17 anos.

No momento em que foram abordados, eles fugiram em direção à Rua Santa Rita. A PM foi acionada e, quando conversava com o chefe de segurança da farmácia, este foi informado que o mesmo grupo havia tentado furtar uma outra filial do estabelecimento, onde ameaçaram de agressão o gerente. O crime foi captado pelas câmeras de segurança, o que ajudou na identificação do bando. De posse das características deles e com o auxílio do programa “Olho Vivo”, o quarteto foi localizado e capturado. Conforme a Polícia Militar, a mulher é conhecida no meio policial, uma vez que tem antecedentes por furto e por utilizar menores de idade para a prática de crimes.

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O gerente da farmácia, que preferiu não ser identificado, relatou que um estabelecimento de outra rede também havia sido alvo do mesmo bando. Segundo ele, as lojas do grupo do qual faz parte foram invadidas, pelo menos, 15 vezes entre maio e junho. “Eles entram de cara limpa, não se preocupam em mostrar o rosto. Muitas vezes, só percebíamos o crime depois, mas quando são flagrados, fazem ameaças. Teve um sábado em que o bando veio três vezes ao longo do dia. Em um dos casos, eles encheram um saco de lixo enorme com tinturas”, afirmou. Na Avenida Brasil, duas jovens e um rapaz, provavelmente com menos de 18 anos, começaram a furtar no interior da loja, mas foram flagrados e detidos pelos seguranças. Contudo, conseguiram escapar.

Intimidação e agressão nas ruas

Depois que as ocorrências dentro dos estabelecimentos começaram a ter maior repercussão, os crimes também passaram a acontecer na rua, onde os grupos intimidam uma única vítima, também com uso de agressão, para consumar o assalto. No último domingo, quatro homens e três mulheres cercaram uma transeunte de 48 anos na Avenida Brasil, para assaltá-la. O roubo foi por volta das 19h. Ela relatou que transitava sozinha pelo local, quando o bando surgiu. Um dos criminosos se aproximou e puxou a bolsa dela. Em seguida, começaram as agressões com chutes e socos, até a vítima cair no chão. Os bandidos fugiram levando R$ 30 e celular.

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Cinco adolescentes, com idades entre 13 e 16 anos, e um jovem, 22, foram detidos pela Polícia Militar por envolvimento em arrastões em um ponto de ônibus na Avenida dos Andradas e nas imediações do Mergulhão. Parte do grupo, que era maior, foi capturada com a ajuda do programa “Olho Vivo”. Eles cometeram o crime contra duas vítimas. Uma relatou que estava no local aguardando um coletivo, quando foi surpreendida pela chegada de vários assaltantes. Um deles puxou o celular das mãos da pedestre e todos fugiram.

Inquéritos

O delegado titular da 7ª Delegacia, Vítor Fiúza, que investiga os crimes ocorridos na região central de Juiz de Fora, afirmou que inquéritos em andamento apuram a identidade das pessoas envolvidas nos arrastões. Segundo ele, imagens dos circuitos de seguranças dos estabelecimentos invadidos passam por análises, para que as autorias sejam determinadas. “São inquéritos extensos, nos quais diversas pessoas são ouvidas. As vítimas acreditam que os autores possam ser os mesmos em vários casos”. Entretanto, Fiúza considera precipitado dizer que há um bando especializado nesta prática delituosa. Como a investigação ainda trabalha com o reconhecimento dos autores, o policial não adiantou mais detalhes sobre os fatos.

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Crise econômica e problema social

Os roubos cometidos em grupo com o propósito de levar produtos de necessidade básica, como alimentos, pode ter explicação na crise econômica brasileira, como aponta a professora do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande Sul (UFRGS), Letícia Maria Schabbach, que também é coordenadora de pós-graduação em Políticas Públicas da mesma universidade e membro do grupo de pesquisa sobre violência e cidadania. Para a pesquisadora, a questão vai além da segurança pública e deve ser vista com maior profundidade.

“A situação tem relação com a questão da necessidade destas pessoas em momento de crise financeira. Elas precisam buscar os serviços de assistência social para conseguir apoio. Todavia, devemos perguntar se estes programas existem, se são divulgados, se há facilidades para acessá-los. Este tipo de crime denota a ausência de uma rede de assistência para estas pessoas. Assim, é preciso pensar programas de apoio”, ressalta Letícia.

A professora ainda lembra que a polícia sozinha não é capaz de liquidar o problema. “É preciso atacá-lo com profundidade, não apenas com repressão, com aumento do efetivo policial nas ruas ou de seguranças nos estabelecimentos. A polícia sabe que é um problema social, mas precisa atender a demanda dos proprietários. Vivemos em uma sociedade capitalista, que atende a classe dominante. Além disso, há um sentimento de insegurança que faz com que as pessoas esperem da polícia uma resposta efetiva e visível, como é a repressão. Mas não é um caso só de segurança pública, pois a PM não tem como se fazer presente em todos os lugares. Se priorizar um setor, há a migração do crime. Por esta razão, o problema deve ser visto com amplitude e envolvimento de diversos setores”.

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