A Polícia Civil finalizou, na manhã desta quarta-feira (10), os trabalhos de reconstituição do homicídio do funcionário público aposentado e skatista Daniel Carvalho de Andrade, de 45 anos. Ele morreu ao ser alvejado por tiros disparados por um vizinho militar do Exército, 41, na noite de 17 de março, na área comum do prédio onde residia com a mãe, 73, na Avenida dos Andradas, região central de Juiz de Fora. A movimentação policial da equipe da Delegacia Especializada de Homicídios na galeria que tem fundos para o Mergulhão voltou a chamar a atenção de pedestres e motoristas.
“Ontem (terça) fizemos a versão da dona Inara, mãe da vítima, e hoje (quarta) reconstituímos a versão do autor dos fatos”, reforçou a delegada Camila Miller, acrescentando a relevância dessa reconstituição do assassinato. “É extremamente importante para ajudar na conclusão da investigação. Os vestígios deixados na cena do crime, bem como o laudo de necropsia, têm que estar congruentes e compatíveis com a dinâmica do que de fato aconteceu.” A próxima etapa, segundo ela, é elaboração do laudo pela perícia desse passo a passo do homicídio. “Não tem prazo específico, uma vez que trata-se de réu solto. Não sei se será necessária mais alguma diligência. A princípio, acredito que não.” A delegada espera concluir o inquérito até o fim deste mês e encaminhá-lo à Justiça.
Para o advogado do sargento, Leandro César de Faria Gomes, a reconstituição vai ajudar a elucidar os fatos. “A defesa analisa ser de suma importância essa prova pericial, tendo em vista as inconsistências, como a afirmação de que foram realizados sete disparos contra a vítima. Com essa perícia, isso vai ser esclarecido, tendo em vista já haver um levantamento do local, mostrando que foram feitos quatro disparos.” Segundo ele, outro ponto conflitante é relacionado ao momento dos tiros. “A mãe da vítima alega que o militar realizou um disparo com o dolo de matar, com a vítima já caída ao solo. Isso não existiu e vai ficar comprovado”, aposta.
A defesa sustenta a tese de legítima defesa. “Ele estava repelindo injusta agressão e também (agiu) para evitar mal maior, porque estavam a filha, a esposa dele e a própria mãe da vítima, que estava pedindo por socorro.” O advogado aguarda a finalização do inquérito. “A Delegacia Especializada de Homicídios está realizando um trabalho sério, competente e cauteloso. Haja vista que não existe privação de liberdade do militar, o tempo para conclusão está razoável.” O sargento foi preso em flagrante no dia do assassinato, ficou detido em um quartel do Exército por dois dias e teve a liberdade provisória concedida pela Justiça. A arma usada por ele, conforme o advogado, foi uma pistola 9mm, de uso particular e registrada.
Militar havia registrado possíveis desavenças com vizinho
O sargento do Exército chegou ao local da reconstituição do crime acompanhado de seu advogado. Ele morava no segundo andar do prédio onde aconteceu o homicídio, em um apartamento embaixo do qual a vítima residia com a mãe. Pelo menos dois boletins de ocorrência foram registrados pelo suspeito contra o vizinho, em setembro de 2023 e em janeiro deste ano. No primeiro deles, o militar diz ter sido alvo de ameaça e intimidação. Em outro, afirma ter sofrido dano em sua porta com um chute.
Sobre o caso fatal, o militar alega ter disparado em legítima defesa, porque Daniel teria “partido para o ataque” contra ele na área comum do edifício, enquanto ele estaria tentando ligar para a PM e o Samu, diante da discussão entre mãe e filho, classificada por ele como “violência doméstica”. No entanto, a mãe do skatista, Inara Teixeira de Carvalho Andrade, nega ter sido agredida, e a Polícia Civil não localizou qualquer histórico anterior de violência doméstica por parte da vítima, a qual havia sido aposentada por invalidez em decorrência de doença psiquiátrica.
Manifestações e abaixo-assinado
O assassinato do skatista Daniel, que também era conhecido como um artista multifacetado, causou grande comoção entre integrantes da cena, amigos e parentes. Abaixo-assinado e manifestações com pedidos de justiça continuam sendo promovidos por meio do perfil criado no Instagram “justicapordanielmonstro“. Segundo as postagens, a vítima era conhecida como “Daniel Monstro” por seus desenhos e bonecos de massinha feitos na infância. Ele era filho de pai militar do Exército e de mãe professora. Daniel deixou um filho de 26 anos.
“Ele sempre viveu comigo o tempo todo. Era ótimo filho e nunca me agrediu, nunca fez nada de mal para mim. Eu acredito no trabalho da polícia, da doutora Camila, que foi muito atenciosa, e espero que seja feita justiça por meu filho Daniel, que eu amava tanto”, declarou a mãe na rede social, após participar da reconstituição do crime, na última terça-feira.