Um projeto de extensão da UFJF pretende reduzir os acidentes causados pelas chuvas em 144 municípios da Zona da Mata e Campo das Vertentes. O trabalho consiste em mapear e catalogar áreas vulneráveis a desmoronamentos de taludes e enchentes, a partir de análises de terrenos conseguidas por satélites. A ideia é identificar, entre outras situações, a aclividade das encostas, classificando-as em graus de risco, que podem variar entre 1 (baixo) e 4 (muito alto). As cidades escolhidas para participar deste estudo, iniciado em 2014, fazem parte da área coberta pelo 4º Batalhão de Bombeiros Militar (BBM). A corporação participa do programa e pretende, ao fim do mapeamento de cada município, preparar equipes para atuar conforme a particularidade de cada um.
A primeira cidade estudada pelos pesquisadores é Bicas, cujo mapeamento está sendo finalizado, de acordo com o coordenador do projeto Cézar Henrique Barra, professor da Faculdade de Engenharia da UFJF. Além dela, já existem levantamentos sendo feitos em Matias Barbosa, Além Paraíba, Rio Preto, Mar de Espanha e Ubá. Esta última já tem um plano de contingenciamento e as áreas mapeadas, mas solicitou ajuda dos especialistas para atualizar o estudo. Para Juiz de Fora, conforme o coordenador, foi solicitado à Defesa Civil local o estudo de mapeamento já desenvolvido, que pode servir como base para outras análises.
“Começamos em 2014 com mais de 30 professores, mas este número acabou não se operacionalizando. Hoje temos pesquisadores da engenharia, de diversas áreas, e também da geografia, com um grupo de especialistas em solo e geologia. O grupo é multidisciplinar, com funções bem definidas. A equipe da geotecnia, por exemplo, atua em um segundo momento, na concepção de projetos de obras que deverão ser executadas para minimizar os riscos das áreas catalogadas”, explicou Barra. Alunos bolsistas também fazem parte da equipe.
Trabalho no campo
Além do trabalho em laboratório, grupos de pesquisadores viajam com os bombeiros para estas cidades com o intuito de analisar e confirmar as informações previamente levantadas, por meio de metodologia desenvolvida pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) de São Paulo. “Conseguimos identificar a declividade das encostas por meio das cartas do IBGE. Já o uso da terra é feito com informações do Satélite Sentinel, da Agência Espacial Europeia (ESA, sigla em inglês). Isso levando em consideração toda a área do 4º BBM. O desafio é monitorar os dados de solo e pluviometria, pois as pesquisam são demoradas e exigem pessoas e recursos.”
Bicas otimiza atividades da Defesa Civil
Em Bicas os estudos dos pesquisadores já resultam em otimização das atividades voltadas para a prevenção. O coordenador da Defesa Civil da cidade, Peterson Xavier, disse que as equipes já atuam conforme as orientações dos especialistas. “O mapeamento é muito importante porque temos condições de identificar como agir no caso de algum evento. Ao receber uma ligação através do 199, temos agora a possibilidade de saber se a área demandada é de grau de risco 1, 2, 3 ou 4. O mesmo funciona com os avisos meteorológicos, pois sabemos qual volume de chuva cada área vulnerável suporta sem gerar problemas. Ou seja, trabalhamos com foco na prevenção e na otimização das respostas.”
Conforme o engenheiro Cézar Henrique Barra, coordenador do projeto, a criação dos planos de prevenção de risco é uma das atribuições do programa. Por meio deles, será possível saber não apenas como agir, mas também como evitar desastres. Além disso, abre possibilidades para que os municípios captem recursos externos necessários para obras de prevenção, como construções de muros de contenção ou redes de drenagem. “Muitas destas 144 cidades atuam hoje de maneira curativa, na consequência. Isso acaba gerando muito mais recursos e de maneira inadequada. Os levantamentos evitam isso, mas é preciso ir além. Nosso objetivo é criar este conceito de Defesa Civil e preparar as pessoas nos próprios municípios e os Bombeiros para identificarem e monitorarem, com o nosso suporte, as áreas de risco”, disse Cézar.
Em Bicas, a cidade foi dividida em dez áreas, e cada uma delas terá um representante. Agora eles serão qualificados para fazer este monitoramento e para disseminar o conceito de prevenção. “Temos problemas de enchentes na cidade, e já foi identificado que eles são causados pelo assoreamento das calhas. Isso ocorre por causa de cortes irregulares em terrenos para novas construções. Então é preciso criar esta conscientização de cuidado com o meio ambiente em toda a população. A Defesa Civil, sozinha, não vai conseguir acabar com os riscos de desastres”, pontuou Peterson.
Tecnologia
Segundo Barra, existe uma equipe da faculdade de Ciência da Computação, da UFJF, desenvolvendo um aplicativo para que as pessoas treinadas possam identificar e marcar as áreas de risco. Todas estas informações alimentarão o banco de dados da Universidade, que reunirá detalhes sobre as localidades estudadas.
Corporação quer aperfeiçoar prevenção
Os 144 municípios que fazem parte do projeto são de competência do 3º Comando Operacional de Bombeiros, que engloba a 2ª Companhia Independente, com sede em Barbacena, e o 4º Batalhão, de Juiz de Fora. Conforme o cabo Demetrius Vasconcelos, que compõe a equipe, o objetivo principal do trabalho é fazer a corporação agir não apenas nas respostas, como também na prevenção. “Só o batalhão em Juiz de Fora é responsável por 90 municípios, com uma população superior a dois milhões de pessoas. Ocorre que muitos municípios têm infraestrutura deficitária para lidar com estas questões. Queremos levar, para estes locais, a conscientização para as pessoas sobre onde elas vivem. Desta forma, poderão ficar precavidas e avisadas anteriormente quando uma manifestação meteorológica representar riscos.”
Segundo o cabo, a prioridade inicial é identificar as áreas onde podem ocorrer movimentações de massas em encostas, por ser considerado o problema mais grave. No segundo momento, os pontos de alagamentos e enchentes serão incorporados ao projeto. Posteriormente, outros homens e mulheres dos bombeiros serão capacitados para identificar os riscos e, desta forma, alimentar a base de dados desenvolvida pelos pesquisadores.
Embora o destaque seja a redução dos riscos envolvendo chuvas, o projeto pretende englobar outras ocorrências que demandam o Corpo de Bombeiros. Entre elas, riscos de explosão e de eventuais acidentes envolvendo cargas perigosas.