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Juiz-foranos temem subnotificação da dengue

no bairro aeroporto laje e problema na rua eloi americo mendes

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No Bairro Aeroporto, laje é problema na Rua Eloi Américo Mendes

No Bairro Aeroporto, laje é problema na Rua Eloi Américo Mendes

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Alto índice de mortes por dengue, casos que demoram a ser investigados, clínicas particulares que não realizam notificações imediatas, exames de confirmação das doenças que não são realizados devido ao alto custo, ações de combate ao Aedes aegypti que parecem não surtir efeito e crescimento de mais de mil casos prováveis de dengue a cada semana têm levado incerteza e pânico à população de Juiz de Fora. Para agravar a situação, áudios têm circulado pelas redes sociais, principalmente pelo WhatsApp, afirmando que há subnotificações, mortes quase diárias e grande número de pessoas internadas com dengue grave. Sem saber a real situação, a população tem questionado até que ponto os dados são reais.

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Até o momento, a Secretaria de Saúde do município confirmou oito óbitos pela doença, sendo seis idosos, uma adolescente e uma mulher de 37 anos. Só com estes registros já ocupa a primeira posição no estado em total de mortes. Outros seis casos estão sendo investigados, sendo cinco idosos e um homem de 53 anos. O último ocorreu ontem, e as causas da morte do homem de 84 anos foram choque séptico, pneumonia, dengue grave e demência senil. Conforme o subsecretário de Vigilância em Saúde, Rodrigo Almeida, se a dengue constar no atestado de óbito do paciente, mesmo que a doença tenha sido a quarta causa, a Secretaria de Saúde é obrigada a abrir investigação. “Após o falecimento de algum paciente com dengue, o hospital tem que realizar notificação em até 24 horas. A notificação chega, e vamos fazer a investigação. Existe um protocolo do Ministério da Saúde o qual a gente é obrigado a preencher para caracterizar se a morte foi por dengue. São cerca de dez páginas com dados que temos que levantar junto ao médico que realizou o atendimento. Entre elas, ouvir o médico que o acompanhou para ver se o paciente tinha outra doença, ouvir o relato familiar para verificar a questão de viagens. Não é fácil conseguir rapidamente. São dados minuciosos. E, enquanto não conseguimos todos, não podemos encaminhar para Belo Horizonte.” O subsecretário explica que é o Estado que irá confirmar se a causa da morte foi realmente dengue.

Boletim epidemiológico

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No último boletim epidemiológico, divulgado na terça-feira, a cidade havia registrado 4.845 casos prováveis de dengue, superando as notificações de todo ano passado, quando 4.518 pessoas foram infectadas pelo vírus. O número também já representa mais da metade do registrado em 2010, quando o município havia enfrentado, até então, sua maior epidemia, com 9.400 casos e 17 óbitos. Além disso, as notificações colocam Juiz de Fora na sexta posição no estado em números absolutos de casos, ficando atrás apenas de Belo Horizonte, Contagem, Coronel Fabriciano, Betim e Ibirité. O crescimento alto no número de notificações, com mil novos casos a cada semana, abre questionamentos sobre a efetividade das ações realizadas em Juiz de Fora. O subsecretário conta que muitos casos que ocorreram em janeiro estão chegando apenas agora para a Vigilância Epidemiológica, o que tem colaborado para o aumento do número de notificações. Para ele, a grave epidemia que tem atingido o país é fruto de vários fatores associados. “Temos que colocar percentuais. Um percentual para a mobilização social, para a questão climática que colabora para o nascimento dos vetores, para os tipos de vírus circulando, para o inseticida. Mas esse percentual ainda não foi definido pelos órgãos de saúde.” Rodrigo Almeida acrescenta que, no último trimestre do ano passado, foram recolhidas 400 toneladas de lixo da dengue. Em apenas 60 dias deste ano, os mutirões já recolheram mil toneladas. “Esse lixo estava dentro das casas das pessoas.”

Um ponto que tem sido abordado por pesquisadores é a capacidade do Aedes aegypti se adaptar à vida urbana. Seus ovos se mantêm viáveis para eclodir mesmo após 450 dias sem água. Ele faz de criadouro mesmo depósitos de água minúsculos, como um papel de bala jogado na rua. Evidências recentes indicam que ele não exige água limpa e clara, como se pensava antes.

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Cobertura de construção abandonada parece uma ‘piscina’ no Jardim dos Alfineiros

Clínicas atrasam notificação

[Relaciondas_post]Clientes da rede particular de Juiz de Fora têm reclamado que as unidades não vêm notificando os casos de dengue atendidos por essas clínicas. Em alguns casos, os pacientes não recebem atendimento e são logo encaminhados para os Centros de Hidratação contra a Dengue. Segundo o subsecretário de Vigilância em Saúde, Rodrigo Almeida, a rede privada tem notificado, no entanto, com atraso. “As notificações são obrigatórias. Se o médico não notificar, está indo contra uma determinação do Ministério da Saúde. Sabemos que existem falhas que fogem aos nossos braços. Elas estão ocorrendo, com atraso, mas estão ocorrendo.”

Os números de casos prováveis de dengue notificados apenas em dois meses deste ano já ultrapassam os números de todo o ano passado. No entanto, nos 4.845 registros também estão inclusos casos de pacientes com zika vírus e febre chikungunya, doenças que não haviam chegado à cidade em 2015 e colaboram para modificações nos índices. A identificação dos casos por doença poderia auxiliar em uma melhor visão da situação epidêmica na cidade. O subsecretário explica que todos os procedimentos que estão sendo feitos na cidade são baseados no protocolo definido pelo Ministério da Saúde. “O teste para zika vírus, por exemplo, é novo e caro. A recomendação é tratar a doença mais grave, que é a dengue. Não temos como falhar no atendimento se tratarmos todas como dengue.” Já em situações de grávidas com o zika vírus, a investigação é realizada para monitoramento do feto, que pode vir a desenvolver microcefalia.

Leitores denunciam água parada em lajes

Mesmo com o número de notificações da doença estando próximo dos cinco mil na cidade e ultrapassando todos os casos do ano passado, o acúmulo de água em coberturas de residências é problema em vários pontos e reclamação constante por parte de leitores da Tribuna. Os relatos ocorrem, inclusive, após as chuvas, já que a dúvida de muitos é saber por quantos dias a água parada em lajes pode dar origem a focos do vetor. O coordenador de campo dos agentes de endemias da Prefeitura de Juiz de Fora, Juvenal Franco, explica que se a água ficar acumulada em cobertura por até cinco dias, não há perigo de se criar focos. “O problema é passar de sete dias, pois corre o risco de a larva do mosquito entrar em desenvolvimento. O ideal é limpar a laje e escoar a água assim que houver o acúmulo”, alerta.

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Em uma poça foi colocada areia, mas outra persiste em cobertura de prédio na Fernando Lobo (Andreia Ribeiro)

Na região da Cidade Alta, uma leitora, que pediu para não ser identificada, diz que o problema encontra-se no número 9 da Rua Eloi Américo Mendes, no Bairro Aeroporto. “Ela (laje) fica dessa forma por vários dias. Se chover hoje, (a água) ficará acumulada por mais dias até secar com o sol. A dona da casa sobe no terraço para estender roupa, mas não é capaz de puxar a água”, afirma. Ela ressalta que, próximo às árvores, é possível avistar uma piscina com água verde. “É sinal de que não está sendo tratada. Não adianta nada cuidar das nossas casas se nossos vizinhos não têm a mesma consciência”, destaca.

A servidora pública Andreia Ribeiro está preocupada com poças que se formam na cobertura de dois prédios no Centro, na Rua Fernando Lobo. “Observo que a água permanece empoçada mesmo com sol. As poças não secam. A água fica lá por mais de uma semana. Nesta segunda, parece que colocaram areia em uma delas, mas a outra permanece do mesmo jeito”, observa. No Jardim dos Alfineiros, Zona Norte, um morador, que preferiu não se identificar, conta que a cobertura de construção abandonada na Rua Francisco Jorge de Oliveira, ao lado do número 837, é uma verdadeira piscina. “Sempre que chove, ela fica deste jeito e, se não tiver um sol escaldante, ela não seca, pois não há escoamento”, relata.

Juvenal Franco, coordenador de campo dos agentes de endemias, destaca que, em caso de chuva contínua, que faz a água represar com mais facilidade, o perigo é ainda maior, pois faz com que as larvas depositadas nas construções entrem em contato com a água mais rápido. “Os proprietários precisam vistoriar seus imóveis sempre e verificar se os canos de escoamento não estão entupidos.”

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