Os bancários foram às ruas de Juiz de Fora, neste sábado (12), em carreata, para cobrar maior agilidade na campanha de imunização contra a Covid-19. A manifestação integra o calendário de atividades em defesa da vacinação organizado pelo Sindicato dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Sintraf) da Zona da Mata e Sul de Minas em assembleia junto à categoria em 27 de maio. De acordo com o Sintraf, mais de 150 bancários foram infectados pela Covid-19 apenas em Juiz de Fora. Embora não tenha registrado mortes de bancários na cidade, a entidade calcula duas mortes de financiários, além de outras duas de vigilantes, sendo uma em Bicas. A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) já pleiteia ao Ministério da Saúde a inclusão dos bancários entre os grupos prioritários do Plano Nacional de Imunização (PNI).
O presidente do Sintraf, Watoira Antônio de Oliveira, aponta que o ato é uma reivindicação dos bancários por vacinação a todos, não apenas à categoria. “Os bancários prestam um serviço essencial. As agências não fecharam um só dia. Só que, aparentemente, o serviço não é essencial o suficiente para que os trabalhadores fossem incluídos entre os grupos prioritários para a vacinação.” Conforme Watoira, na última semana, por exemplo, duas agências do Banco do Brasil em Juiz de Fora foram fechadas após a notificação de um trabalhador infectado. Nesta semana, as atividades foram suspensas em outras duas do Banco do Brasil, além de outra do Santander. “Toda semana tem agência fechada por causa da contaminação de um bancário, um funcionário terceirizado ou um estagiário. Os bancos são um cubículo. Se alguém se contamina, fecha, porque as pessoas trabalham muito perto umas das outras.”
Os trabalhadores concentraram-se, a partir das 13h, em frente ao Clube dos Bancários, no Bairro Aeroporto, para sair em carreata. O comboio deixou o Aeroporto pela Estrada Dom Orione para acessar a Avenida Presidente Itamar Franco. Na altura do Bairro São Mateus, a carreata se deslocou para a Rua Oswaldo Aranha para entrar na Avenida Barão do Rio Branco. Os manifestantes percorreram a via até o Bairro Manoel Honório, onde, por fim, se dispersaram. Além de pleitear “uma vacinação mais rápida para todo mundo, e, assim, para os bancários”, de acordo com Watoira, o ato reforçou a campanha “Sindicato Solidário”, em que a categoria arrecada doação de alimentos para quem está em situação de fome. A campanha é idealizada pela Contraf.
Poucos bancários trabalhando
De acordo com o presidente do Sintraf, a entidade acionou tanto a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) quanto o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) após a categoria pleitear a inclusão entre os grupos prioritários para a imunização com a Covid-19. “Tivemos uma reunião com a prefeita Margarida Salomão, e ela nos disse que não poderia nos colocar na frente de outros grupos, porque a PJF tem que acompanhar o Plano Nacional de Imunização do Governo federal. O MPMG nos disse a mesma coisa.” O encontro com Margarida se deu em meio à extensão do expediente dos bancários das 9h às 17h. “Nós fomos contrários, porque já temos poucos bancários trabalhando, uma vez que muitos estão afastados por problemas de saúde. E, além disso, as agências são um vetor de risco. Se um pega, todos correm o risco de se contaminar. Sempre sonhamos em aumentar o horário de trabalho dos bancários, mas não em um momento como esse.” Posteriormente, o Executivo readequou o expediente da categoria.
Conforme levantamento do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), há um crescente número de encerramento de contratos de trabalho de bancários por morte no Brasil durante o primeiro trimestre de 2021. No mesmo período do ano passado, a média mensal de óbitos era aproximadamente 18. Já neste ano, o índice subiu para 52, o que representa um crescimento superior a 176%. O levantamento do Dieese foi feito a partir de dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério da Economia. Em reunião na última sexta-feira (11), a Contraf-CUT entregou ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, um ofício com a solicitação da inclusão da categoria entre os grupos prioritários para a vacinação.
O ofício é amparado em estudo do clínico geral Albucacis de Castro Pereira. Conforme registrado pelo ofício, a característica física do ambiente de trabalho em agências bancárias propicia uma maior concentração do vírus e, consequentemente, maior contágio. “Devido aos necessários cuidados com a segurança, as agências são fechadas e não oferecem ventilação e nem circulação natural de ar. Nestas condições, independentemente de fala, tosse ou espirro, a emissão de aerossóis se propaga em suspensão por horas no ambiente, aumentando drasticamente as possibilidades de contágio.” De acordo com a Contraf-CUT, Queiroga prometeu à categoria encaminhar o pedido à equipe técnica responsável pelo Plano Nacional de Imunização.