A Pró-Reitoria de Inovação, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), prepara, para o próximo mês, o lançamento do edital para instalação de empresas no Módulo 2 do Parque Tecnológico, localizado no Distrito Industrial, na Zona Norte da cidade. Também chamada de Centro Integrado de Ensino, Pesquisa, Extensão, Transferência de Tecnologia e Cultura (CIEPTEC), a área de 44 mil metros quadrados abrigará empresas de conceito de inovação aberta, especialmente plantas-piloto — um modelo, em escala menor, de processo industrial, testado antes que possa seguir para produção em massa.
É o que explica, nesta entrevista exclusiva, o Pró-Reitor, Fabrício Campos. Segundo ele, a UFJF já recebeu cartas de intenção de cinco empresas que desejam se instalar no local. Atualmente, o CIEPTEC abriga uma usina de biodiesel, que transforma óleo de cozinha em combustível para veículos, com capacidade diária para processar três toneladas. O combustível está em fase de teste em veículos da Prefeitura de Juiz de Fora e da universidade. “Vale destacar que o Módulo 2 tem se desenhado como um centro de projeção para energias renováveis”, enfatiza Fabrício.
Fale, por favor, sobre a importância estratégica da Zona Norte de Juiz de Fora para o ecossistema de inovação na cidade.
Pensar o desenvolvimento do ecossistema de inovação de uma cidade significa considerar uma série de aspectos relevantes, dentre os quais destacam-se os espaços que compõem o município. Em Juiz de Fora, um dos espaços com notável potencialidade para a inovação é a Zona Norte, uma região em franco desenvolvimento demográfico e econômico. Em primeiro lugar, destaca-se o fato de que a Zona Norte é a maior região do município, onde concentram-se mais de 100 mil habitantes. Áreas dessa magnitude tendem a ser espaços onde efervescem desafios urbanos complexos, que fomentam a busca por soluções inovadoras. Além disso, essas áreas tendem também a atrair um número maior de investimentos, especialmente na indústria e no comércio. Inclusive, a Zona Norte já é uma região caracterizada pelo desenvolvimento industrial, já que concentra grande parte das indústrias do município, especialmente no distrito industrial, onde está sendo instalado o Módulo 2 do Parque Tecnológico.
Vale considerar ainda que a Zona Norte é uma área com perspectivas relacionadas ao desenvolvimento de atividades de pesquisa e extensão, considerando-se especialmente os planos da Universidade de estender para a região uma série de atividades relacionadas ao conhecimento produzido em seus cursos. Inclusive essa aproximação, especialmente geográfica, entre a academia e o mercado empresarial, tende a facilitar o que chamamos de ‘inovação aberta’, um modelo que fortalece a inovação a partir da criação de parcerias entre empresas e entidades externas, como universidades.
Acreditamos que a instalação do Parque Tecnológico na Zona Norte impactará significativamente o ecossistema de inovação local. Primeiramente, pelo impulsionamento na atração de empresas de base tecnológica e startups, gerando um ambiente propício para a pesquisa, desenvolvimento e inovação. Isso não apenas deve criar novos empregos qualificados, mas também estimulará a sinergia entre a academia, as indústrias e o setor público. Além disso, vale considerar o potencial do Parque na transformação da região em um polo de inovação e empreendedorismo, fomentando o desenvolvimento de soluções tecnológicas voltadas para os desafios específicos de Juiz de Fora e da Zona da Mata.
Considerando a Lei Municipal da Inovação, aprovada recentemente, e as áreas de Especial Interesse, como o Parque Tecnológico na BR-040 se insere neste contexto?
A relação do Parque Tecnológico com o projeto de desenvolvimento tecnológico e econômico de Juiz de Fora existe há muitos anos, desde a concepção do Plano Diretor do município, em 2000 — processo no qual tivemos considerável participação —, e grande parte dos projetos que temos discutido ao longo desse percurso será possibilitada a partir das diretrizes previstas na Lei Municipal de Inovação. Um dos destaques da Lei, sancionada no fim de 2023, é a definição de um corredor tecnológico em Juiz de Fora. É justamente nesse corredor, localizado ao longo da BR-040, entre o trevo da Avenida Deusdedith Salgado até o Distrito Industrial da cidade, que estão inseridos dois dos três módulos que compõem o Parque Tecnológico: o Módulo 2, no próprio distrito industrial, e o Módulo 3, às margens da BR-040.
Há uma relação muito bem definida entre o Parque Tecnológico e as Áreas de Especial Interesse Econômico (AEIE) do município. Primeiro que o próprio Parque Tecnológico é classificado, desde 2010, como uma dessas áreas. Segundo que o objetivo de todas as AEIEs, no geral, é o desenvolvimento econômico e a geração de emprego e renda, e esses fatores são muito caros ao projeto do Parque Tecnológico. Tanto o Módulo 2 quanto o Módulo 3 têm o objetivo de atrair empresas para esse corredor tecnológico, proporcionando, a partir da interação entre a Universidade e as empresas instaladas no Parque Tecnológico, o desenvolvimento de novas tecnologias, relacionadas especialmente às demandas da Zona da Mata mineira.
Nosso entendimento é este: a inovação gera emprego e renda ao expandir ou criar novos setores e indústrias, que oferecem oportunidades em diversas áreas, desde pesquisa até a produção. A introdução de produtos e serviços inovadores expande mercados existentes ou cria novos mercados, aumentando a demanda por profissionais de diversas áreas. Além disso, as inovações tendem a melhorar a produtividade, o que permite que as empresas cresçam e contratem mais funcionários. O Parque Tecnológico aposta exatamente nesses processos como estímulo ao desenvolvimento econômico, com o fim de diversificar e ampliar as fontes de renda em Juiz de Fora e na região.
A propósito, como está o processo de criação do Parque atualmente? Qual é a previsão do início de instalação de empresas?
O processo de criação e implantação do Parque Tecnológico está a todo vapor. Para compreender as etapas pelas quais o Parque tem passado, é importante saber que o projeto se divide em três módulos. O Módulo 1, que é a sede do Parque, fica localizado no campus da UFJF e tem o objetivo de disseminar a cultura da inovação e do empreendedorismo na Universidade. O prédio está em construção e tem inauguração prevista para agosto de 2025.
O Módulo 2, também chamado de CIEPTEC — Centro Integrado de Ensino, Pesquisa, Extensão, Transferência de Tecnologia e Cultura —, consiste em uma área de 44 mil metros quadrados no Distrito Industrial que abrigará empresas de conceito de inovação aberta, especialmente plantas-piloto — um modelo, em escala menor, de processo industrial, testado antes que possa seguir grandes produções em massa. O lançamento do edital para instalação de empresas no Módulo 2 deve ser feito no próximo mês. Inclusive, já recebemos cartas de intenção de cinco empresas que desejam se instalar no local. Vale destacar que o Módulo 2 tem se desenhado como um centro de projeção para energias renováveis.
No local, já está instalada uma usina de biodiesel, que transforma óleo de cozinha em combustível para veículos. A usina tem capacidade de processamento de três toneladas de óleo por dia, e o combustível está em fase de teste em veículos da Prefeitura de Juiz de Fora e da Universidade. Além disso, o Módulo 2 deve abrigar uma usina fotovoltaica, por meio de painéis instalados no teto dos galpões, parceria entre a UFJF e a Prefeitura. Parte das empresas que já manifestaram intenção de se instalar no local também tem atividades relacionadas às energias renováveis.
Já o Módulo 3 ficará localizado às margens da BR-040, próximo ao Expominas, em uma área de mais de 1 milhão de metros quadrados. A ideia desse módulo é abrigar empresas de médio e grande porte, e ele deve funcionar como um parque de quarta geração — um modelo que congrega, no mesmo espaço, atividades de pesquisa, negócios, gestão e infraestrutura. O início das atividades no Módulo 3 tem previsão para 2027, mas o planejamento tem andado de forma integrada com desenvolvimento dos demais módulos.