As atividades do Restaurante Popular Yeda Duarte Gomes, no Centro, foram encerradas cerca de uma hora e mais cedo nesta sexta-feira (12). A informação foi confirmada à Tribuna pela titular da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), Fabíola Paulino da Silva. Segundo ela, o fechamento das portas se deu após os profissionais da unidade se sentirem intimidados por conta da presença de manifestantes que pedem a retomada das atividades comerciais no local.
Segundo a secretária, manifestação similar já havia ocorrido na quinta-feira. “Temos que registrar a crueldade e a perversidade de realizar uma manifestação como fizeram em um equipamento público de segurança alimentar. O Restaurante Popular se destina a um público em vulnerabilidade, que encontra ali a única forma de ter uma alimentação adequada”, afirma Fabíola.
A secretária diz que as portas do restaurante foram fechadas pelo fato de profissionais que trabalham no local se sentirem intimidados. “As pessoas ficaram com medo de ser agredidas. Não foi uma abordagem tranquila”, diz Fabíola. A secretária pontua que, com o fechamento antecipado dos portões da unidade central do Restaurante Popular, algumas pessoas não tiveram acesso à alimentação nesta sexta-feira.
“Recebi vídeos em que pessoas que chegaram para se alimentar não tiveram seu direito assegurado. É um absurdo, neste momento em que a gente vive, as pessoas compararem o equipamento de segurança alimentar com uma atividade comercial. A finalidade do Restaurante Popular é assegurar alimentação adequada para quem não tem condição. Não tem fins lucrativos.”
Vereador nega ter ‘fechado’ o estabelecimento
Nas redes sociais, um vídeo atribui o fechamento ao vereador Sargento Mello Casal (PTB). O parlamentar, todavia, negou que tenha “fechado” o aparelho público e disse que esteve no local para fiscalizar o cumprimento de protocolos do decreto que classificou a cidade na onda roxa do programa Juiz de Fora pela Vida, restringindo o funcionamento de várias atividades.
Segundo o parlamentar, ele estava verificando a situação de um estabelecimento comercial no Centro e relata que um restaurante no local havia sido lacrado pela fiscalização da Prefeitura, “porque teria entregado no local um marmitex a duas senhoras”. “O fiscal verificou e não notificou: lacrou diretamente. É um restaurante que tem 40 funcionários, um aluguel de R$ 21 mil, álcool em gel e que poderia funcionar normalmente com todos os protocolos.”
Em meio à situação, Mello diz ter recebido uma ligação com informações de que o Restaurante Popular estaria descumprindo protocolos definidos pela própria PJF. Assim, deslocou-se até a unidade, mas afirma que, ao chegar ao local, o aparelho público já estava fechado. “Recebi uma ligação apontando que o Restaurante Popular estava entregando marmitex da mesma maneira. Só que lá não tem álcool em gel ou protocolo algum.”
Segundo Mello, sua presença no local se deu para cumprir seu papel parlamentar de fiscalizar as ações do Município. “Tentei vários contatos com a fiscalização para verificar os protocolos. O próprio instrumento público não cumpre os protocolos. Pimenta nos olhos dos outros é refresco”, diz o vereador, que tem participado de uma série de ações que pedem a retomada de atividades comerciais na cidade, afetadas pelas medidas restritivas adotadas para enfrentamento à pandemia da Covid-19.
O vereador diz que defende a equidade, uma vez que os demais restaurantes estão impedidos de realizar a entrega no local. “Se o Município faz um decreto em que não consegue colocar seus aparelhos públicos nas exceções, o decreto está errado. Cobramos isonomia.” Mello disse ainda que seguirá fiscalizando o cumprimento dos protocolos pela Prefeitura. “Fizeram sensacionalismo. Mas vou continuar fiscalizando se as ações que o Município cobra do cidadão ele próprio cumpre. A questão não é o Restaurante Popular.”
PJF afirma que unidade segue protocolos
Segundo a secretária de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o Restaurante Popular cumpre os protocolos definidos pelo programa Juiz de Fora pela Vida. “Desde domingo (quando a cidade migrou para a faixa roxa do programa), tomamos todas as medidas para assegurar o cumprimento dos protocolos. O horário foi prorrogado, fizemos marcações no piso, exigimos o distanciamento e o uso de máscara e álcool em gel, que disponibilizamos para as pessoas. Todos os protocolos são seguidos e há um trabalho de conscientização com as pessoas que utilizam o espaço.”
Ainda de acordo com Fabíola, a onda roxa do programa Minas Consciente, que passará a vigorar na cidade neste sábado, não atingirá o funcionamento do restaurante. “Não afeta, pois é um equipamento público de segurança alimentar. Se fechamos o restaurante, há pessoas que não vão comer absolutamente nada.” A secretária confirmou que, no momento, os usuários estão retirando a alimentação no local, sendo vedado o consumo na parte interna do Restaurante Popular.
Já de acordo com o restaurante interditado no Centro, a PJF emitiu nota confirmando o fato. “A Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) interditou um restaurante, localizado na Rua Santa Rita, no centro da cidade, no começo desta sexta-feira (12), por estar com atendimento presencial com retirada no local. Pelo decreto 14.382/21, essas atividades estão expressamente vetadas.”
Bancada petista emite nota pública: ‘inaceitável’
O vídeo que atribui a manifestação pelo fechamento do Restaurante Popular ao vereador Sargento Mello Casal repercutiu nas redes sociais e foi alvo de críticas de colegas de legislatura. Em nota publicada em nome da bancada do PT na Câmara, a vereadora Cida Oliveira (PT) classificou a situação como “inaceitável”. “O vereador, pessoalmente, constrange trabalhadores do restaurante a fechar os portões, deixando de fora cidadãos que buscavam se alimentar”, diz o texto.
“A Prefeitura organizou entrega de refeições pelo Restaurante Popular Yeda Duarte Gomes em horário estendido, para garantir a segurança alimentar de parcela da população, incluindo aqueles em situação de vulnerabilidade social ou em situação de rua, e o Executivo municipal tem plena legitimidade de fazê-lo. Não cabe, de forma alguma, a um vereador agir de forma a intimidar trabalhadores”, afirmou a nota da bancada petista.
Por sua vez, Mello classificou o vídeo como “sensacionalismo”. “O que eu quero é que o cidadão tenha direito a ter dignidade. Há pessoas desesperadas, funcionários desesperados. Se vai cobrar do setor privado, que também se cobre do setor público”, afirmou.