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Agosto Dourado destaca a importância da amamentação e o cuidado com as mães

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Amamentacao Priscila Vieira Arquivo pessoal
Priscila amamentou sua filha Flor por 1 ano e 9 meses. Para ela, o ato, desafiador, exige dedicação completa (Foto: Arquivo pessoal)
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Conhecido como Agosto Dourado, o Mês do Aleitamento Materno foi instituído no país pela Lei 13.435 de 2017. A cor faz referência ao padrão ouro de qualidade do leite materno, e é neste período do ano que as ações de conscientização e desmistificação sobre a amamentação se intensificam. De acordo com pesquisa feita pela Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a pandemia contribuiu para a queda do aleitamento materno, diminuindo o acesso de mães a serviços e apoio de natalidade e amamentação no sistema de saúde.

Segundo a ginecologista obstetra Giselle Barandier, o leite materno é um alimento completo, que carrega proteínas, vitaminas e gorduras necessárias para o recém-nascido, além de contribuir para fortalecer a imunidade do bebê contra doenças infecciosas. Na mãe, pode ajudar a reduzir o peso corporal no pós-parto, proteger contra o câncer de mama e diminuir o risco de hemorragia no puerpério.

O processo de amamentar, contudo, é uma aprendizagem vivenciada de plurais formas pelas mães, e as dificuldades permeiam o caminho. Priscila Vieira amamentou sua filha, Flor, de 2 anos, durante 1 ano e 9 meses e, em entrevista à Tribuna, compartilhou os prazeres e os apertos dessa trajetória. “Acho que a amamentação para mim começou já na gravidez, do quanto eu me preparei para isso. Ela é desafiadora porque é uma dedicação completa, principalmente nos primeiros seis meses, em que o leite foi o único e principal alimento da minha filha, antes da introdução alimentar”, conta.

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Conforme orienta Giselle, o bebê recém-nascido, de preferência, deve mamar apenas o leite e sob livre demanda. “Isso inclui acordar de madrugada, não ter horário exato para as mamadas e, posteriormente, interferir nas possibilidades de retorno ao trabalho e na vida social dessa mãe”, acrescenta. Após o tempo de dedicação exclusiva a sua filha, Priscila, que é psicóloga clínica, passou por sentimentos de angústia e culpa na retomada ao trabalho. “Tinha muito receio de a Flor pedir o peito enquanto eu estava nos atendimentos, ausente para ela, porque não é só sobre o alimento, mas também o vínculo estabelecido”, desabafa.

‘Amamentar é um ato de todos ao entorno’

Para a psicóloga perinatal Bianca Fortes, o mais difícil do amamentar é a falta de apoio, por vezes, comum na rotina das mães. “É preciso olhar o todo, não só o peito e o bebê, mas a mulher que está por detrás, seus sentimentos, sua relação com o próprio corpo, sua rede de apoio e a sociedade como um todo. Amamentar não é um ato só da mãe, mas de todos que estão em seu entorno”, destaca.

O novo lugar de mulher que amamenta, tanto no núcleo familiar, como social, foi sentido por Priscila, que se viu solitária em distintas situações. “A amamentação, muitas vezes, nos coloca em momentos de solidão. Quando surge a necessidade e estamos em algum evento, a gente se retira ou nos é oferecida uma cadeirinha lá no canto e, assim, experimentamos a solidão, sendo a mãe que está amamentando no cantinho. O sentimento também está pelas madrugadas em casa, que a mãe sempre acorda, mas o pai nem tanto.”

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Por toda a vida, as mulheres crescem ouvindo falas sobre amamentação, mas nem sempre elas condizem com a experiência de quando se tornam mães. “Eu escutei que a pega era fácil e natural, mas foi conversando com outras mulheres mães que vi que ela pode, além de outras questões, gerar machucados. Precisamos de acesso a informações que condizem com o real, e não com o que é vendido e idealizado sobre as nossas vivências”, defende Priscila.

Existe, ainda, dentre tantos desafios no aleitamento materno, a importância da ressignificação dos seios. Como destaca Bianca Fortes, sentir-se à vontade para pôr o seio para fora é um lugar novo para mulher. “Muitas vezes não é visto socialmente como um ato de amor e cuidado, mas sentido como desrespeito. Naturalizar a amamentação é fundamental”, afirma. Priscila, que conhece esse paradigma, e, desde seu desenvolvimento, se entende como uma mulher de seios grandes, relata ter tido que lidar com o olhar sexualizado estabelecido pela sociedade. “Eu tive também que quebrar preconceitos dentro de mim para poder alimentar minha filha fora de casa”, revela.

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Ajuda profissional e Banco de Leite

O receio em não conseguir amamentar é recorrente nas mães, mas, mesmo nos casos de dificuldade, a ajuda profissional é bastante eficiente. “Temos que lembrar que, nos primeiros dias, a quantidade de leite que sai é em pequena quantidade, e o estímulo principal para seu aumento é a sucção do bebê. Alguns outros sinais, como a mama muito endurecida, presença de febre associada a vermelhidão da mama e fissuras frequentes no mamilo podem sugerir à mãe buscar ajuda profissional, assim como a forma errada da pega e a posição podem causar dor”, alerta Giselle Barandier.

Outro cuidado é com o aleitamento cruzado, que pode transmitir doenças infecciosas. “Antigamente, as mães de leite eram estimuladas, mas hoje não se deve por o bebe de uma mulher para amamentar em outra, pois oferece riscos significativos. Se for preciso leite doado, que seja através do Banco de Leite”, enfatiza Giselle.
Juiz de Fora conta com o serviço público de referência, o Banco de Leite, localizado no Departamento de Saúde da Criança, na Rua São Sebastião, 772. Lá é possível conseguir doação de leite seguro, sem impurezas, assim como acolhimento, orientação e apoio técnico gratuito.

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