A foto de um grupo de alunos de Juiz de Fora possivelmente expressando apoio ao deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) repercutiu nas redes sociais e levantou o debate sobre a política nas escolas. Na imagem, postada em modo público no perfil de um aluno do Colégio Apogeu, na tarde de terça-feira, um grupo de 13 estudantes aparece prestando continência em sala de aula com os dizeres “Bolsonaro Presidente 2018” escrito no quadro-negro. Junto com a postagem, a frase: “Soldado que vai à guerra e tem medo de morrer é um covarde”.
Até o início da noite de ontem, a publicação tinha cerca de 12 mil reações, mais de 3 mil compartilhamentos e mais de 16 mil comentários, muitos em apoio à ideia dos garotos, mas outros tantos contrários ao conteúdo postado. Um funcionário do colégio também fez uma postagem em modo público repudiando a ação dos adolescentes. Segundo ele, o pensamento dos 13 jovens não corresponde ao posicionamento de todo o colégio. “Todos têm o direito de expressar apoio aos candidatos/causas que apoiam (por mais absurdas que sejam). Mas tentar vincular isso a uma instituição que tem professores tão incríveis passa de qualquer limite.” Os alunos do IF Sudeste responderam à postagem com outra, com dizeres como “IFora Temer” e “Bolsonaro Presidiário 2018”.
Em nota assinada pelo diretor- geral do Colégio Apogeu, Makerley Arimatéia Silva, intitulada “Uno na diversidade e diverso na unidade”, a escola diz que “educa contra o radicalismo e, em seu ambiente – democrático – , reforça e resguarda o direito de todos e todas à opinião, ao pluralismo e à diferença. Nossa democracia interna é comprovada na diversidade em seus âmbitos social, econômico, racial, sexual, religioso e político presentes no quadro de funcionários e nos corpos docente e discente. Privilegiamos o debate e suas inerentes contradições. Portanto, diante de excessos, educamos.”
Recentemente, um grupo de alunos de uma escola estadual de Fortaleza (CE) também manifestou apoio semelhante ao deputado federal nas redes sociais. Em resposta, vários posts contrários ao deputado foram postados por outros alunos do mesmo colégio. A direção da instituição optou por suspender os estudantes diante da negativa deles em retirar a foto do ar.
Dentre os projetos defendidos por Jair Bolsonaro está a criação da “Escola sem partido”, que visa a incentivar uma educação sem o que seus defensores chamam de “doutrinação política e ideológica” em sala de aula. A proposta também foi discutida recentemente na Câmara Municipal de Juiz de Fora, causando grande repercussão na cidade. A peça, de autoria do vereador André Mariano (PSC), foi retirada da proposição de tramitação em julho.
‘Momento propício para o debate’
O doutor em sociologia e professor adjunto de sociologia da educação da UFJF, Eduardo Magrone, avalia a foto como impactante. Conforme o pesquisador, o problema não se limita ao apoio ao deputado Jair Bolsonaro. “O que me preocupa como educador é o fato de ganhar prestígio essa visão intolerante, que sinaliza a solução pela força e pela coisificação do outro, como defendida pelo deputado. E justamente entre esses jovens, que estão em processo de formação. Há uma estetização da intolerância e da violência como solução do conflito, que não passa mais pela negociação.”
Citando a recente pesquisa da Corporación Latinobarómetro, que aponta queda de 54% para 32% no índice de apoio dos brasileiros à democracia, o professor diz que este não é um caso isolado. “Se olharmos para o Donald Trump, nos Estados Unidos, na questão do Estado Islâmico e na expansão dos partidos nazi-fascistas, percebemos como essa visão que não passa mais pela negociação está crescendo rapidamente em todo o mundo.” Segundo Magrone, “é um momento muito propício, não só para o Apogeu, como para todas as escolas e a própria universidade, levantar questões para o debate. Não é dizer que está certo ou errado, mas discutir o assunto”.
Apesar de ressaltar que é um direito de alunos professarem seus valores políticos, o professor da UFJF e doutor em Ciência Política e Sociologia Paulo Roberto Figueira Leal vê preocupação no apoio à figura do deputado Jair Bolsonaro.”O dramático é que ele expressa um discurso de antipolítica e uma percepção de que talvez o regime democrático seja substituído por outra coisa. O Bolsonaro promove uma ode à não-política, à guerra e ao saudosismo de uma época em que o Estado não era democrático.”