Três pessoas de uma mesma família foram presas em Juiz de Fora, na manhã desta terça-feira (11), durante a Operação Gênesis 3:19, deflagrada pela Polícia Civil para combater suspeitas de agiotagem e ameaças. Os investigados, que seriam do ramo da construção civil, são moradores do Bairro São Geraldo, Zona Sul, onde foram cumpridos os mandados, mas atuavam em toda a cidade. Eles teriam patrimônio estimado em R$ 10 milhões, e a Justiça já determinou o bloqueio de R$ 3,5 milhões em contas bancárias e o sequestro de cinco veículos, sendo quatro carros e uma moto.
Os mandados de prisão foram cumpridos contra o pai, 54 anos, uma filha, 28, e o marido dela, 31, por crimes de agiotagem, extorsão, lavagem de dinheiro e associação criminosa, que estariam sendo praticados desde 2020. Outro filho, 31, também foi conduzido à 1ª Delegacia Regional, em Santa Terezinha, mas foi liberado após prestar depoimento.
Em áudio obtido pela polícia, a suspeita ameaça de morte uma devedora: “Dia 10 você vai tá morta. Se eu não te encontrar até lá, pode ser que você me mande o Pix, mas eu te encontrando antes você vai tá. Aí não vai ter como você me enviar o Pix, beleza?”
Durante o cumprimento de dois mandados de busca no São Geraldo foram apreendidos veículos, cerca de R$ 30 mil, arma de fogo e munições, além de documentos de contabilidade que comprovam o esquema de agiotagem. O revólver calibre 38, com numeração raspada, e cerca de 25 munições foram encontrados no quarto do casal. A polícia também vai solicitar à Justiça o sequestro de imóveis, os quais ainda estão sendo levantados.
Assista o vídeo:
De 100 a 200 vítimas
A investigação começou há cerca de cinco meses, por meio de elementos de outra apuração de lavagem de dinheiro, e algumas vítimas também foram ouvidas. O número de pessoas lesadas pode variar de 100 a 200, conforme a polícia.
“Uma rede de lavagem de dinheiro estava sendo investigada e foi descoberto esse núcleo de agiotagem”, conta o delegado Marcus Vignolo. “Fomos percorrendo caminhos dos ativos e estamos conseguindo êxito em investigações de tráfico de drogas e crimes contra o patrimônio. Agora chegamos ao crime de agiotagem e extorsão”, complementa.
Empréstimos viravam “bola de neve”
De acordo com o delegado Márcio Rocha, a família investigada oferecia dinheiro, com a cobrança de juros que variavam de 20% a até 60%, a pessoas que estavam em situação de necessidade. “Quando chegava a data de pagar e não conseguiam, as condições mudavam para pior, (eles) impunham mais juros e ameaçavam de agressões e morte, tiravam a tranquilidade das vítimas e virava uma bola de neve, porque as dívidas se tornavam impagáveis. Era uma conduta muita grave e lesiva.”
Ainda segundo ele, os agiotas iam ao local de trabalho das vítimas e recolhiam objetos de valor, assim como na casa dos devedores, fazendo diversas ameaças. “Os juros chegavam a 60%, e mesmo valores baixos se tornavam altos. O caderno demonstra vários empréstimos a quem os procurasse, seja do bairro ou de outras regiões.”
O delegado Marcus Vignolo destaca que a pessoa que pegava empréstimo com os envolvidos acabava ficando presa à essa dívida, porque sempre havia uma nova condição imposta pela família, para conseguir mais dinheiro mediante ameaças e constrangimento. Houve relatos de agressões com pauladas e outros castigos físicos. Também fariam ameaças de quebradeira em estabelecimentos das vítimas, que se se sentiam coagidas.
“Esse medo dificultava a coleta de denúncias. Em um caso específico, o grupo invadiu o comércio de uma vítima e roubou os bens presentes no local”, revela o delegado Márcio, que orienta outras possíveis vítimas dos agiotas a procurarem a delegacia ou fazer denúncia pelo 181.
As investigações continuam com o objetivo de rastrear a origem do dinheiro utilizado pela quadrilha para os empréstimos a juros abusivos. O irmão segue investigado para ser esclarecido seu possível envolvimento com os crimes. Os outros três suspeitos foram autuados e encaminhados ao sistema prisional.