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Reprovação em exame de direção chega a quase 80%

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O índice de reprovação em exames de direção em Juiz de Fora entre janeiro e setembro de 2016 chega a 77,44%, segundo os últimos dados do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG). Durante os primeiros nove meses do ano, 10.167 candidatos realizaram o exame, mas somente 2.294 conseguiram a permissão para dirigir. Um dos motivos do alto percentual de reprovações na cidade, na visão dos postulantes à carteira de habilitação, pode estar ligado à hostilidade dos examinadores que aplicam o teste de habilitação. Os candidatos alegam que tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), em razão dos traumas de reprovações por motivos banais, pode ser mais difícil do que se espera.

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Depois de tentar o exame duas vezes, um vendedor, de 37 anos, sentiu-se lesado e desrespeitado pelos examinadores e protocolou uma denúncia no Ministério Público e na Ouvidoria Geral do Estado, questionando a truculência à qual foi exposto nas duas ocasiões em que tentou tirar a carteira. “Há sempre uma pressão dentro do carro que é instituída pelo próprio examinador. Nos exames que fiz, o examinador perguntou quantas vezes eu já tinha tentado, isso acaba causando intimidação, além de toda rispidez no modo de agir”, reclama o candidato.

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Ele acrescenta que, durante a realização do exame, não é assegurado ao candidato garantias a fim de que o exame ocorra dentro do que é previsto pela lei. “Um amigo advogado me disse que os candidatos ficam numa situação de insegurança jurídica muito grande, porque, apesar de pagar a tarifa ao Estado, o mesmo não oferece uma estrutura boa para que o teste seja realizado. Na hora, não temos controle para dizer se o exame foi realizado com lisura. Não temos garantia da nossa integridade como cidadão, pois não temos como questionar o examinador, isso faz parte da própria dinâmica do exame”, lamenta o candidato, questionando: “Por que Juiz de Fora tem uma reprovação tão alta? Será que isso pode ser explicado também por essa situação durante os exames?”

Uma universitária, 24, que se prepara para tentar a CNH pela quarta vez, afirma que também se sente traumatizada, o que, para ela, reduz suas chances de ter segurança para sua aprovação. “Pagamos caro para fazer o exame e temos um serviço péssimo ofertado pelo Estado. Os examinadores são ríspidos, secos, parece que têm pressa. É uma situação de desrespeito aos candidatos.” A estudante ainda pontua que, depois de pagar a taxa, o pretendente a motorista fica na mão dos examinadores. “Que tipo de instrumento podemos contar para mostrar ao Estado que não me foi dado o devido respeito? Isso é complicado numa cidade que tem um índice de reprovação alto. É muito traumático”, desabafa.

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‘Ansiedade atrapalha’

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Psicólogo e educador de trânsito, João Mário Bandeira pondera que a conduta do examinador não faz diferença quando o candidato está bem preparado para o exame. “A questão relacionada à forma como o examinador trata o candidato está relacionada em como o instrutor também lida com isso. Quando o instrutor trabalha com terrorismo, isso pode atrapalhar na hora do exame. Se ele condiciona o aluno para mostrar o que sabe e que o examinador está ali apenas fazendo o seu papel, com o objetivo de avaliar o conhecimento do candidato, essa pressão é diluída”, avalia Bandeira.

A maneira como o candidato chega para o exame também tem influência sobre como ele vai lidar com o conhecimento que deverá mostrar. “A ansiedade atrapalha. Muitas vezes, o candidato vai fazer o exame sem estar preparado, só para conhecer. Assim, imagina que pode passar mesmo sem a capacidade suficiente, e acaba não tendo sucesso. Isso não é bom para outras tentativas”, afirma o educador, orientando: “Sempre recomendo um trabalho com respiração, para que todo o organismo seja oxigenado. Isso dá ao candidato melhores condições de raciocínio. Ele deve chegar tranquilo emocionalmente para fazer seu exame.”

Reclamações são encaminhadas a delegacia local

Apesar de a Tribuna solicitar uma fonte ao Detran-MG para falar sobre o tema, o órgão respondeu apenas por meio de nota, afirmando que, atualmente, o índice de aprovação em Juiz de Fora é semelhante aos demais municípios do Estado. Levantamento feito pelo jornal mostra que o índice de reprovação na Delegacia Regional de Ubá foi de 85% de janeiro a setembro deste ano, superando a média de Juiz de Fora. Já em Belo Horizonte, o percentual de reprovação foi de 72%, enquanto em Uberlândia foi de 73%.

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No que diz respeito a denúncias, o departamento “orienta o cidadão a anotar o nome do servidor que lhe atendeu mal ou que será alvo da denúncia e realizar o registro formal por meio do telefone 181, no site do Detran-MG na aba atendimento ou ainda com o coordenador da banca examinadora local. As reclamações e denúncias são encaminhadas para a delegacia de trânsito local para serem investigadas.

Ainda conforme o Detran, os examinadores são policiais civis capacitados tecnicamente para avaliar os candidatos e, como servidores públicos, são instruídos para prestar um atendimento de excelência ao cidadão. Os examinadores passam por cursos de atualização e aperfeiçoamento e são avaliados periodicamente.

De acordo com a Ouvidoria-Geral do Estado, quatro manifestações, já com processo encerrado, foram registradas nos últimos dois anos. Elas estavam relacionadas a reclamações genéricas a respeito do exame de habilitação (exame com grau elevado de dificuldade, examinadores que pedem manobras “difíceis”). A Ouvidoria recomenda ao cidadão que enfrentar esse problema registrar sua reclamação por meio do telefone 162 ou pelo site www.ouvidoriageral.mg.gov.br ou na Corregedoria da Polícia Civil, pelo email gabinete.corregedoria@pc.mg.gov.br. A quinta subcorregedoria responde pela região de Juiz de Fora e atende pelo telefone (031)2129-9734.

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Por meio da assessoria de comunicação do Ministério Público, o promotor que recebeu a denúncia do vendedor na cidade afirmou que não iria se manifestar a respeito do assunto. O órgão também não informou o número de registros que recebeu em Juiz de Fora acerca da conduta de examinadores. Todavia, o Ministério Público afirmou que possui três canais para receber reclamações. A primeira por meio de sua ouvidoria no telefone 127, por meio do seu site (www.mpmg.mp.br), na aba Fale Conosco; ou a pessoa deve procurar o órgão pessoalmente, para que sua denúncia seja encaminhada ao promotor responsável. O órgão ainda ressaltou que tem por atuação sempre investigar os casos que são denunciados.

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