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Jovem é detido por chantagear médico pela internet

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Reprodução de um dos e-mails enviado pelo suspeito
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Reprodução de um dos e-mails enviado pelo suspeito

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Um jovem de 18 anos foi detido ontem pela Polícia Civil suspeito de ameaçar um médico de Juiz de Fora pela internet. Ele estaria utilizando uma rede social de bate-papo e e-mails para chantagear o clínico-geral, 41, a fim de conseguir receituário de medicamento para aumento de massa muscular. Nas mensagens enviadas pelo suspeito, por meio da web e até bilhetes de papel, o profissional tinha sua reputação ameaçada, sendo acusado de pedófilo. Em algumas, o rapaz dizia que não agia sozinho e que conhecia o endereço e o local de trabalho do médico. O suspeito, morador da Zona Norte, foi descoberto depois que a vítima denunciou o caso na 3ª Delegacia de Polícia Civil, em Santa Terezinha. O clínico foi orientado pelos policiais a marcar um encontro com o chantageador, na Rua Santo Antônio, no Centro, para entregar as receitas, na manhã de ontem, momento em que foi preso.

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De campana, os investigadores observaram toda a movimentação de longe. Quando o suspeito surgiu, ele foi abordado, sendo preso em flagrante. Mensagens impressas e bilhetes escritos à caneta foram apreendidos. Um deles trazia os dizeres: "Idiota, eu quero o atestado e a receita, senão vou esculachar com sua vidinha de médico. Sou menor de idade e vou dizer que você me molestou! Em quem acha que vão acreditar? Em mim, um menor assustado, ou em você, médico safado?" Em outra parte do texto impresso da página da internet, o jovem afirmava: "Você está mais enrolado do que pensa. Nossas conversas estão gravadas e vão servir de prova! Não estou sozinho nessa também não! Sei onde você mora. Sei que trabalha no posto de saúde do bairro…(nome omitido para preservar a vítima). Sei quem são seus amigos. Eu não tenho nada a perder, já você!" Em outro texto, o suspeito vai mais longe ao afirmar que irá ao local de trabalho da vítima para constrangê-la: "Se você não quiser que eu vá até o posto amanhã e falar que você é molestador, é bom me dar o que estou pedindo bem rapidinho."

De acordo com a titular da 3ª Delegacia Distrital, Ângela Fellet, o suspeito confessou as ameaças. Ele contou ainda que conheceu o médico há cerca de dois anos e que, na época, os dois chegaram a trocar fotos e conversar pelo MSN. Há três meses, o jovem teria ido se consultar na unidade de saúde onde trabalha o médico e teria reconhecido o profissional. O jovem então teria deixado o endereço de e-mail com o profissional, retomando o contato entre os dois, momento em que as ameaças começaram. Durante os depoimentos, não ficou claro se o médico e o rapaz chegaram a manter algum tipo de relacionamento pessoal.

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Segundo a polícia, o crime foi qualificado como ameaça, já que não foi concretizada a entrega de receitas, e o suspeito não obteve vantagens econômicas. O rapaz assinou um termo circunstanciado de ocorrência (TCO) e foi liberado, ficando sujeito a comparecer à Justiça durante a apuração dos fatos. 

Delegada defende ‘educação digital’

O caso ocorrido ontem surge na semana em que a delegada da Polícia Civil do Rio de Janeiro Helen Sardenberg, especialista em crimes virtuais, esteve em Juiz de Fora para falar sobre o tema durante a Semana de Comunicação da Arquidiocese. Em entrevista à Tribuna (ver trecho ao lado), ela defendeu a classificação etária de sites. A delegada é favorável ainda à qualificação de policiais para lidar com esses novos delitos. "As delegacias especializadas em informática nascem como necessidade num primeiro momento. Mas, daqui a pouco, qualquer delegacia passará a apurar os crimes mais comuns cometidos na internet."

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Acostumada a acompanhar e tentar solucionar dramas pessoais nos dois anos em que passou à frente da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), Helen Sardenberg acredita que a prevenção parte do próprio usuário, no que chamou de "educação digital". "A pessoa compra um computador, mas não se preocupa em comprar um bom antivírus e antispam. Dessa forma, fica vulnerável a esses criminosos virtuais."

Sobre relacionamentos na internet, a delegada alerta para os cuidados em relação aos "Don Juans virtuais", normalmente estelionatários, que se aproveitam de um falso relacionamento amoroso pela internet para gravar vídeos íntimos de suas vítimas, incluindo crianças e adolescentes. "Nenhum pai deixaria o filho falar por quatro horas no telefone sem perguntar com quem ele está falando. Na internet, as crianças têm conversado por várias horas, com um ser desconhecido, que ela acha ser um amigo."

Na casa da delegada, a filha de 5 anos mexe com computador, mas ainda não tem permissão para acessar a internet sem a supervisão de um adulto. O filho, aos 10, já pode navegar na grande rede, mas apenas em sites preestabelecidos e só mantém contato com membros da própria família. "Proibir não educa. Se a criança não usa em casa, ela vai usar na casa de um amigo, na escola ou na lan house. Os pais precisam entender que a melhor coisa é o diálogo e a educação." 

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ENTREVISTA – Helen Sardenberg/delegada especialista em crimes virtuais

Nesta entrevista, a delegada Helen Sardenberg alerta contra o mau uso da internet e ressalta que o importante não é apenas preparar os internautas para a técnica, mas o segredo seria ensinar noções de cidadania e ética na rede.

 

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Tribuna – Quais os tipos de crimes mais comuns na internet?

Helen Sardenberg – Entre 2004 e 2010, percebemos que 76% dos registros diziam respeito a crimes contra a honra – calúnia, injúria e difamação. Ou seja, o mau uso da internet. Sempre interpretei isso como falta de educação digital. As pessoas receberam o computador, começaram a usar a internet, mas achavam que aquilo era um mundo sem lei, o que não é verdade. O crime cibernético tem solução, mas depende de aparato tecnológico da polícia, de bons softwares e de bom relacionamento internacional para identificar donos de sites hospedados fora do país. 

– O caso recente da atriz Carolina Dieckmann, que teve fotos sensuais expostas na web, e de tantos outros casos mostram que o usuário ainda é despreparado para lidar com a internet?

– Exatamente. O segredo é a educação digital. As escolas oferecem aula de informática, mas não falam sobre ética e cidadania no meio digital. Não basta ensinar o aluno a navegar pela internet. Ele precisa aprender a navegar com cidadania e educação. Conheço colégios que disponibilizam internet nos computadores, mas não têm preocupação com o conteúdo acessado. Acredito que falta essa regulamentação no que diz respeito aos conteúdos e à classificações de sites. Não seria uma indicação arbitrária ou com censura. Mas seria para os próprios pais entenderem, por exemplo, que menores de 12 anos podem encontrar, num determinado site, conteúdo com algum perigo.

 

– Além da classificação indicativa dos sites, falta legislação específica para a internet no Brasil?

– Falta. Trabalhamos com Código Penal de 1940. Mas cerca de 95% dos delitos na internet, inclusive o caso da Carolina Dieckmann (extorsão), já estão tipificados. A internet foi só um meio. Neste caso, a extorsão começou quando ele (o suspeito) exige essa vantagem indevida, através de grave ameaça, que era publicar a foto na web. Isso independe se foi por internet, carta ou telefone. Os delitos restantes, os cerca de 5%, foram crimes que vieram com o progresso tecnológico.

 

– A sensação de anonimato na internet faz com que uma pessoa possa se tornar criminosa, mesmo que na vida real ela não tenha coragem de praticar algum crime?

– A sensação de que a internet é uma terra sem lei e o fato de muitas pessoas acessarem sozinhas, do quarto, faz com que a tela do computador seja sua proteção. É fácil criar e-mail falso, um fake e cometer crimes. Mas isso não é certeza de anonimato. Os crimes de informática, muitas vezes, deixam mais vestígios do que o crime comum. Um usuário comum pode apagar arquivos ou o histórico de navegação, mas há meios técnicos e profissionais de recuperar esse material. O pedófilo, por exemplo, costuma ter muito apego ao material. Então, dificilmente ele apaga.

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