Bares e restaurantes, que sempre representaram o lugar de tantas festas e confraternizações, amargam, em Juiz de Fora, mais de 120 dias de portas fechadas e já não há tanto o que se comemorar. Em formato de carreata, profissionais, empresários e pessoas envolvidas com o setor irão se concentrar às 15h desta terça-feira (11), em um supermercado, no Bairro Cruzeiro do Sul. Como destino, os manifestantes seguirão à Prefeitura onde irão entregar um manifesto ao prefeito Antônio Almas, solicitando reabertura urgente dos estabelecimentos.
Alguns, encerraram de forma total suas atividades. Os que conseguiram seguir em funcionamento pedem socorro do Poder Público. Por um lado, os casos de coronavírus seguem aumentando, por outro, trabalhadores e empresários do setor se veem de mãos atadas ante o fechamento de muitos comércios que não se adaptaram ao delivery, nem conseguiram sobreviver à restrição das operações.
Foi o que aconteceu com o empresário Franz Schuberth Carvalho, dono de dois bares na Zona Norte. Ele se viu obrigado a encerrar as atividades de um dos seus empreendimentos. Franz demitiu doze dos seus quinze funcionários e hoje mantém somente o Bar da Praça aberto. “Não tinha como continuar. Consegui ficar com três pessoas trabalhando para mim atendendo somente no horário do almoço. Foi muito difícil ter que dispensar pessoas que eu tinha vínculos, ver profissionais de oito ano juntos irem embora.” Ele estará na manifestação e se disse frustrado diante da manutenção de restrições, por parte da Prefeitura, ao horário de funcionamento de bares e restaurantes, mesmo com a migração da cidade para a onda amarela do programa estadual Minas Consciente.
Após a revisão do programa estadual que permite a estes estabelecimentos a retomada do consumo interno, inclusive com vendas de bebidas alcoólicas, o Comitê Municipal de Enfrentamento e Prevenção à Covid-19 manteve, na última quinta-feira, a prerrogativa do Executivo de restringir o funcionamento, especialmente em bares. Como justificativa está que a retomada seria arriscada, uma vez que a taxa de transmissibilidade da doença aumentou na cidade.
“Assim como eu, muitos estavam preparados para o Dia dos Pais com funcionários, reposição de estoque e limpeza. Era uma expectativa de empresários e funcionários e recebemos com surpresa a restrição. A cidade está lotada, muita gente desrespeitando os protocolos sanitários e nós, que conseguimos ter uma eficiência nisso, não temos o direito de trabalhar”, destacou Franz.
Com faturamento em torno de R$ 150 mil, o empresário viu, desde março, as cifras caíram para algo em torno de R$ 10 mil. Pai de três crianças, ele conta que a escola dos filhos está sem pagar, assim como o aluguel, além disso, precisou abandonar a faculdade, tudo reflexo do momento atual. “Com esse valor, eu pago apenas meus funcionários, aluguel, energia e conta de água, que é o básico. O delivery não deu retorno para mim e para muitos colegas. É preciso lutar para nossa sobrevivência”, conta ele, que tinha durante as noites e finais de semana sua aposta de ganho. Conforme prevê a PJF, os restaurantes estão autorizados a manter o consumo interno apenas entre segunda-feira e sábado, das 11h às 15h. Já os bares podem funcionar apenas nos modelos de delivery e para retirada no balcão.
Nova reunião
O assunto, no entanto, volta à pauta em nova reunião do comitê nesta terça, às 18h, quando o prefeito terá em mãos o manifesto. No documento a que a Tribuna teve acesso, a categoria diz que “em Juiz de Fora, os bares foram excluídos da reabertura sem qualquer justificativa plausível. Ainda que seja um direito da Administração pública a discricionariedade em decisões sob sua competência, a submissão a princípios do Direito Público deve nortear cada passo e aqui encontram-se lesados os princípios da isonomia e da motivação.”
O documento destaca também que “todos os serviços não essenciais elencados na onda amarela se submeterão a rígidas regras de prevenção ao contágio no retorno de funcionamento. Tal previsão se aplica igualmente aos bares, porém estes, de maneira totalmente arbitrária, foram excluídos pela atual gestão”.
Anteriormente, a PJF, já havia ponderado que, devido às características do comportamento de frequentadores de bares – “que precisam tirar a máscara para comer e beber e, naturalmente, irão conversar” -, os estabelecimentos são propícios para a transmissão da Covid-19.
Abrasel Zona da Mata estima que 30% dos bares fecharam
Apesar de representarem o setor, a Regional Zona da Mata da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) e o Sindicato de Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares de Juiz de Fora (SHBRSJF) não estão à frente do movimento marcado para esta terça.
No entanto, a decisão do órgão colegiado foi vista pelo segmento com um “descontentamento, pois deixou a categoria muito apreensiva com expectativa de abertura”, afirmou a presidente da Abrasel Regional Zona da Mata, Francele Galil Rocha. “Muitos se programaram, estocaram e, também por isso, correm o risco de perder seus insumos. Mas estamos cumprindo o decreto, assim como a Prefeitura determina.”
Sem dar números exatos, Francele acredita que cerca de 30% de bares e restaurantes tenham encerrado suas atividades. Já em relação aos funcionários, ela acredita que, pelo menos, 60% tenham sido retirados de seus postos de trabalho. Apesar do cenário de perdas, ela acrescenta que a prioridade é a saúde e diz que “continuaremos com o nosso posicionamento de cumprir a determinação da autoridade maior, o Município, e acreditamos numa apreciação positiva por parte do comitê”.
Anteriormente, o coordenador-executivo do SHBRSJF, Rogério Barros, já havia dito à Tribuna que os bares e os restaurantes estão descapitalizados, com muitas dificuldades. Ele reforçou a frustação do setor diante da decisão da PJF. “Entendíamos que o setor de alimentação teria uma abertura, não total, mas mais flexível, como funcionar aos sábados e domingos até um pouco mais tarde. Regras como o distanciamento entre mesas, medição de temperatura, afastamento de funcionários do grupo de risco, tapete sanitizante e disponibilização de álcool estavam sendo preparadas. Então, nós realmente já estávamos preparados para colocar o time literalmente em campo e fomos frustrados com a decisão do comitê.”